No quarto trimestre de 2023, as vendas de celulares irregulares no Brasil devem atingir um recorde, representando 21% do mercado, em comparação aos 17% no trimestre anterior.
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e a consultoria IDC estimam um aumento significativo no mercado não oficial, alcançando 5,5 milhões de unidades em 2023.
O mais grave de tudo isso é que a Xiaomi, a marca mais popular entre os brasileiros, lidera o ranking de vendas dos irregulares. E muitos usuários correm um sério risco de pós-venda e nem estão sabendo disso.
Dominância da Xiaomi entre os irregulares
A Xiaomi lidera as vendas de smartphones irregulares, detendo aproximadamente 80% do mercado. Importados da China para o Paraguai, esses dispositivos entram no Brasil de maneira suspeita.
É importante lembrar que um smartphone irregular é diferente de um telefone pirata, e esclarecer a diferença entre os dois ajuda a vida dos mais leigos.
Os telefones piratas são os falsificados, que fingem ser modelos originais. Os smartphones irregulares são produtos oficiais e originais das marcas, mas que não estão homologados pela Anatel.
O grande problema em comprar um smartphone irregular é não contar com a assistência técnica da marca no Brasil. São telefones muito mais baratos para o consumidor, mas totalmente desprovidos de suporte no caso de problemas.
O comércio de celulares irregulares da Realme também está em ascensão no Brasil, seguindo o modelo da Xiaomi e entregando os mesmos problemas para os clientes.
O problema nesse momento é a impunidade
Apesar do cenário preocupante, a Abinee não anunciou medidas concretas para conter o avanço dos produtos irregulares durante o balanço de fim de ano.
Relatos indicam uma operação logística na fronteira Brasil-Paraguai, onde motoboys trazem os produtos, principalmente o Redmi Note 12, em pequenas quantidades, evitando a fiscalização.
Os produtos são comercializados em marketplaces com preços 40% a 50% mais baixos que os regulares, resultando em aparelhos de R$ 2.599 sendo oferecidos por R$ 940, com diferenças na certificação, carregador e impostos.
E tal prática é de conhecimento público, principalmente pelos usuários que estão por dentro do mundo da tecnologia. Alguns canais populares do YouTube são especializados em mostrar como você pode comprar esses smartphones no Paraguai (e não há irregularidades nisso).
Porém, são produtos não homologados no Brasil, o que fere os princípios de legalidade de comercialização desses eletrônicos em nosso país.
As consequências dessa prática
Enquanto as vendas de aparelhos irregulares crescem, o mercado regular mantém números estáveis, indicando 2,05 milhões no quarto trimestre e 7,6 milhões no total.
Os celulares irregulares são estimados em causar um impacto econômico de R$ 2,1 bilhões no primeiro semestre devido à evasão fiscal, afetando também o setor de pesquisa e desenvolvimento.
A indústria de produtos elétricos e eletrônicos enfrentou problemas em 2023, com queda de 6% no faturamento geral, atingindo R$ 204,3 bilhões, e uma significativa redução de 21% na área de telecomunicações.
Tudo bem, podemos até questionar os reais impactos da prática de comercialização e compra dos smartphones irregulares no Brasil, já que as vendas dos produtos oficiais estão estáveis.
E devemos também questionar os valores dos modelos homologados em território nacional, que estão ficando cada vez mais caros pela gorda carga tributária e pelo famigerado “fator Brasil”, que impulsiona os preços de forma absurda.
Porém, o principal motivo para produzir esse conteúdo é alertar ao consumidor mais leigo sobre os perigos de momento na compra de smartphones não-homologados.
Além da possível incompatibilidade com redes móveis e WiFi (já vi isso acontecer em alguns locais), não ter o suporte do fabricante em caso de problemas é um risco que a maioria dos usuários não precisa correr.
Eu bem sei que o dinheiro não dá em árvore, e para muitas pessoas, economizar cada centavo é até vital para equilibrar as questões financeiras.
De qualquer forma, eu recomendo que você pense duas (ou mais) vezes antes de investir em um smartphone que não tem a chancela da Anatel. Pois o barato sempre pode sair caro.