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Como um notebook lotado de malwares vira “uma obra de arte” milionária

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Arte é algo subjetivo, e todo mundo sabe disso (ou deveria saber). Eu mesmo não consigo chamar de “arte” aquilo que o Romero Britto faz. Mas não tenho o direito de criticar você por achar o que ele faz algo bonito ou artístico.

(Mas secretamente eu vou te criticar, e você sabe disso).

No mundo da tecnologia, também existem algumas esquisitices que chamam de obra de arte, apesar de alguns conceitos serem bem legais. Por exemplo, vários celulares do passado desmontados em forma de quadro é algo que eu teria na sala do meu apartamento.

Mas neste caso, quero resgatar algo que aconteceu em um passado não muito distante: um notebook lotado de malwares e vírus que foi leiloada como uma obra de arte, arrecadando um preço obscenamente milionário.

 

Um contexto histórico relevante

Em 2019, um leilão online chamou a atenção de todos ao vender um laptop Samsung antigo com Windows XP, infectado com seis das ameaças cibernéticas mais perigosas da história da tecnologia.

Eu sei que você vai se perguntar por que alguém gostaria de ter um equipamento como esse em casa. Mas se você pensar que existe um perigoso contexto histórico no equipamento, o valor agregado do notebook tende a subir.

A obra, intitulada “A Persistência do Caos”, foi vendida por $1.345.000, com a condição de que o comprador reconhecesse que estava adquirindo “arte” e não uma bomba de malwares armazenada em um notebook, devido à ilegalidade da venda de software malicioso nos Estados Unidos.

Aqui, veja como flertar com algo ilegal já faz com que esse algo se transforme em algo mais caro do que um simples computador infectado. Isso pode dar outra perspectiva para o notebook do seu avô, que adora passar as madrugadas visitando sites adultos de procedência duvidosa, bem longe dos olhos de sua avó.

E quando olhamos para a lista de malwares presentes nessa obra de arte, entendemos melhor por que ela foi leiloada por um valor milionário. Se soltam esses vírus por aí, o estrago poderia ser enorme.

 

Do WannaCry ao ILoveYou

Entre as ameaças contidas no laptop leiloado estava o infame ransomware WannaCry, conhecido por seu impacto global. Me lembro que essa ameaça cibernética foi fonte de enormes dores de cabeça para milhões de usuários de computadores ao redor do mundo, com efeitos colaterais que produziam nas vítimas a tal vontade de chorar (literalmente) quando eram infectados por ele.

O WannaCry aproveitava uma vulnerabilidade do Windows XP, sistema operacional desprovido de suporte e atualizações há vários anos, mas muito utilizado em sistemas informáticos mais antigos, como bancos, aviões comerciais e até mesmo em usinas nucleares.

Tudo isso levou a Microsoft a lançar uma atualização extraordinária para um sistema operacional obsoleto, tamanha a gravidade do problema. Sem falar nos vários tutoriais que produzimos para falar sobre o assunto e tentar ajudar aos usuários que ainda mantinham o Windows XP ativo nos equipamentos.

A Persistência do Caos (obra de arte) também abrigava o worm ILoveYou, famoso por sua propagação massiva por e-mails nos anos 2000.

Com mais de 50 milhões de computadores afetados e mais de $5 milhões em danos, o ILoveYou é um lembrete da fragilidade dos sistemas de comunicação em massa, como são os e-mails.

Muitas pessoas que eu conheço foram vítimas do ILoveYou, e podemos dizer que esse worm foi o responsável por iniciar uma nova fase na proteção de endereços de correio eletrônico na internet.

O MyDoom é mais um worm presente no laptop, e se propago rápido por e-mails quando apareceu. E aqui, eu entendo que existe um certo fascínio ou propensão dos usuários a serem vítimas desse tipo de ameaça com uma certa frequêcia.

E estamos falando de um worm com anos de existência. Ou seja, desde sempre a prática de manipulação de coletivo através de métodos como engenharia social e SPAM estão presentes na internet, o que reforça os cuidados que precisamos ter para não nos tornarmos vítimas constantes desse tipo de ameaça digital.

Vale como registro: o MyDoom ainda detém o recorde de ser o malware que se propagou mais rapidamente por e-mail na história.

A lista de ameaças na Persistência do Caos se completa por célebres capítulos de pequenas tragédias da era conectada em forma de Worms e malwares que tiraram o sono de todo mundo no passado.

Por exemplo, o malware de fraude financeiro Dark Tequila, o worm Sobig que afetou milhões de computadores com Windows entre 2002 e 2003, e o malware BlackEnergy, utilizado desde 2007 em ataques DDoS e ransomware. Este último até causou apagões em empresas de energia na Ucrânia em 2015.

 

O que aprendemos com tudo isso?

Boa pergunta.

O simples fato de alguém considerar um notebook cheio de ameaças virtuais como uma obra de arte é algo bem esquisito (para dizer o mínimo), e mostra mais uma vez que a beleza é subjetiva. Quem sabe admirar o excêntrico também pode ser considerado bonito de se ver.

A relação entre a arte e a tecnologia sempre vai levantar questionamentos de perspectiva, deixando em aberto a validade e apreciação do que é ou não relevante dentro do campo estético ou artístico.

Mas uma coisa é certa: você, usuário de computador ou smartphone, é um dos principais responsáveis pela segurança dos seus equipamentos e dos dados compartilhados na grande rede mundial de computadores.

Você até pode tentar conciliar o caos tecnológico com a apreciação artística. O recado subliminar de “toda a modernidade pode estar conjugada com a vulnerabilidade de nossos dados” é válido.

Agora… daí a achar que deixar o seu notebook vulnerável para vírus e ameaças, ou interpretar que ter os seus dados roubados são elementos tão representativos quando um quadro de Van Gogh…

Me desculpe, mas… neste caso, você está achando errado!


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