Confessa: você nem se deu conta disso, não é mesmo? Na verdade, eu também não me toquei que isso aconteceu até perceber que esse tema poderia se tornar uma boa pauta para um artigo de final de ano.
A Apple teve um ano sólido em 2023, com resultados econômicos que retrocederam ligeiramente, mas mantendo as maiores margens de lucro no mundo da tecnologia.
Mas neste mesmo ano de 2023, a dona Apple obteve esses números positivos sem lançar um novo iPad no mercado. E entender por que isso aconteceu (e o que isso pode significar para o futuro do dispositivo) é mais importante do que se imagina.
Lançamentos de Todos os iPads da Apple
Antes de começar a nossa análise mais aprofundada para entender a ausência de iPads novos em 2023, vamos colocar esse tema em contexto.
A seguir, você tem uma tabela com as de anúncio e lançamento à venda de todos os modelos de iPad até dezembro de 2023.
Nº | Modelo | Anúncio | Lançamento |
---|---|---|---|
1 | iPad (1ª geração) | 27 de janeiro de 2010 | 3 de abril de 2010 |
2 | iPad 2 | 2 de março de 2011 | 11 de março de 2011 |
3 | iPad (3ª geração) | 7 de março de 2012 | 16 de março de 2012 |
4 | iPad (4ª geração) | 23 de outubro de 2012 | 2 de novembro de 2012 |
5 | iPad Mini (1ª geração) | 23 de outubro de 2012 | 2 de novembro de 2012 |
6 | iPad Mini 2 | 22 de outubro de 2013 | 12 de novembro de 2013 |
7 | iPad Air (1ª geração) | 22 de outubro de 2013 | 1 de novembro de 2013 |
8 | iPad Mini 3 | 16 de outubro de 2014 | 22 de outubro de 2014 |
9 | iPad Air 2 | 16 de outubro de 2014 | 22 de outubro de 2014 |
10 | iPad Mini 4 | 9 de setembro de 2015 | 9 de setembro de 2015 |
11 | iPad Pro (1ª geração) 12.9″ | 9 de setembro de 2015 | 11 de novembro de 2015 |
12 | iPad Pro (1ª geração) 9.7″ | 21 de março de 2016 | 31 de março de 2016 |
13 | iPad (5ª geração) | 21 de março de 2017 | 24 de março de 2017 |
14 | iPad Pro (2ª geração) 12.9″ | 5 de junho de 2017 | 13 de junho de 2017 |
15 | iPad Pro (2ª geração) 10.5″ | 5 de junho de 2017 | 13 de junho de 2017 |
16 | iPad (6ª geração) | 27 de março de 2018 | 27 de março de 2018 |
17 | iPad Pro (3ª geração) | 30 de outubro de 2018 | 7 de novembro de 2018 |
18 | iPad Mini (5ª geração) | 18 de março de 2019 | 18 de março de 2019 |
19 | iPad Air (3ª geração) | 18 de março de 2019 | 18 de março de 2019 |
20 | iPad (7ª geração) | 10 de setembro de 2019 | 25 de setembro de 2019 |
21 | iPad Pro (4ª geração) | 18 de março de 2020 | 25 de março de 2020 |
22 | iPad (8ª geração) | 15 de setembro de 2020 | 18 de setembro de 2020 |
23 | iPad Air (4ª geração) | 15 de setembro de 2020 | 23 de outubro de 2020 |
24 | iPad Pro (5ª geração) | 20 de abril de 2021 | 21 de abril de 2021 |
25 | iPad (9ª geração) | 14 de setembro de 2021 | 24 de setembro de 2021 |
26 | iPad Mini (6ª geração) | 14 de setembro de 2021 | 24 de setembro de 2021 |
27 | iPad Air (5ª geração) | 8 de março de 2022 | 18 de março de 2022 |
28 | iPad (10ª geração) | 18 de outubro de 2022 | 26 de outubro de 2022 |
29 | iPad Pro (6ª geração) | 18 de outubro de 2022 | 26 de outubro de 2022 |
A Apple precisava de um iPad novo em 2023?
A Apple está bem, mesmo arrecadando menos. As diferentes divisões de produtos e serviços registraram números relativamente estáveis, e isso começa a explicar a ausência de um novo iPad em 2023.
Mesmo sendo consideravelmente mais caro que os seus concorrentes, o iPhone continua como a principal fonte de receita da Apple, com vendas globais expressivas, apesar de ter uma menor participação de mercado.
Outro segmento que rende boas notícias para a gigante de Cupertino é a divisão de serviços, que inclui iCloud, App Store e Apple Music. Ela sozinha poderia aparecer na lista Fortune 500 devido à sua relevância econômica.
Aqui, não dá para não destacar o trabalho excepcional da Apple, que conseguiu criar “do nada” um modelo de negócio que se torna cada vez mais sólido e sustentável.
Logo, os motivos mencionados acima levantam a questão: “a Apple realmente precisava se dar ao trabalho de lançar um novo iPad em 2023?”.
E a existência deste artigo em si justifica o NÃO como resposta.
Os problemas do iPad em 2023
O iPad é um produto dominante dentro do segmento de tablets, mas enfrentou problemas para se manter sustentável nas vendas. A queda foi de 20% em comparação com os números de 2022, representando apenas 7% dos lucros totais da Apple.
Por outro lado, 2023 é marcado pela ausência de lançamentos na divisão de tablets da Apple, uma pausa significativa desde o último lançamento, em outubro de 2022.
Muitos podem pensar que um novo modelo de iPad poderia promover uma melhora nos números, mas não é bem assim que a banda toca para esse produto e para o segmento de tablets como um todo.
Um tablet está se tornando um produto cada vez mais nichado, com perfis muito específicos de usuários apostando nesse tipo de dispositivo para as tarefas diárias.
O iPad é sim um produto popular dentro do seu segmento, mesmo custando muito mais caro do que os seus concorrentes. E a Apple pode se dar ao luxo de cobrar a mais por ele.
É muito difícil ver qualquer tablet Android chegar perto da experiência de uso proposta pelo produto da Apple. Quem mais se aproxima disso é a família Galaxy Tab da Samsung e, ainda assim, o investimento nele só se justifica quando você tem um ecossistema Galaxy em casa.
Por outro lado, está fazendo cada vez menos sentido para a Apple lançar um novo modelo de iPad por ano, da mesma forma que também não se justifica um modelo novo de MacBook ou iMac a cada 12 meses.
Um iPad pode funcionar bem por vários anos, graças a muito eficiente política de atualizações da Apple. E um tablet é o tipo de produto que pouco tem a evoluir no conceito geral. Ele não tem muito por onde inovar.
Então… por que um novo iPad em 2023 mesmo?
Como pode ser o 2024 para o iPad?
Analistas previam um 2023 desafiador para os fabricantes de tecnologia, mas no terceiro trimestre ocorreu uma recuperação nas tendências de compras, sugerindo um certo otimismo para 2024.
Por outro lado, a Apple criou “um problema para ela mesma” com o iPad sendo tão bom do jeito que é. E eu estou sendo irônico nas aspas (a Samsung gostaria de ter esse tipo de problema).
A durabilidade dos iPads ao longo dos anos contribui para essa dificuldade de vendas que testemunhamos hoje, pois muitos usuários não veem a necessidade de atualizações frequentes.
Ou seja, muito da fidelidade dos usuários à Apple está diretamente associada à qualidade dos seus produtos, e não necessariamente ao investimento em novos dispositivos.
Se por um lado você tem usuários que ficam na marca porque os produtos entregam um enorme valor agregado, por outro lado a Apple deixa de ganhar dinheiro com o iPad pela ausência de capital de giro.
Os usuários não compram novos iPads porque basicamente não precisam, já que o tablet da Apple que tem nas mãos hoje ainda é bom demais para ser trocado, mesmo com alguns anos de uso.
No final de 2023, a Apple contava com cinco modelos do iPad, com variações que tornam a escolha do consumidor mais complexa do que nunca. E esse é outro problema que a empresa precisa administrar.
Os iPads Pro com chip M2 atendem claramente aos usuários profissionais, enquanto o iPad mini oferece uma opção compacta, voltada para os casuais. Contudo, a diversidade na linha de produtos pode confundir os consumidores.
No meio do caminho, existem as versões mais tradicionais do produto, que são maiores, porém, mais aptas para tarefas um pouco mais complexas.
Os usuários profissionais certamente vão escolher os modelos Pro para atender as demandas específicas. Mas os mais leigos tendem a se perguntar qual versão do iPad é aquela que melhor vai atender as suas necessidades mais casuais.
De qualquer forma, 2024 vem aí, e vazamentos indicam algumas atualizações para o iPad Pro, que deve receber o chips M3 e tela OLED, enquanto o iPad Air passará por mudanças significativas na sua proposta.
As chances de a complexidade de escolha do usuário aumentarem são consideráveis, mas ao menos a Apple foi mais consciente ao entender que o mundo não precisa de um novo iPad a cada ano.
O que não deixa de ser um movimento inteligente por parte da gigante de Cupertino de alguma forma. Saltar pelo menos um ano no lançamento de um produto que não é responsável nem por 10% de suas receitas é uma forma de otimizar seus lucros.
E evitar ter prejuízos com a produção de um dispositivo que poderia ficar encalhado nas lojas.