“Spider-Man 2” é um jogo notável que incorpora inovações em relação ao jogo anterior. É, provavelmente, o melhor título exclusivo dentro do catálogo do PlayStation 5, e um game quase obrigatório para quem tem o console de última geração da Sony.
Mas nem mesmo esse jogo inspirado no icônico personagem da Marvel escapa de sofrer o ônus e o bônus de ser o que se é. E até mesmo um jogo excelente pode significar sérios problemas para toda a indústria de videogames, principalmente para as desenvolvedoras de jogos AAA.
Olha, eu não quero jogar água no chope do setor. Mas… “Spider-Man 2” deu tão certo, que virou uma pedra no sapato, entregando um gosto agridoce na boca de muita gente.
O que faz de “Spider-Man 2” um jogo incrível
Agora, o jogo apresenta dois super-heróis aracnídeos, Peter Parker e Miles Morales, com histórias, pacote de habilidades e progresso independentes. É uma abordagem muito diferente do que normalmente os jogos AAA apresentam.
Os dois aranhas contam com desenvolvimento de suas narrativas completamente distintas, o que resulta de forma inevitável em uma experiência de jogabilidade dinâmica e irreverente.
Neste aspecto, o título que mais revolucionou até então foi The Last of Us, e por motivos bem diferentes. Apesar de não tão reflexivo e profundo nos aspectos morais e emocionais, “Spider-Man 2” tende a ser mais acessível pela própria natureza dos personagens centrais.
“Spider-Man 2” também entrega melhorias notáveis no balanço pela cidade e sistemas para agilizar viagens. Os movimentos dos personagens centrais ficaram mais naturais, e o sistema de transporte instantâneo evita a perda de tempo em um detalhe narrativo que é pouco relevante para a história.
E essa agilidade de transporte é mais do que necessária quando olhamos para o seu mapa, que tem o dobro do tamanho do jogo anterior.
Os combates estão mais agressivos com a introdução de parries. Elementos de lutas foram adicionados, com destaque para o ataque sobre a esquiva contínua. E os jogadores mais habilidosos vão se aproveitar disso.
E sua mecânica de jogo ainda inclui atalhos para poderes especiais dos heróis, com novidades como patas mecânicas, os poderes elétricos de Miles Morales e habilidades de simbionte, entre outros.
Com tudo isso, “Spider-Man 2” encontrou sua identidade, saindo das sombras dos jogos “Arkham”. E isso ajuda a explicar a sua popularidade de momento.
E ser popular pode ser um problema neste caso.
O que faz de “Spider-Man 2” um problema para a indústria
Todos esses elementos combinados com uma jogabilidade que melhorou e personagens com grande apelo popular explicam por que “Spider-Man 2” é considerado um título indispensável para o catálogo de exclusivos do Playstation 5.
E quando olhamos para o lado, muitos começam a questionar como será o futuro dos jogos AAA, que parecem depender de melhorias derivativas. Ou seja, as sequências de jogos podem se tornar tendência no mercado de games, tal e como acontece hoje com os cinemas. E isso pode limitar a chegada de novas e irreverentes histórias para os consoles.
Um exemplo do que estou falando está na franquia God of War. Quando comparamos “Spider-Man 2” com God of War: Ragnarok, o jogo da Marvel tende a ser superior, não apenas na narrativa como na capacidade de entregar um design mais coerente com sua proposta e uma experiência de jogo mais compacta e coesa.
Há quem diga que “Spider-Man 2” é uma espécie de “sandbox”, mas sem hubs e missões intermediárias, e sempre oferecendo conteúdos extras valiosos para os gamers.
Mais do que isso: “Spider-Man 2” é uma sequência derivativa que aposta em dois protagonistas com características bem diferentes, oferecendo um dinamismo ainda maior em uma experiência de jogo que ousa ir além de ser uma continuidade de uma história que todo mundo conhece.
E… mesmo assim… o jogo não escapa de receber críticas mais severas.
Alguns analistas sugerem que o desenvolvimento de “Spider-Man 2” ficou “no meio do caminho” do que poderia ser, alegando que o jogo já estava em seu processo de programação antes mesmo de explorar novas ideias que poderiam ser aplicadas em uma mecânica de jogo com dois protagonistas. Ou seja, essa experiência de jogo poderia ser ainda mais revolucionária se essas ideias estivessem no DNA de sua proposta.
Como será o amanhã?
Responda quem puder. E eu não sei se você vai entender essa referência.
É inegável que a indústria dos videogames ainda é muito próspera. Temos diferentes plataformas e propostas de jogos, e as vendas no setor ainda são muito sólidas. Mas a inovação se faz necessária, e o mercado precisa de títulos originais para seguir progredindo.
Onde estão os jogos originais como “Returnal” ou “Hi-Fi Rush”? Por que não recebemos novas histórias? Será que a criatividade no mundo dos videogames morreu, da mesma forma que aconteceu com a indústria do cinema?
Tudo parece indicar que a indústria dos videogames está apontando para o perigoso caminho das continuações e franquias com personagens consolidados, e o sucesso de “Spider-Man 2” é um indício claro desse movimento. Uma alegada falta de inovação e ousadia nesse jogo pode representar a aposta no caminho seguro para garantir as vendas, mas ao mesmo tempo reduzem as possibilidades de grandes desenvolvedores em oferecer novas narrativas e perspectivas para os jogadores.
De alguma forma, é uma evolução na indústria dos videogames. Mesmo que o gosto agridoce fique na boca.
Inclusive dos jogadores mais exigentes.