A próxima bizarrice do Elon Musk é o Grok, um chatbot que tem um toque de sarcasmo e acesso em tempo real ao X. A plataforma chega para bater de frente com o ChatGPT da OpenAI e do Bard do Google, apostando nessa aposta mais irreverente.
Sei que Elon Musk sabe muito bem qual é o público que ele tem nas mãos com o X, e todo mundo que usa a plataforma também sabe como ela piorou sem os modos de moderação. E olhando para essa perspectiva, o Grok até que tem o seu sentido.
Mas… será que realmente precisamos de um chatbot sarcástico? Ou não seria melhor ter uma plataforma confiável? Ter uma IA bisbilhotando as postagens de todo mundo é mesmo a melhor solução?
Grok pode ser útil… para quem mesmo?
Segundo a xAI, o Grok pretende ser uma ferramenta versátil e útil para pessoas de diferentes perfis e opiniões políticas, além de ser um assistente de pesquisa poderoso. Sua capacidade de responder a perguntas picantes, muitas vezes com tom sarcasmo, destaca uma abordagem única para esse chatbot com Inteligência Artificial.
A trajetória que levou ao desenvolvimento de Grok começa com uma carta aberta liderada por Elon Musk em março de 2023, que chegou a pedir uma pausa no treinamento de sistemas de IA potentes. Agora sabemos que esse discurso foi hipócrita, pois nada mais era do que uma manobra de distração para ganhar tempo na criação de sua própria empresa de inteligência artificial, a xAI.
Musk, em suas próprias palavras, admitiu que a carta foi assinada com a ciência de sua futilidade, apenas para registrar a recomendação de uma pausa. E o lançamento de Grok não faz qualquer menção ao objetivo de criar um chatbot em busca da máxima verdade, algo que Musk havia mencionado anteriormente na tal carta hipócrita.
Diante disso, eu pergunto: é para essa pessoa que você quer confiar os seus dados para treinar uma Inteligência Artificial sarcástica?
Em que ponto o Grok está neste momento
Uma das parceiras da xAI nessa iniciativa é a HP, que segue apostando no desenvolvimento de soluções de hardware para sistemas de Inteligência Artificial. E é cedo para julgar o Grok ou o seu desempenho, mas sua empresa mantenedora reconhece que o chatbot está em uma fase beta inicial, resultado de apenas dois meses de treinamento.
Além disso, alerta para a possibilidade de que seu modelo possa gerar informações falsas ou contraditórias, um problema comum em chatbots. E aqui, só posso imaginar que Musk tenta se esquivar da responsabilidade legal dos possíveis problemas que pode vir a ter com a produção de notícias falsas em massa, que é o que muito provavelmente o Grok pode se tornar sem um devido controle ou moderação.
As plataformas de chatbots precisam citar fontes de informações para serem mais confiáveis para os usuários. ChatGPT, Bard e Bing Chat têm incorporado esse recurso, permitindo que os usuários verifiquem e validem as respostas. Já o Grok parece não seguir essa tendência, o que é bem a cara de Elon Musk.
A escolha da xAI de alimentar Grok com dados do Twitter levanta questões sobre a qualidade das informações fornecidas. A rede social é conhecida por conter desinformação, conteúdo tóxico e bots, algo que só aumentou com a eliminação dos moderadores humanos e a própria postura de Elon Musk em querer uma plataforma que defenda o discurso irrestrito e sem qualquer tipo de filtro ou controle.
Nesse momento, o Grok lembra muito o Tay, um bot conversacional que rapidamente se tornou controverso ao publicar mensagens racistas após seu lançamento. Considerando os problemas de desinformação do Twitter, não é difícil imaginar que o chatbot de Elon Musk faça o mesmo com muita facilidade e rapidez.
E como sou um homem negro, a última coisa que eu quero é um chatbot racista controlado por Elon Musk. Nas mãos erradas, essa pode ser uma arma poderosa.
Uma arma para os discursos de ódio
O problema não é ser politicamente correto neste caso, ou pregar um discurso conservador. Longe de mim. Logo eu, que defendo o fim da monogamia? Estou bem longe de ser conservador.
O grande problema do Grok é que ele é liderado e gerenciado por Elon Musk, um homem que transformou o Twitter em um lugar ainda pior do que ele já é, e agora quer um chatboot sarcástico com enorme potencial de se transformar em uma poderosa arma para extremistas, preconceituosos, racistas, homofóbicos e adeptos da produção de notícias falsas.
Há quem defenda que a liberdade de expressão deve ser irrestrita nas redes sociais. Porém, somos responsáveis por tudo o que falamos e fazemos dentro dessas plataformas. E usar o Twitter como base de dados para o Grok é pedir para ter um potencial arma para a disseminação de discursos destrutivos pela internet.
Qualquer pessoa minimamente racional e com os códigos morais e éticos no lugar vai pensar umas dez vezes antes de utilizar o Grok como fonte de informação para suas pesquisas ou produção de conteúdo. Sinceramente… eu espero que essa IA flope tão rápido quanto a Tay, e que mentes responsáveis saibam como conter essa aberração tecnológica.