E lá vou eu mais uma vez falar do campo de distorção da realidade da dona Apple em seus produtos.
Uma série de surpresas desagradáveis acompanhou o lançamento dos novos chips M3, M3 Pro e M3 Max nos computadores portáteis MacBook Pro. Entre essas surpresas, destaca-se o custo exorbitante das ampliações de capacidade de RAM e armazenamento, que custam o olho da cara apenas porque são “exclusivos” para os computadores da Apple.
O mais bizarro de tudo isso é que a inicial desses dispositivos supostamente voltados para profissionais estabelece como “padrão” os 8 GB de memória unificada, o que passa bem longe de ser um valor aceitável para um produto “Pro” no Windows, que pede pelo menos 16 GB de RAM.
O que está acontecendo neste caso, dona Apple?
Por que facilitar se eu posso complicar?
Para começo de conversa, a dona Apple optou por integrar a memória unificada ao System on a Chip (SoC), impossibilitando a expansão da RAM após a compra. Ela não é a única a fazer isso, e essa é a solução adotada pelos fabricantes para entregar notebooks ultrafinos.
Mesmo assim: os usuários não podem personalizar e melhorar o notebook ao longo do tempo, obrigando a escolha pela memória limitada logo de cara, ou pensar no futuro e investir em um notebook com configurações mais pesadas… e pagando muito a mais para a Apple, que fecha o seu sistema de todos os lados.
Por outro lado, ter 8 GB de memória em um computador Mac não é o fim do mundo. Dá para ser bem produtivo com essas especificações de hardware. A prova disso é o Mac mini M1, que tem 8 GB e é fluído nas tarefas diárias, inclusive na edição de vídeos em resoluções de 1080p e 4K no DaVinci Resolve.
Isso é possível por causa da eficiência dos processadores da Apple trabalhando com o macOS. E muitos podem se perguntar se as dúvidas sobre essa limitação de quantidade de memória unificada se justificam.
O problema é que você paga muito por pouco
No mundo capitalista que vivemos, tudo se resume ao dinheiro que pagamos pelas coisas.
Pagar muito caro por um MacBook Pro que tem apenas 8 GB de memória unificada é considerada uma afronta por muitos, especialmente para um produto classificado como “Pro”. Essa escolha seria mais aceitável em dispositivos de menor custo, mas em um equipamento que custa o dobro, essa escassa quantidade de memória chega a ser uma grande contradição.
Para obter um MacBook Pro com 16 GB de RAM, o usuário é obrigado a desembolsar uma quantia consideravelmente maior em relação ao modelo base. E essa estratégia da Apple em inflacionar o upgrade de hardware é algo, no mínimo, questionável. Para não dizer que é de gosto duvidoso.
A postura da Apple em relação às críticas é notoriamente reservada. Normalmente a empresa não comenta polêmicas desse tipo, mas um dos diretores, Bob Borchers, tentou justificar a decisão em uma entrevista. Só não sei se ele conseguiu ser convincente nos argumentos, mas é você quem vai me responder sobre isso.
Ele argumentou que os 8 GB em um MacBook Pro M3 são equivalentes a 16 GB em outros sistemas, devido à eficiência na utilização da memória, ressaltando a comparação como inadequada devido à abordagem única da Apple.
Tal desculpa até pode parecer válida para quem realmente usa os computadores da Apple para tarefas pesadas e podem comprovar na prática que o executivo está falando a verdade. Mas nos aspectos nominais, tal retórica pode não convencer os usuários mais leigos que, na regra, sempre entendem que “mais é melhor” no mundo da tecnologia.
OK. Vou simplificar.
Algumas pessoas que testaram o Mac mini M1 com 8 GB de RAM e compararam o seu desempenho com um PC Windows voltado para os gamers afirmam que, de forma surpreendente, o computador da Apple não fica para trás, proporcionando uma experiência de navegação semelhante, apesar da disparidade na quantidade de RAM.
Análises técnicas corroboram a eficiência da arquitetura de memória unificada dos chips M1, elogiando sua eficiência e largura de banda. E isso é um fato: os processadores da Apple são muito competentes em entregar a performance.
Mas a questão não é exatamente essa.
Os compradores do MacBook Pro geralmente pertencem a um nicho de usuários mais ambiciosos e exigentes, dispostos a investir mais em busca de desempenho aprimorado. E oferecer como modelo base de notebook voltado para profissionais apenas 8 GB de RAM é algo extremamente contraditório e até difícil de explicar com o mínimo de racionalidade.
Em alguns cenários específicos e mais exigentes, os 8 GB de memória unificada podem não ser suficientes, o que pode causar frustrações para algumas pessoas que investiram muito em um dispositivo “Pro” que não atendem às expectativas.
No final as contas, o problema não estão na memória em si ou no hardware do MacBook Pro M3, que tem tudo para ser excelente para os usuários que vão explorar todo o seu potencial. O grande problema está mesmo no preço que a Apple cobra por esses dispositivos.
Será que investir tanto dinheiro assim em um equipamento que não vai entregar a melhor experiência de uso em cenários mais exigentes é o melhor que você pode fazer por você e pelo seu dinheiro?
Em um mercado onde os consumidores sempre vão procurar a melhor relação custo-benefício (inclusive aqueles que podem pagar as quantias absurdas cobradas pelo MacBook Pro), a Apple precisa rever o conceito do uso do termo “Pro” na prática.
Só para deixar registrado: o meu Samsung Galaxy Book2 “PRO” tem 16 GB de RAM. E eu estou bem feliz com ele.