É impossível ignorar as oscilações na velocidade de conexão no smartphone.
Você já deve ter percebido que, mesmo em locais com excelente cobertura, a velocidade da sua internet móvel pode flutuar ao longo do dia. E em alguns casos específicos, a culpa não é do seu smartphone ou de alguma configuração que você modificou no dispositivo.
Uma análise mais profunda revela que essa variação não é mera casualidade, mas uma consequência das complexas estratégias adotadas pelos operadores de telecomunicações, em um comportamento que passa longe do controle do usuário.
Internet mais lenta durante as madrugadas
O período da madrugada ganha protagonismo nessa lentidão da internet móvel. E a maioria dos usuários não percebe isso pelo motivo mais óbvio do mundo: eles estão dormindo.
É nesse momento que a demanda por dados móveis diminui, mas a velocidade não permanece constante. Na verdade, é possível notar que os dados móveis tendem a fluir mais lentamente nas primeiras horas do dia em alguns casos. E isso não é uma coincidência, nem uma falha técnica: é uma estratégia deliberada das operadoras.
O motivo para a adoção dessa estratégia é bastante pragmático: a economia de energia por parte das operadoras.
A energia consumida pelas antenas, que são uma parte fundamental da infraestrutura de comunicação, representa uma fatia considerável do consumo energético total do setor de telecomunicações. Para reduzir esse gasto, as operadoras estão desligando alguns amplificadores de potência das antenas durante os períodos de menor demanda.
Com menos tráfego de dados fluindo pela rede durante a madrugada, há menos necessidade de potência para manter a qualidade da conexão. Isso possibilita que os operadores desliguem certos componentes das antenas, economizando energia sem comprometer significativamente o serviço para os usuários. E a redução na demanda de tráfego resulta em uma redução na potência da rede.
Há mais por trás dessa estratégia
Não é apenas uma questão de poupar energia. A indústria de telecomunicações também influencia na questão ambiental de forma relevante.
De acordo com a operadora Orange, as telecomunicações são responsáveis por 2-3% do consumo total de energia da humanidade. Esse número, aparentemente modesto, ganha proporções significativas em uma escala global.
Para combater esse efeito colateral, as operadoras têm buscado soluções inovadoras. A transição do 3G para o 5G e a substituição do cobre por fibra óptica são avanços tecnológicos que não apenas impulsionam a qualidade das conexões, mas também contribuem para a eficiência energética.
O 5G, em particular, é apontado como um divisor de águas nessa jornada, prometendo maior capacidade de dados com menor consumo de energia por parte das operadoras. Pena que essa economia energética não se aplique aos smartphones nesse primeiro momento. Mas vamos esperar pela natural evolução do hardware.
A Vodafone e outra operadora internacional que abraça essa mudança em sua estratégia. A empresa está investindo em um software avançado que otimiza a potência da rede, permitindo o desligamento automático de capacidades específicas durante a noite e momentos de menor demanda.
Outros gigantes do setor como Movistar e Ericsson também aderem a essa abordagem inteligente, utilizando IA e aprendizado de máquina para prever o tráfego e desligar componentes das antenas durante os momentos de baixa atividade.
No entanto, a abordagem não é isenta de nuances. Na maioria das vezes, os desligamentos noturnos dos amplificadores de potência não afetam negativamente o usuário, já que a rede lida com menos carga de dados. Contudo, cenários excepcionais podem surgir, como picos de demanda durante o verão que podem temporariamente prejudicar a experiência de conectividade.
Tal estratégia pode eventualmente ser adotada no Brasil, inclusive por uma questão de economia das operadoras. E podemos entender que esse é um plano sofisticado e bem estudado por parte das operadoras.
Mesmo porque dormir é, na maioria dos casos, muito melhor do que ficar na internet consumindo dados móveis.