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Multi, o vira-lata que culpa quem não o adota

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Eu li com atenção a entrevista que o Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multi (finada Multilaser) deu para o Tecnoblog, e é óbvio que o que mais chamou a atenção na fala dele foi a seguinte frase:

“Nós, brasileiros, temos um pouco da síndrome de vira-lata, que é achar que as coisas lá de fora vão ser automaticamente melhores.”

Então… é evidente que isso não é necessariamente uma verdade absoluta.

Porém, quando olho para a Multi como uma empresa de tecnologia, fico com a impressão de que a marca aposta em diferentes segmentos, mas sem efetivamente chamar a atenção em nenhum mercado onde está atuando.

Como se fosse uma marca completamente genérica.

E isso não é exatamente culpa da tal “síndrome de vira-lata” do brasileiro.

 

Desconfie quando a culpa é sua

Sinceramente? Não tenho absolutamente nada contra a Multi.

Entendo que alguns dos seus movimentos foram corretos, como o rebranding e a tentativa de parceria com a HMD (que acabou, e daqui a pouco eu falo sobre isso). E gostaria de ter alguns produtos da empresa para testar, mas a marca finge que o TargetHD.net não existe (diferente da Positivo Tecnologia, sua principal concorrente, que liberou um telefone da Infinix para testes).

Porém, vou utilizar neste caso a mesma regra que adotei para a Motorola, que tentou transferir para o usuário a responsabilidade por praticar obsolescência programada com os smartphones das linhas Moto G e Moto E.

Sempre vou desconfiar quando um fabricante de tecnologia tentar colocar a culpa no usuário para explicar o insucesso de seus produtos ou serviços. Até porque entendo que é obrigação do fabricante convencer o consumidor de que o seu produto é uma boa alternativa quando comparado com a concorrência.

Do que me lembro da finada Multilaser, a marca era de respeito no setor eletrônicos e acessórios de informática. Dentro dos nichos específicos, até entregava bons produtos. Mas nunca teve a capacidade de competir com os gigantes do setor.

Hoje, a Multi tem vários produtos muito interessantes, nos mais diferentes segmentos. E eu não estou brincando: tem até uma moto elétrica que me chamou a atenção.

Mas… eu pergunto: você sabia que a Multi estava produzindo motos elétricas aqui no Brasil? Ou que vendia bicicletas elétricas no mercado nacional?

 

Exato. Nem eu.

 

Não ter um marketing minimamente decente sobre os diferentes segmentos de mercado que a marca está atuando é um problema. E quando descobrimos esses produtos, ou é tarde demais (porque compramos alternativas de outros fabricantes), ou ficam aquém do esperado ou desejado.

E falando especificamente do mercado de smartphones, o quadro tende a ser ainda pior, já que a tal “síndrome de vira-lata” pode ser justificada pela própria Multi, que dá munição para quem se afasta dos seus produtos.

 

Sem a HMD, é melhor a Multi desistir nos smartphones

Apostar no mercado de telefonia é algo que praticamente todas as empresas brasileiras dentro do setor de eletrônicos tentou em algum momento. E em um mercado tão competitivo, poucas marcas prevaleceram.

Ficam basicamente aquelas que ofereceram as melhores opções para o consumidor. Ou que contavam com uma parceria robusta para permanecer no jogo.

Dito isso, a parceria entre Multi e HMD chegou ao fim porque (segundo Alexandre) a empresa que tinha os direitos de utilização da marca Nokia mudou a sua visão de negócio, algo que realmente aconteceu.

Por mais que eu me esforçasse em gostar dos produtos da nova Nokia (que pelo menos entregavam atualizações do Android mais rápido que a concorrência), confesso que nenhum smartphone da HMD realmente me entusiasmou.

E até os mais saudosistas hoje entendem que a Nokia morreu e deve descansar em paz. Ou que é melhor explorar a nostalgia nas revisões de modelos do passado, algo que deve funcionar melhor.

Com isso, a Multi ficou praticamente aleijada no mercado de smartphones. Não é exatamente o caso de ter 1% ou 2% do mercado. É, na prática, não ter mercado nenhum. Pois os telefones com a assinatura da Multi ficam abaixo de qualquer expectativa.

Acessando o site da Multi para revisar os seus smartphones disponíveis para compra, a esmagadora maioria dos produtos disponíveis conta com especificações técnicas de telefones de cinco ou seis anos atrás (ou mais).

E quando um dos seus smartphones mais populares é o Obasmart (um dos poucos com 4G), é sinal de que você não tem produtos para competir com a concorrência.

E aí, a culpa não é da “síndrome de vira-lata”, pois qualquer smartphone fabricado fora do Brasil é melhor do que qualquer modelo disponível para compra no site da Multi neste momento.

E quando as alternativas não são boas, o consumidor não vai escolher o seu produto.

Fato.

 

Será que o problema é “ser Multi”?

Encerro o artigo com esse questionamento.

A Multi está em vários segmentos de mercado, com vários produtos. Alguns mais interessantes do que outros, mas sem um foco claro para um padrão de qualidade ou experiência de uso que reforce a identidade da marca com o consumidor.

Até poderia afirmar que um ecossistema de produtos poderia ajudar nessa identificação do consumidor com a marca e seus dispositivos. Porém, atirar para todos os lados pode ser um problema sério, principalmente quando falta aquela capacidade de manter essa experiência de uso padronizada.

E combinado com um marketing que falha bastante em apresentar essas opções, dá para dizer que o grande problema da Multi nesse momento não é a “síndrome de vira-lata” do consumidor brasileiro.

Até porque, na prática, vários produtos internacionais são melhores do que as opções da Multi, principalmente no segmento de smartphones (que a marca jogou a toalha).

O grande problema da Multi é “ser Multi”.

Ter duas fábricas enormes e produzir uma grande quantidade de produtos não vale de muita coisa se o foco para onde a marca quer seguir não está determinado.

Além disso, o consumidor se lembra da Multi como “marca genérica” justamente por essa tendência em tentar abraçar a todos os segmentos e falhar miseravelmente.

E desistir do mercado de smartphones é sim um duro golpe, pois todo mundo quer uma fatia desse bolo.

Não sei se a Positivo (com a Infinix) quer deixar de ter esses 1% ou 2% do mercado brasileiro. Vai saber qual é a grana que entra dessa porcentagem.

O problema é que a Multi queria ter 1% de mercado de telefonia móvel com os questionáveis ObaSmart, Multilaser G Max e Multi G 3 4G… todos PIORES que o (muito criticado por mim) Galaxy A05.

Moral da história: é difícil para o consumidor não olhar para o pedigree do cachorro importado quando o vira-lata nacional mal consegue latir direito para ser enxergado por um possível dono.


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