A Xiaomi apresentou o XRING 01, um SoC premium que representa o orgulho tecnológico chinês diante de todos os bloqueios estabelecidos pelo ocidente nos últimos anos. O lançamento aconteceu durante o evento “New Beginnings”, onde a empresa também revelou o SUV Xiaomi YU7 e o tablet Xiaomi Pad 7 Ultra.
O ponto de destaque desse artigo é o XRING T1, primeiro chip 4G da Xiaomi projetado especificamente para smartwatches.
Esse desenvolvimento marca o início da busca da empresa por independência total em conectividade, seguindo a estratégia de outras gigantes tecnológicas.
E é correto dizer que a China está realmente muito feliz com esse lançamento.
Estratégia de independência tecnológica
Lei Jun, CEO da Xiaomi, deixou clara a importância estratégica desta iniciativa:
“Se quisermos nos tornar uma empresa de tecnologia de hardware verdadeiramente grande, os chips são um pico que devemos escalar”.
É uma visão pensada no controle vertical de produção de hardware, em uma estratégia que tem movimentos similares no mercado global de tecnologia.
A Apple recentemente lançou seu iPhone 16e com modem 5G próprio, o C1, buscando reduzir dependência da Qualcomm. A Xiaomi segue caminho semelhante com objetivos de economia em licenças e melhor integração entre componentes.
Capacidades técnicas dos novos chips
O XRING 01 mantém um modem Unisoc 5G, enquanto o XRING T1 alcança o marco de ser o primeiro chip interno da Xiaomi com conectividade 4G.
O chip será implementado inicialmente no novo Xiaomi Watch S4, oferecendo funcionalidades avançadas como suporte a eSIM e controle de veículos Xiaomi.
Para a China, o desenvolvimento desse processador significa redução da dependência de fornecedores estrangeiros e fortalecimento da cadeia produtiva nacional de semicondutores.
O que, em médio e longo prazos, se converte em dinheiro para todos os envolvidos.
Histórico de desenvolvimento interno
A jornada da Xiaomi em chips próprios começou em 2014, com a fundação da Pinecone Electronics. Em 2017, durante o Mobile World Congress, a empresa apresentou o Surge S1, tornando-se o quarto fabricante mundial a desenvolver SoC próprio, após Samsung, Apple e Huawei.
Apesar do fracasso inicial do Surge S1, que foi utilizado apenas no discreto Xiaomi Mi 5C, o projeto estabeleceu bases para desenvolvimentos futuros.
Em 2021, foi criada a Shanghai Xuanjie Technologies, responsável pelo design do XRING, liderada por ex-executivos da Qualcomm e Unisoc.
Complexidade técnica e competitividade
O desenvolvimento de modems da Xiaomi passou por um processo mais complicado quando comparado com a criação de chips convencionais, devido às complexas questões de patentes.
Sem falar no natural impeditivo de não poder trabalhar com empresas norte-americanas para o processo de fabricação dos chips.
Poucas empresas mundiais conseguiram desenvolver modems com sucesso: Qualcomm, Mediatek, Apple, Huawei, Samsung e agora Xiaomi.
Mais de 600 engenheiros de pesquisa e desenvolvimento participaram da criação do XRING T1. A capacidade técnica interna da Xiaomi é uma vantagem competitiva que pode pressionar fornecedores tradicionais como Qualcomm e Mediatek a acelerarem o passo nos seus respectivos projetos futuros, especialmente no mercado chinês.
Impacto no mercado global
A entrada da Xiaomi no desenvolvimento de modems ocorre em contexto geopolítico sensível, onde empresas chinesas buscam alternativas após restrições impostas à Huawei.
O movimento mostra um elevado nível de preparação estratégica por parte da empresa para possíveis cenários de limitação de fornecimento internacional.
O sucesso da iniciativa pode acelerar a independência tecnológica chinesa em semicondutores e alterar dinâmicas competitivas globais. E isso faz o governo chinês sorrir de orelha a orelha.
Já para a Xiaomi, o novo chip representa evolução natural de empresa focada em smartphones e IoT para fabricante tecnológico verticalmente integrado.
O primeiro passo para a maior independência tecnológica da Xiaomi foi dado. E parece ser um passo muito sólido.