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O problema da Netflix não é a divisão de contas. É o seu excesso de conteúdo

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Há um ano, a Netflix foi obrigada a tomar medidas drásticas para conter a sangria de assinantes que a atingia pela primeira vez. Uma das ações mais polêmicas na época foi a proibição do compartilhamento de contas.

E a Netflix fez isso porque virou madrasta. Para a plataforma de streaming mais popular da internet (pelo menos era em junho do ano passado), reduzir os valores das mensalidades passou bem longe de ser uma opção, pois era muito mais fácil desmentir uma afirmação ou mudar de ideia sobre o tal “amor” que ela sentia pela gente.

Agora, doze meses depois, essa proibição foi implementada em quase todo o mundo, levantando a questão: a Netflix conseguiu resolver seu problema?

 

Colocando tudo em contexto

Na primavera (no hemisfério norte) de 2022, a Netflix anunciou uma perda significativa de assinantes no primeiro trimestre, totalizando 200.000 clientes a menos. Pode não parecer muita coisa diante dos milhões que continuam a utilizar o serviço, mas considerando a possibilidade de progressão de cancelamentos, foi o suficiente para deixar muitos executivos e investidores em pânico.

Esse resultado desastroso resultou em uma queda de 25% nas ações da empresa. Para reverter essa situação, a Netflix tomou medidas urgentes que já estavam sendo discutidas há algum tempo, incluindo a introdução de planos de assinatura mais baratos com publicidade e a proibição do compartilhamento de contas fora do mesmo domicílio.

Em teoria, as mudanças equacionam as contas para a Netflix. Muitos usuários ou vão pagar os R$ 12,90 a mais por mês para se manter no serviço com a qualidade máxima, ou vão migrar para o plano básico com publicidade que cobra R$ 18,90 por mês, só para ter o serviço na opção menos cara possível.

Porém, a prática da vida mostra que esse passa bem longe de ser o principal problema na Netflix hoje.

 

O verdadeiro problema

Uma análise sobre as possíveis razões por trás dessa situação revelou algumas realidades incontestáveis.

Em primeiro lugar, a Netflix estava lançando uma grande quantidade de conteúdo. Em 2020, a plataforma lançou uma média de 79 filmes por mês, e essa quantidade não diminuiu. A sensação que ficou é de que a empresa estava priorizando a quantidade em detrimento da qualidade.

Além disso, a chegada de concorrentes como a Disney+, o Star+ (no Brasil), o Amazon Prime Video, o HBO Max e outras plataformas inundou o mercado com opções atraentes, o que se refletiu na diminuição do número de assinantes.

Antes, a Netflix nadava sozinha e de braçada em um oceano vazio. Agora, disputa espaço no mar e nos barcos dos assinantes com outras plataformas de streaming, que cobram menos para entregar um catálogo (em muitos casos) melhor, com uma qualidade de imagem superior.

Aí fica bem difícil para a dona Netflix.

 

Impacto das decisões tomadas pela Netflix

De acordo com a Kantar, a Netflix está perdendo usuários em diferentes mercados globais após o anúncio das suas mudanças, e o culpado claro é o compartilhamento de contas fora do mesmo domicílio. Essa prática, que muitos consideravam um benefício, tornou-se um desafio para a empresa.

A estratégia da Netflix sempre foi diversificar os gêneros e oferecer uma avalanche de opções. De acordo com alguns executivos da empresa, os assinantes da plataforma assistem, em média, a seis gêneros diferentes por mês. Isso indica que a empresa continua apostando na diversificação de seu catálogo.

O problema é que essa aposta resultou no surgimento de um termo que desce de forma indigesta na goela de muitos assinantes: o “superservir”.

A estratégia de saturar a plataforma com uma infinidade de conteúdo é denominada “superservir”, e é alvo de críticas dos assinantes a Netfilx neste momento.

A Netflix ainda tenta se defender dessas acusações, afirmando que a qualidade é subjetiva e que nem todos os produtos têm um reconhecimento universal. Nem todas as séries podem ser como “Stranger Things” ou “Bridgertown”, que são reconhecidas por sua qualidade. Isso levanta a questão sobre a busca de um equilíbrio entre quantidade e qualidade, algo que a plataforma dá a entender que não está se esforçando muito para alcançar esse nível de excelência na oferta de conteúdo do serviço.

 

Falta de dados e avaliações desiguais

Nos últimos anos, a Netflix deixou de fornecer dados de audiência, adotando uma estratégia cada vez mais comum no mundo do streaming.

Agora, a empresa fala sobre sucessos com base no número de horas assistidas durante o primeiro mês de lançamento. Isso dificulta a avaliação objetiva dos conteúdos da Netflix.

Ao comparar o Top 10 global da plataforma com as pontuações em agregadores de críticas, como o Rotten Tomatoes, é evidente que existem resultados bastante desiguais. Alguns filmes e séries que foram populares entre o público receberam críticas negativas, enquanto outros passaram despercebidos inicialmente e agora encontram uma segunda vida na plataforma.

Sem falar em muitas pessoas que, de alguma forma, acabam contaminando os números de audiência dos sites especializados. E aqui, eu nem falo do famigerado “review bombing”: pense naqueles que assistiram ao horroroso “365 Dias” pela curiosidade mórbida, e você vai entender como os dados dessa análise de audiência podem ser manipulados por algumas variáveis.

 

Desafios pela frente

Embora a Netflix tenha atualmente séries que são um sucesso de crítica e público, como “Beijos, Kitty” e “A Rainha Charlotte”, há uma sensação de que muitas delas são produtos pouco marcantes, distantes do impacto gerado por séries de suas concorrentes, como “Succession” da HBO ou “Ted Lasso” da Apple TV+.

A Netflix já não entra na conversa global que já gerou em algumas oportunidades ao lançar séries como “Round 6”. Talvez seja necessário buscar produções que gerem um impacto significativo, em vez de se concentrar apenas em títulos que passam despercebidos.

 

Conclusão

 

Ainda fico com a impressão de que a Netflix terá um pouco mais de trabalho para fazer valer a sua lei aqui no Brasil, e muitos usuários não vão querer ficar e pagar para ver até onde vai essas histórias.

A competição entre as plataformas de streaming e os preços pouco competitivos são motivos muito racionais para a grande maioria dos usuários em no mínimo repensar a permanência na Netflix, principalmente pagando os planos mais caros disponíveis na plataforma.

Mas é o tempo que vai dizer o que será desse serviço de streaming que, no passado, amava os seus assinantes por permitir a divisão de contas. E hoje, só pensa no lucro, no dinheiro, no vil metal.

Quem perde no Brasil é ela. Por aqui, ainda existem ótimas alternativas com preços muito competitivos.


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