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Como as redes sociais contribuíram para o terrorismo político no Brasil

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Bom… eu nem preciso me estender em maiores explicações sobre tudo o que aconteceu ontem (8) em Brasília. Mas para quem ainda não entendeu, vale a pena uma breve explicação, se é que dá para resumir tudo em um parágrafo.

Um atentado terrorista executado por golpistas e criminosos resultou na invasão e depredação generalizada do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e prédio do Supremo Tribunal Federal, vindo de pessoas que não contam com o mínimo de respeito à democracia, atacando de forma direta os três poderes da nação.

É importante entender como as redes sociais contribuíram para que todo o caos de ontem explodisse de forma tão forte. E é sobre isso o que vou falar neste conteúdo.

 

Inspirado na invasão ao Capitólio em 2021

É importante colocar um contexto para a narrativa sobre os eventos de ontem.

Tudo o que aconteceu foi inspirado no ataque ao Capitólio norte-americano, realizado em janeiro de 2021. Na época, terroristas incentivados pelo agora ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump decidiram invadir o local onde estava acontecendo a sessão de oficialização dos resultados das eleições presidenciais do país, confirmando Joe Biden como vencedor.

O motivo para que o terrorismo acontecesse é semelhante ao aplicado no Brasil: um grupo simplesmente não aceitando o resultado das eleições. De forma curiosa, os revoltados nos Estados Unidos não acreditavam no sistema de votação do país, que adotava cédulas de papel e até voto pelo correio. E no Brasil, os terroristas não acreditam no sistema de votação por urna eletrônica, um dos mais seguros e eficientes do mundo.

Logo, perceba que o problema não está no método de votação, mas sim no desejo de uma parcela da população em não querer de forma alguma respeitar a alternância de poder em um processo democrático. Mas este não é o principal foco da discussão deste conteúdo.

Nos dois casos, os grupos antidemocráticos não apresentam provas substanciais de fraude nas eleições, e pautam seu sentimento de revolta naquilo que expressam os seus respectivos líderes políticos. Tanto Donald Trump como Jair Bolsonaro se manifestaram contra o processo eleitoral, mas sem apontar provas de suas acusações.

E nos dois casos, as redes sociais foram decisivas para que o ataque terrorista coordenado fosse bem sucedido. No caso do Brasil, a maioria da população sabia que tudo isso poderia acontecer, pois acompanhou todas as movimentações dos articuladores golpistas nas principais plataformas.

O único que “não percebeu isso” foi o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

 

Como os criminosos se organizaram

Nas semanas prévias aos violentos ataques às instituições democráticas brasileiras, as redes sociais estavam lotadas de convocações para as caravanas de ônibus e comunicações de articulação para ataques à diversas infraestruturas públicas e privadas.

Isso não era um segredo de estado. Diversos grupos do WhatsApp e do Telegram foram utilizados por terroristas para articular as movimentações para esse e outros ataques, e vários veículos de imprensa independentes compartilharam esses conteúdos em seus respectivos veículos, na tentativa de alertar para o que estava acontecendo.

Ou seja, as autoridades não podem alegar que não foram alertadas sobre o que estava acontecendo, muito menos afirmar que não conseguiam dimensionar o potencial do que estava por vir. Isso não pode ser encarado como uma enorme falha da Secretaria de Segurança ou dos serviços de inteligência.

Não dá para chamar de incompetência o que aconteceu ontem. Principalmente quando alguém dá uma ordem para a polícia militar do Distrito Federal escoltar os terroristas por oito quilômetros até Brasília.

Influenciadores digitais e criminosos que não aceitam o resultado das eleições presidenciais no Brasil se tornaram muito ativos nas redes sociais dias antes dos ataques. E era muito fácil encontrar nos grupos nas plataformas de comunicação instantânea datas, horas e trajetos das famigeradas “Caravanas da Liberdade”.

Ou seja, está muito fácil para as autoridades identificar cada uma das células criminosas que foram formadas para ameaçar a democracia.

O ativismo online financiado (sim, pois já é de conhecimento público que tudo foi pago por outros criminosos que precisam ser responsabilizados pelo caos promovido) culminou com o desembarque de centenas de ônibus lotados em Brasília. E esse grupo de criminosos invadiu e vandalizou os prédios das instituições democráticas, instaurando o clima de medo e revolta que o Brasil vive neste momento.

 

Todos foram avisados

Analistas políticos brasileiros passaram muito tempo alertando para o risco iminente de um incidente semelhante ao que aconteceu no Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021 ocorresse aqui no Brasil.

Ao longo dos últimos seis anos, as redes sociais brasileiras ficaram lotadas de desinformação. Blogs, sites independentes, grupos de WhatsApp e até mesmo plataformas da mídia tradicional como a Jovem Pan começaram a disseminar notícias falsas e narrativas distorcidas para manipular parte da população.

E quando a extrema direita perdeu as eleições presidenciais em 31 de outubro de 2022, os criminosos contra a democracia se tornaram ainda mais ativos nas plataformas digitais.

Toda essa manipulação tem um método. Não é apenas a informação que é manipulada, mas os algoritmos das plataformas. Por exemplo, no TikTok, para cinco de cada oito resultados de pesquisa para a palavra-chave “cédulas”, as sugestões automáticas oferecidas para a plataforma eram para resultados como “cédulas fraudadas”.

Facebook e Instagram direcionaram milhões de usuários para que pesquisavam por termos relacionados às pesquisas eleitorais para grupos e publicações que questionavam a integridade do voto.

No Telegram, grupos de organizações criminosas de extrema direita viralizaram vídeos com afirmações falsas relacionadas ao atual presidente, Luís Inácio Lula da Silva. Tais vídeos e grupos foram excluídos por decisão judicial, mas depois desse conteúdo alcançar a milhões de pessoas.

O Twitter em particular é um local onde um grande grupo de influenciadores de direita disseminavam conteúdos golpistas e informações falsas, e suas contas foram banidas no Brasil. Então, esses mesmos influenciadores decidiram migrar para o TikTok, onde o sistema de moderação é um pouco mais débil.

Por fim, mensagens pedindo um golpe militar com hashtags em apoio à Jair Bolsonaro foram compartilhadas ao longo de meses, alegando sem qualquer tipo de provas que as eleições presidenciais foram roubadas, acusando uma fraude eleitoral que jamais foi comprovada.

 

Denuncie quem participou dos atos terroristas em Brasília

O Ministério da Justiça e Segurança Pública criou o e-mail [email protected] para receber informações sobre os terroristas que atacaram os prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) neste domingo (8/1). Mais de 1.500 vândalos que participaram da depredação ou estavam em acampamentos golpistas em Brasília já estão presos.

Se você possui fotos e vídeos de vândalos criminosos que podem ser identificados ou informações que podem ajudar a Justiça responsabilizar aqueles que atentaram contra a democracia, faça um favor ao coletivo e denuncie. Encaminhe todo o material que for compartilhado nas redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas.

Todos que se envolveram de forma direta ou indireta no ataque terrorista do último domingo precisam responder pelo crimes cometidos.

 

Em defesa da democracia

Sinceramente? O Brasil não aguenta mais.

Não podemos virar refém de uma geração que é imatura e não aprendeu a perder. De um grupo de pessoas que se vale da ausência de pensamento para tentar impor para outro grupo o seu desejo à força.

O Brasil não pode ser refém de um grupo de criminosos, que não respeita a Constituição e uma democracia que é frágil, mas que custou tanto para que fosse conquistada.

Sempre defenderemos que a vontade da maioria seja respeitada, tal e como vem acontecendo no Brasil desde 1989. Não podemos nos curvar para um grupo violento, revanchista e covarde.

É inaceitável que o Brasil flerte com o autoritarismo, o preconceito, a hipocrisia e o desejo irracional de estabelecer uma política extremista. Que os responsáveis por todos os atos criminosos de Brasília ocorridos ontem sejam identificados, responsabilizados, presos e punidos.

E que as instituições democráticas saiam fortalecidas após a mais grave ameaça à democracia brasileira em mais de 30 anos.

Por fim, fica a observação pertinente: a Polícia Militar do Distrito Federal “escoltou” criminosos golpistas até Brasília, em um grupo majoritariamente composto por pessoas brancas de classe média. Me questiono por que a mesma Polícia Militar não demonstra a mesma empatia e respeito quando um preto e pobre é violentamente espancado e morto em ações das autoridades, ou quando professores decidem reivindicar por melhores salários.

Façamos uma reflexão sobre essa explícita diferença de tratamento.


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