Parece que agora foi. Acabou, Brasil!
A Microsoft obteve aprovação final para adquirir a Activision Blizzard King, concedida pelo regulador britânico CMA. Com isso, a gigante de Redmond pode dizer aos quatro ventos e para quem quiser ouvir que possui o maior catálogo de jogos de videogames do planeta.
Não que a Sony vá necessariamente se colocar em posição fetal para chorar e gemer de medo a partir de agora. Mas o ativo que a Microsoft construiu para o Xbox é enorme. A ponto de ser necessário parar e refletir sobre tudo o que está por vir a partir de agora.
CMA até quis embaçar o rolê da Microsoft
Vamos por partes.
O processo de aprovação da compra na CMA foi concluído três semanas após a aprovação provisória que foi anunciada na imprensa. De acordo com as fontes diretamente ligadas com o assunto, não houve alegações relevantes durante o período de revisão do processo, e a operação de compra estava prevista para ser concluída hoje, 13 de outubro de 2023.
E essa notícia é até uma lástima para os organizadores da Brasil Game Show (BGS). Se a Microsoft/Xbox se organizasse direitinho, poderia ter feito o anúncio da conclusão da compra da Activision Blizzard King no evento brasileiro, o que seria algo incrível. Nosso país seria o grande holofote da grande notícia do ano no mundo dos videogames.
De qualquer forma, o anúncio da conclusão da compra encerra um processo que durou quase dois anos, e que poderia ter se encerrado antes. Um novo prazo para a conclusão do processo na CMA foi estabelecido em julho, estendendo o prazo inicial projetado pela Microsoft.
Como era de se esperar (e seria um absurdo se a declaração fosse diferente), diretores da Microsoft e da Activision Blizzard King expressaram satisfação com a aprovação, o que pode ser classificado como alívio por parte dos envolvidos.
E você deve pensar que, com o anúncio da conclusão da compra, que essa questão está resolvida, certo?
Então… não é bem assim, por incrível que pareça…
Terminou, mas… não acabou?
O jogo só acaba quando termina, e o “game over” dessa compra ainda não aconteceu.
A FTC dos EUA reativou o julgamento interno sobre a aquisição da Activision Blizzard King por parte da Microsoft. Esse julgamento interno visa determinar a conformidade dessa aquisição com as leis dos EUA, e o órgão regulador norte-americano ainda não está completamente satisfeito com os termos e condições da transação.
Quem comemora com a reabertura desse processo é a Sony, que está realmente preocupada com o fato de perder franquias que são relevantes para os usuários do PlayStation, mesmo não sendo exclusivas. Para os japoneses, parece estar bem claro que perder a franquia Call of Duty pode ser um enorme desastre para eles.
E neste caso, a FTC vai ter que agir como uma espécie de Kratos para a Sony. E eu nem sei se essa metáfora pode ser considerada válida.
De qualquer forma, é importante deixar claro que a conclusão da aquisição de forma oficial não encerra completamente o processo nos Estados Unidos, e a FTC ainda pode embaçar o rolê da Microsoft, mesmo após a conclusão da compra.
O que pode ser pouco provável a essa altura do campeonato é um “voltar atrás” nessa aquisição. É tecnicamente seguro afirmar que a Activision Blizzard King é da Microsoft. O negócio só será desfeito se as duas partes desistirem. E em qualquer coisa que envolve essa montanha de dinheiro materializada em US$ 68,7 bilhões, fica bem difícil ter espaço para arrependimentos.
Até porque algumas pessoas envolvidas não vão se arrepender em contar tanto dinheiro assim.
O timing perfeito para a compra
É importante ter em mente que Phil Spencer foi muito estratégico na hora de realizar o movimento de compra da Activision Blizzard King. Não houve momento melhor para fazer isso. E até desconfio que, se ele esperasse mais um pouco, a Sony teria alguma chance de realizar a compra antes da Microsoft.
Digo isso porque, quando começaram os rumores de compra por parte da Microsoft, a Activision Blizzard King enfrentava sérios problemas em sua estrutura interna, principalmente por causa da cultura tóxica laboral que foi denunciada por atuais e ex-funcionários da desenvolvedora de games.
As revelações sobre a cultura de trabalho construída e mantida pela Activision Blizzard King levantaram críticas diversas de toda a comunidade gaming. Incluindo Phil Spencer, que fez algumas das declarações mais severas.
E é claro que esse barulho todo fez com que o valor de mercado da Activision Blizzard King despencasse. Muitos entendem que o valor pago pela Microsoft para adquirir a empresa foi até elevado demais quando observado o cenário geral e, em particular, a postura de escrutínio de Bobby Kotick, CEO da Activision, que deixou o cenário chegar nesse ponto.
Mas olhando para todas as franquias envolvidas e para o cenário futuro que se apresenta, a Microsoft fez um investimento decisivo para bater de frente com a Sony e dominar um setor importante no segmento dos videogames: a oferta de jogos para os gamers que aderiram aos serviços de assinatura.
Microsoft, a Netflix do mundo dos videogames
É muito difícil fazer uma previsão de futuro, e não sou eu que vou me atrever a fazer isso com a certeza de que estou certo sobre o que estou falando. Mas é correto dizer que FINALMENTE a Microsoft construiu a sua Netflix no mundo dos jogos.
O catálogo é o mais robusto, em um serviço muito eficiente como o Xbox Game Pass. E como o EA Play ainda está atrelado aos planos mais caros de assinatura e os jogos na nuvem seguem avançando de forma sustentável, o Xbox passa a oferecer uma proposta muito sustentável e completa, desafiando a concorrência a entregar o mesmo.
E para os mais ansiosos, fica a dica: a Microsoft já confirmou que os jogos da Activision Blizzard King desembarcam no Game Pass em 2024. Não há um prazo especificado para isso acontecer, mas ao menos está certo que o “só vem” já começou.
A Sony conta com os melhores exclusivos do mercado, mas não sei se esse argumento será sustentável por muito tempo. Existe um limite para esse argumento da exclusividade, e a Microsoft certamente vai trabalhar com isso no seu marketing.
Sem falar que, com o passar do tempo, os jogos da Activision Blizzard King se tornarão exclusivos para os usuários Xbox, que vão receber os lançamentos no dia 1. E a galera da Sony tende a olhar para o vizinho com ar de inveja combinada com descontentamento.
Não. A novela da compra da Activision Blizzard King por parte da Microsoft ainda não acabou. Mas anunciar a conclusão da compra é uma espécie de “fim”.
Ainda tem uma cena pós-créditos. Mas não imagino um plot twist nessa história. Entendo que, dessa vez, o negócio foi concluído. E não tem volta.