A Humane está sendo massacrada por causa do AI Pin, o dispositivo que prometeu acabar com o smartphone com a ajuda da Inteligência Artificial (IA), mas que não serve para absolutamente nada na prática.
O movimento de rejeição ao produto foi quase unânime: The Verge, Wired, Engadget (que, de forma rara, afirmou que o AI Pin é “um lixo”) e até o Marques Brownlee classificou o dispositivo como “o pior produto que testou em toda a sua vida (até agora)”.
Toda essa reação começa a afetar de forma direta a Humane, que recebeu US$ 230 milhões de investimentos, mas pode ser soterrada antes do que ela poderia imaginar. E alguns estão questionando se as reviews podem acabar com as empresas de tecnologia.
Eu diria que a culpa é dos produtos que essas empresas lançam. Mas… vamos desenvolver melhor essa discussão.
O papel das reviews
Vamos partir do básico: afinal de contas, o que é uma review?
Uma review é a simples opinião de alguém sobre um produto após usá-lo. É a impressão pessoal sobre o dispositivo, apontando os pontos positivos e negativos e a experiência prática com aquele item.
Tenho 16 anos de experiência no segmento de tecnologia, e posso afirmar que a review é sempre o conteúdo mais procurado pelos leitores do blog e audiência no canal de vídeos do TargetHD.net. E as marcas sabem disso.
E essa análise opinativa acaba influenciando a decisão de compra (ou não) de um determinado produto ou serviço, pois quem está mais antenado em tecnologia ou até mesmo aqueles que são leigos no assunto querem saber o que aquelas pessoas que testaram o produto pensam sobre ele.
Eu nem precisava escrever isso, mas… só para deixar claro: reviews honestas são essenciais para um ecossistema saudável de avaliação de produtos. E aqui, eu não estou falando apenas da decisão do consumidor.
As reviews podem ser usadas para melhorar produtos. Aquelas marcas mais conscientes e responsáveis compreendem que as críticas que os especialistas em tecnologia apontam são oportunidades para deixar o dispositivo mais alinhado com aquilo que o usuário espera e merece receber do dispositivo.
Pois só fica parado nesse mundo quem é poste.
A ética nas reviews
Agora que sabemos que o principal motivo para a produção de uma review é para que o consumidor se informe sobre o produto que pretende comprar, chegou a hora de se aprofundar um pouco mais sobre a relação entre a opinião autêntica e os interesses das marcas.
A análise sobre as características do produto é base para a criação dos mais diferentes tipos de conteúdo, pois as reviews precisam atender a um público amplo, que inclui inclusive aqueles que não pretendem comprar aquele item (e querem reforçar as convicções da decisão identificando outros pontos negativos sobre o dispositivo).
Logo, é de fundamental importância que o produtor de conteúdo faça reviews honestas e informativas. Essa é uma prioridade que precisa ser abraçada como bandeira editorial. Sem ela, todos o ecossistema de análise de produtos é prejudicado.
Bem sabemos que existem produtores de conteúdo que entregam reviews tendenciosas, muito em partes por influência das marcas e suas assessorias, que “pautam” a análise para enfatizar os pontos positivos do produto e omitindo ou relativizando os aspectos negativos (que muitas marcas sabem que o produto tem).
O mundo perfeito pede que você não tenha vínculos financeiros com as marcas, mas bem sabemos que receber a unidade do produto e não precisar devolver é uma forma de “pagamento” pela publicidade no site.
De qualquer forma, aprenda a diferenciar uma REVIEW de um ARTIGO PATROCINADO. E dê prioridade para os sites que entregam transparência neste aspecto da publicação.
Uma review pode acabar com uma empresa?
Depois de todo o contexto, vamos responder a pergunta que dá titulo para este artigo.
E a resposta é… NÃO. Um único review dificilmente derruba uma empresa. Um arsenal de avaliações negativas sobre o mesmo produto aumenta as chances de manchar a imagem de uma marca de forma definitiva.
Mas nos dois casos, a principal culpada pela reputação negativa é A PRÓPRIA MARCA, que lança no mercado um produto ruim e problemático (e em alguns casos, não contam com a capacidade ou boa vontade em reconhecer isso).
Eu mesmo passei por isso recentemente.
Teve uma marca que queria que eu conversasse com o seu executivo antes que eu publicasse a versão final da review, na tentativa de modificar as minhas impressões sobre o produto. Isso aconteceu porque as primeiras impressões sobre o dispositivo não foram das mais favoráveis (na opinião da marca)
Recusei, com o argumento de que os usuários não teriam a chance de conversar com o executivo quando os eventuais problemas que detectei aparecerem no uso prático, e a própria marca poderia dar essas explicações no seu material promocional em site oficial, para deixar o consumidor informado sobre as características do dispositivo.
Era um direito meu apresentar o produto da forma mais autêntica possível.
Reviews negativas refletem problemas reais do produto, e isso precisa ser observado, tanto pelo consumidor quanto pelos responsáveis por oferecer um dispositivo tão ruim.
Análises que apontam problemas similares em um dispositivo e outros fatores que vão além da superficialidade das características técnicas merecem uma maior atenção, pois podem revelar anormalidades ainda maiores, dependendo do perfil do usuário que pretende utilizar o dispositivo.
Por fim, as reviews não existem para prejudicar empresas. E as marcas que se escoram nessa prerrogativa são vitimistas e fecham os olhos para os problemas dos seus produtos.
Nós, produtores de conteúdo, sempre vamos apoiar a inovação. E as reviews são a maneira mais eficiente em manifestar esse incentivo. Reviews negativas apontam as falhas a serem corrigidas em um produto, e as marcas precisam encarar essas críticas como uma oportunidade de melhorar e crescer.
Não, amigo leitor… não existe um complô contra a Humane ou uma formação de cartel para criticar o AI Pin em massa. O produto é ruim mesmo, e não serve para nada.
E a Humane que lide com isso.