Se você estava acostumado a utilizar as músicas de Taylor Swift, Anitta, Ariana Grande, Drake, Ivete Sangalo, Queen e até mesmo The Beatles para fazer dancinhas no TikTok, pode começar a chorar: a partir de amanhã (1), pode esquecer esse catálogo.
A Universal Music Group (UMG), uma das maiores gravadoras do mundo, anunciou que não renovará seu contrato de licenciamento com o TikTok.
A decisão, que entrará em vigor a partir de 1º de fevereiro, afetará milhões de usuários que utilizam músicas da UMG em seus vídeos. E eu vou explicar melhor o que está acontecendo (inclusive para que você tome providências sobre o conteúdo que você compartilha na plataforma).
Por que a Universal Music tomou essa decisão
Em um comunicado oficial, a UMG explicou os motivos que levaram à ruptura do contrato, destacando três pontos principais:
- o uso de inteligência artificial (IA) pelo TikTok;
- a segurança da imagem dos artistas da gravadora;
- e o pagamento de royalties.
Segundo a UMG, o TikTok ofereceu um valor menor do que o esperado para renovar o contrato, alegando que a pandemia afetou seus lucros. E esse argumento da plataforma de vídeos curtos é bem questionável.
Todo mundo que acompanhou de perto o movimento das redes sociais durante a crise sanitária global sabe que o TikTok basicamente explodiu entre os usuários que procuravam algo novo para ver no meio da mesmice de conteúdo.
Com isso, o TikTok ganhou um valor de mercado gigantesco, o que certamente fez com que suas receitas aumentassem exponencialmente.
O máximo que o TikTok pode alegar neste momento é que teve que pagar muito mais dinheiro em comissões do que sequer poderia imaginar antes de seu crescimento. Muitos influenciadores digitais ganharam relevância e visibilidade nos últimos quatro anos, e essa galera tinha que receber o dinheiro da monetização dos conteúdos atrelado à publicidade veiculada.
E no caso específico da Universal Music, é natural que a gravadora tente atualizar os valores negociados antes do TikTok se tornar a rede social mais acessada do planeta.
A inteligência Artificial, mais uma vez, como centro de polêmica
Além disso, a gravadora afirmou que o TikTok não atendeu às suas demandas de direitos sobre as músicas geradas por IA e os direitos dos artistas que têm suas obras utilizadas na plataforma.
A UMG também expressou sua insatisfação com a promoção de músicas criadas por IA pelo TikTok, alegando que isso prejudica os royalties dos artistas reais e desvaloriza a arte musical.
A gravadora disse que a renovação do contrato poderia mitigar esses impactos, mas que o TikTok não demonstrou interesse em negociar.
De certa forma, a Universal Music tenta se proteger de um efeito colateral futuro que vai afetar o mundo da música de alguma forma. Em várias oportunidades, os tiktokers usam versões alteradas de canções comerciais para os seus vídeos, utilizando a IA para burlar os direitos autorais atrelados às obras.
Se a UMG sair vencedora dessa queda de braço com o TikTok, ela constrói um precedente que pode ser aplicado a outras plataformas. Ou vai me dizer que você nunca percebeu que o Spotify também conta com músicas comerciais interpretadas por outras pessoas, apenas para poder ter aquelas músicas em seu catálogo?
Outra preocupação da UMG é com a segurança da imagem dos seus artistas, que podem ser alvo de deepfakes, vídeos falsos criados por IA que alteram o rosto ou a voz de uma pessoa.
A gravadora citou casos de conteúdos adultos falsa e discurso de ódio envolvendo deepfakes e instou o TikTok a adotar medidas mais rigorosas para combater esse tipo de conteúdo.
Pelo visto, não veio resposta alguma por parte do TikTok.
A resposta do TikTok
Em resposta, o TikTok acusou a UMG de ganância (é claro) e revelou que apenas 1% da receita da gravadora provém dos royalties pagos pela plataforma de vídeos curtos.
O TikTok só se esquece que vivemos em um mundo capitalista. Ou seja, todo mundo quer ganhar mais dentro desse jogo. E a plataforma de vídeos ganhou muito nos últimos anos. Logo, tem que dividir o bolo com os coleguinhas.
A rede social disse que lamenta a decisão da UMG e que continuará buscando parcerias com outras gravadoras e artistas independentes. E essa é a saída natural para o TikTok se ele quiser sobreviver de forma sustentável e manter o seu modelo de negócio.
O TikTok também defendeu seu uso de IA como uma forma de incentivar a criatividade e a diversidade musical, mas não menciona (mais uma vez) quais são as medidas que vai tomar para prevenir o uso dessa tecnologia para a criação de deepfakes e materiais nocivos aos indivíduos e minorias.
Esse conflito só será resolvido de duas formas: ou o TikTok esquece que a Universal Music existe e segue em frente, ou paga a mais para seguir usando as músicas de seu catálogo. Não existe meio termo nisso.
Em um passado distante, eu também acusaria a Universal Music de gananciosa. Mas o tempo e a maturidade me fizeram perceber que não existem santos no mundo da tecnologia.
E entendo que o TikTok tem sim que colaborar para manter a roda do mercado girando exatamente do jeito que está. Ou será que a rede social não aprendeu que “dividir é melhor para conquistar”?