A WWDC 2023 teve um produto em particular que roubou a cena. O Apple Vision Pro foi o grande protagonista do evento, enquanto o iOS 17 ficou apenas com “migalhas” de atenção.
O watchOS 10 e outros produtos tiveram ainda menos destaque, o que indica um certo desinteresse ou falta de inovações significativas, como foi o caso do iPadOS 17.
Entre todos os anúncios, houve um que a Apple não deu muita atenção, mas que é de muito interesse para os gamers de plantão: o suporte ao DirectX 12 para o macOS Sonoma, como parte do Game Porting Toolkit. Essa ferramenta foi disponibilizada para estúdios de desenvolvimento de jogos adaptarem seus títulos para o Mac.
Um patch de 20.000 linhas de código para o Wine também foi desenvolvido, permitindo realizar um antigo sonho: trazer jogos do Windows para o macOS.
E aqui, podemos ter a última fronteira para que o macOS finalmente se torne uma plataforma de jogos prestes a ser superada.
Como essa novidade pode mudar o jogo do macOS
Durante a WWDC, a Apple apresentou resultados preliminares dessa iniciativa que podem ser considerados muito promissores.
Por exemplo, mostrou como Diablo IV rodava a quase 90 fps na configuração “Ultra” em um MacBook Pro de 14 polegadas equipado com o chip M2 Max. Outros jogos, como GTA V e Cyberpunk 2077, também foram adaptados para o Mac como parte desses testes iniciais.
Aqui, temos um recado claro para os demais desenvolvedores: podem vir que, a partir de agora, um Mac também está mais apto para rodar jogos AAA com desempenho pleno.
No entanto, a Apple enfrenta o desafio de mudar a percepção arraigada de que o Mac não é um ambiente propício para jogos. Embora tenha conquistado grande parte do mercado criativo, com seus computadores presentes das salas de aula universitárias e dos lares, os jogos sempre foram associados a consoles e PCs, nunca ao Mac.
A empresa de Cupertino tentou modificar essa imagem ao longo dos anos, com tentativas como o Apple Arcade (que acabou não correspondendo às expectativas), melhorias gráficas para os Mac, suporte ao Unity e o suporte nativo a controles de PlayStation e Xbox. Esses esforços não foram suficientes para alterar a percepção predominante junto aos usuários.
E o sucesso nos jogos pode ir além da venda de mais unidades de computadores.
O que a Apple realmente deseja com os jogos no Mac?
Além do objetivo de vender mais Macs, a Apple está interessada em aumentar as comissões obtidas por meio das micro transações e assinaturas na App Store, o que impulsiona muitas de suas decisões recentes.
É importante destacar que qualquer jogo que deseje chegar ao Mac precisará ter um espaço digital para distribuição. No passado, não era necessariamente assim. Mas hoje, com a redução de portas e a exclusão da unidade óptica, qualquer software que queira ser executado no Mac precisa ser descoberto, acessado e ter seu pagamento e faturamento gerenciados.
Embora o macOS mantenha uma abertura que os outros sistemas operacionais da Apple não possuem, permitindo o uso de lojas de terceiros ou downloads diretos da web, o interesse da Apple está focado na App Store para Mac, onde ela pode cobrar a comissão padrão de 30% por transação.
Um dos motivos históricos pelos quais a Apple nunca conseguiu mudar essa percepção é ter oferecido ferramentas menos poderosas do que as equivalentes do Windows, além de ter uma base de usuários na plataforma significativamente menor que a do sistema operacional da Microsoft.
No entanto, o crescimento nas vendas de Mac nos últimos quinze anos, a era Apple Silicon e a facilidade proporcionada pelo novo kit para importar jogos para o macOS podem se tornar armas muito mais eficazes do que as oferecidas até agora para impulsionar a sua presença no mundo dos videogames. O que também atrapalha nessa iniciativa é a falta de modularidade e capacidade de expansão dos Macs.
Pelo menos agora a Apple possui recursos técnicos mais eficientes e tangíveis para expandir a sua participação no segmento de videogames, além de oferecer dispositivos mais silenciosos, com menor consumo de energia e maior eficiência.
Sem falar que a presença de Hideo Kojima na WWDC indica uma possível mudança a médio prazo nessa perspectiva.
É improvável que o sucesso desse movimento para a Apple seja uma adoção total e massiva das suas soluções para o mundo dos videogames, tanto por parte dos usuários quanto dos desenvolvedores. Mas se um certo percentual abraçar essa mudança, provavelmente será mais do que suficiente para afirmar que o movimento foi um sucesso para a gigante de Cupertino, pelo menos em um primeiro momento.
Se não vai mudar o mercado de videogames como um todo, pelo menos inicia um movimento de mudança que pode ser interessante a médio e longo prazos.
O tempo, sempre ele, vai dizer se tudo isso está certo, ou se é uma grande bobagem.