Era algo inevitável.
Os jogos de videogames com histórias bem elaboradas e diálogos envolventes passaram a fazer parte da realidade prática dos jogadores nas últimas gerações de consoles e títulos. E a criação dessas narrativas normalmente envolve equipes talentosas de artistas, escritores e designers de missões, que dedicam meses ou anos para dar vida a essas experiências.
Mas até essa galera pode estar com o seu emprego ameaçado a partir de agora. A Microsoft anunciou uma parceria com a Inworld, que poderá alterar drasticamente a forma como os videogames são desenvolvidos, já que a Inteligência Artificial deve assumir todo o controle criativo e de desenvolvimento dos enredos dos jogos.
Como essa parceria vai funcionar?
Essa colaboração visa criar ferramentas de IA narrativas para os desenvolvedores de jogos para o Xbox, com o objetivo declarado de produzir “jogos ainda mais extraordinários”. E na teoria, tudo é lindo. Na prática, é sim uma decisão polêmica.
Os profissionais envolvidos no desenvolvimento de jogos de videogames (designers, programadores, criativos, etc) estão flertando com a possibilidade de uma greve semelhante à que já afetou a indústria cinematográfica, justamente para estabelecer regras de controle sobre o uso de plataformas de IA no processo criativo dos games.
O objetivo aqui é o mesmo de roteiristas e atores contra a indústria de Hollywood: estabelecer parâmetros sobre o uso das tecnologias de IA generativas no processo de desenvolvimento dos jogos. O maior temor dos profissionais é a substituição completa do elemento humano para a adoção dos chatbots.
Duas ferramentas para otimizar o processo
Embora a integração de IA em videogames não seja novidade, o movimento da Microsoft promete uma implementação mais profunda e abrangente no processo. A empresa planeja disponibilizar duas ferramentas fundamentais para os desenvolvedores de jogos, cada uma destinada a aprimorar aspectos específicos da narrativa e do design dos jogos.
Uma dessas ferramentas é o “Copilot de design de IA”, projetado para inspirar a criatividade da equipe de desenvolvimento por meio de instruções textuais. Por meio do uso de prompts, os desenvolvedores poderão criar scripts detalhados, árvores de diálogo, missões e outros elementos essenciais para seus projetos.
O que a Microsoft está propondo é a oferta de um chatbot que ajuda a automatizar o processo mais pesado de desenvolvimento dos jogos. Substituir complexas linhas de código por comandos que podem escrever essa programação automaticamente, através da descrição do que o profissional quer que o jogo faça.
A Microsoft mantém detalhes específicos sobre o funcionamento do Copilot para Xbox em sigilo, mas sugere que ele será otimizado para as necessidades exclusivas dos videogames, apresentando vantagens em relação a soluções como o ChatGPT.
A segunda solução apresentada pela Microsoft é o “Motor de tempo de execução de personagens de IA”, uma ferramenta que pode ser integrada diretamente no cliente de jogos.
Essa integração permitirá aos desenvolvedores acessar histórias, missões e diálogos gerados dinamicamente, levando a uma mudança significativa na forma como esses elementos são criados. A mecânica precisa dessa abordagem não foi revelada, despertando dúvidas na comunidade de profissionais sobre qual será a influência ou o envolvimento dessas plataformas no processo criativo dos jogos.
É importante destacar que essas ferramentas não serão exclusivas para estúdios de jogos do Xbox, pois a Microsoft pretende disponibilizá-las também para estúdios de terceiros, promovendo a acessibilidade da tecnologia de IA na criação de jogos. E isso me parece algo bem lógico e racional por parte da gigante de Redmond, que precisa recuperar tanto investimento feito nessas plataformas de chatbots.
A Microsoft está investindo muito dinheiro nos recursos de Inteligência Artificial. Além do segmento de programação de jogos, as soluções da OpenAI estão presentes em versões alternativas do Copilot, que nada mais são do que formatos customizados e potencializados do ChatGPT que atuam em conjunto com produtos como Bing, Windows e Office.
Os criativos vão perder os seus empregos?
Eu espero que não. Mas como existem executivos gananciosos em todos os setores, não dá para duvidar que existe sim uma ameaça para desenvolvedores e profissionais criativos do mundo dos games.
O uso da IA no desenvolvimento dos jogos de videogames já era uma realidade prática. Os jogos estão cada vez mais difíceis porque plataformas inteligentes aprendem com o padrão dos jogadores e deixam as narrativas cada vez mais complexas.
O aprofundamento da influência dos chatbots na programação dos jogos proposto pela Microsoft pode não apenas automatizar o processo de programação dos jogos (colocando em risco o emprego de muitos profissionais), como também pode deixar os títulos ainda mais impossíveis de serem jogados pelos gamers menos experientes.
É claro que eu defendo a inovação e o uso da IA no desenvolvimento de jogos. É bem provável que mais títulos desembarquem no mercado com o passar do tempo. Mas o elemento humano não pode ser desprezado.
O Copilot vai desembarcar no Xbox de forma inevitável. E os programadores que se preparem para se adaptar à ele.