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A Apple não precisa se preocupar com as concorrentes da App Store (por enquanto)

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É bem possível que você não saiba do que vou falar a partir de agora, mas posso pelo menos começar agradecendo à Europa por mais uma vez salvar o mundo da tecnologia, aplicando um mínimo de bom senso.

Desde o primeiro dia de novembro de 2022, uma legislação histórica entrou em vigor no Velho Continente, conhecida como a “Lei de Mercados Digitais” (DMA), que impõe diretrizes rigorosas para empresas como Amazon, Google, Apple, Meta e Microsoft. E essa nova era regulatória visa transformar os ecossistemas digitais fechados, abrindo portas para maior interoperabilidade e acessibilidade.

Traduzindo o que eu acabei de escrever: a Apple vai ter que ceder espaço para lojas de aplicativos concorrentes. E você precisa estar ciente do que vai mudar na sua relação com o iPhone, com a App Store e com as outras empresas que vão entrar nessa competição de conquistar os usuários pelos aplicativos instalados nos smartphones.

 

Redefinindo os limites do ecossistema

A DMA representa uma mudança que pode ter abalos sísmicos no até então imutável paradigma da Apple e de outras Big Techs. Em uma votação que contou com 539 votos contrários e 588 favoráveis, a nova lei passou a regulamentar as responsabilidades e obrigações das maiores empresas de tecnologia do mundo, caso queiram manter os seus negócios no continente europeu.

Com aplicabilidade em todos os países da eurozona, essa legislação busca erradicar os ecossistemas isolados, forçando as Big Tech a se adaptarem a um novo cenário de interoperabilidade. Diante de tudo isso, a Apple é uma das gigantes de tecnologia que mais foi afetada pelas mudanças, pois desde sempre manteve um ecossistema virtualmente hermético em seus produtos ou serviços.

Um dos exemplos mais evidentes do que estou falando é o iMessage. De acordo com a nova regulamentação, a Apple terá que expandir seu alcance para incluir o aplicativo de mensagens dentro da plataforma Android. E a partir de 2024, a empresa de Cupertino será obrigada a aceitar lojas de aplicativos de terceiros, redefinindo sua relação com desenvolvedores e usuários.

 

Com tantas mudanças, aparecem as alternativas

Com as barreiras sendo derrubadas, empresas estão se preparando para desafiar o status quo da Apple. Um exemplo do que estou falando é a SetApp, que se posiciona como uma alternativa oficial à App Store da Apple, tanto para macOS quanto para iOS.

Impulsionada pela DMA, a SetApp espera ser aceita como uma alternativa legítima, marcando o início de uma nova era de competitividade que até então era inédita para a Apple, que mantinha com mãos de ferro o seu monopólio dentro do segmento de aplicativos para iPhone, iPad e Mac.

Dito isso, entendo que a SetApp não será a única a se aventurar a oferecer aplicativos para iPhone sem qualquer tipo de impeditivo por parte da Apple. Não é preciso pensar muito longe: a própria comunidade de Jailbreak abre um sorriso enorme para essa possibilidade.

Mas nem tudo é fácil como parece ser.

 

Ter dinheiro e fundamental, inclusive para pagar pouco

Porém, não será uma tarefa fácil consolidar uma alternativa à App Store. Questões de financiamento e modelos de assinatura se colocam como obstáculos significativos para a viabilidade dessas lojas de apps a longo prazo.

Enquanto a publicidade na App Store é atualmente discreta, a adoção de lojas de aplicativos com anúncios pode gerar incertezas entre os usuários. O modelo de assinatura, adotado pela SetApp e outros, também levanta questionamentos sobre adesão em massa.

Muitos usuários do iPhone estão mais do que acostumados ao modelo de negócios da Apple, e mudar de uma hora para outra requer trabalho duro e paciência para qualquer empresa que decidir pelo menos tentar se apresentar como alternativa.

Nesse momento, a Apple tem tudo muito sob controle na comercialização de aplicativos e serviços a partir de sua loja. É claro que outros modelos de negócios devem (e precisam) aparecer, mas neste primeiro momento, está mais para as demais aprenderem com a gigante de Cupertino do que alguma loja revolucionária reinventar a roda.

Mas eu posso estar errado, obviamente. Eu não faço ideia do que o futuro nos reserva.

 

O cenário do Android, e a disputa pelo futuro

No mundo Android, o impacto das lojas de aplicativos de terceiros já é sentido a algum tempo pelo Google e faz parte da cultura dos próprios usuários, que sempre tiveram uma certa liberdade para procurar e encontrar soluções próprias de software para o dia a dia. Porém, esse impacto possui proporções diferentes para esse sistema operacional.

A Huawei, por exemplo, enfrentou dificuldades no mercado europeu devido à ausência da Play Store, a partir das sanções econômicas impostas pelo governo norte-americano contra a marca. A App Gallery está ganhando peso e relevância aos poucos, mas ainda está longe de rivalizar com os números impressionantes da Play Store, que conta hoje com 2,5 bilhões de usuários mensais.

Por outro lado, existe uma cultura disseminada entre os usuários do Android, que já entenderam que são livres para encontrar os aplicativos que querem em outros locais da internet, desde que essas pessoas assumam os riscos do download e da instalação de apps a partir de fontes desconhecidas.

Fato é que estamos diante de um cenário em plena reconstrução, onde o sucesso das novas lojas de aplicativos vai depender (e muito) dos valores que serão cobrados dos usuários, da filosofia comercial dessas lojas e da acessibilidade aos apps em um sentido amplo.

Suplantar a influência mais que arraigada da App Store vai exigir de qualquer competidor estratégias ousadas e muita criatividade. A boa notícia aqui é que as leis europeias estão voltadas para defender um maior potencial de diversidade, inclusão e acessibilidade no universo digital.

E enquanto o duelo de loja de aplicativos para iOS não começa de verdade, vamos observando os movimentos. Incluindo aqueles que nunca pensaram em desafiar a Apple na vida para nada, e agora encontra a oportunidade perfeita de aprontar para cima de Tim Cook e companhia.

E é de você mesmo que eu estou falando.


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