O Pix é uma das melhores invenções da história do Banco Central (e este conteúdo não é patrocinado – até porque o BC é independente). O simples fato de um sistema de pagamentos tão complexo como esse iniciar suas atividades durante a maior crise sanitária global dos últimos 100 anos é uma das provas do seu mérito na vida dos brasileiros.
Eu não sei o que é colocar a mão em papel moeda em muito tempo. Porque eu sou pobre. Mas isso não é relevante para este artigo.
O mais importante nesse momento é que você saiba que o Pix continua a evoluir, com novas soluções que estão aparecendo, inclusive para evitar os golpes, que se tornam cada vez mais frequentes.
É inevitável. Toda e qualquer nova solução que se popularizar vai passar pelo mesmo problema, e o Banco Central é obrigado a tomar medidas para tentar evitar que o malandro roube o dinheiro do honesto.
E é sobre isso o que vamos conversar a partir de agora: sobre as novas regras do Pix, que entraram e vigor e mudam algumas mecânicas para os pagamentos.
O que muda no Pix a partir de agora
A partir de 1º de novembro de 2024, as transferências via Pix enfrentam novas barreiras para aumentar a segurança dos usuários com esse meio de pagamento.
Agora, o Banco Central impõe restrições e protocolos para conter a crescente onda de fraudes, principalmente aquelas que exploram a vulnerabilidade de dispositivos não cadastrados.
Dentro das novas regras, dois itens se destacam dos demais:
- Limite de R$ 200 em dispositivos sem cadastro
- Limite diário de R$ 1.000 para dispositivos sem cadastro
Vamos explicar melhor o que esses dois itens significam na prática.
Os smartphones que não contam com um registro específico nos aplicativos bancários agora contam com um limite de R$ 200 por transação via Pix.
A medida tem como principal objetivo reduzir o risco de uso indevido por fraudadores, oferecendo uma camada adicional de proteção em cada transferência.
Além do limite individual por transação, a soma de transferências em um único dia para esses dispositivos não cadastrados passa a contar com o limite de R$ 1.000.
Dessa forma, o BC tenta proteger os clientes de perda excessiva de dinheiro em golpes, especialmente em dispositivos não reconhecidos pelo sistema da instituição financeira.
Nos dois casos, o cenário onde essa regra entra afeta principalmente aos usuários que possuem mais de um smartphone, deixando o telefone reserva com os apps bancários instalados.
Em termos práticos: o que o Banco Central quer é criar um cenário onde o usuário efetivamente precisa deixar o seu telefone atual (ou principal) cadastrado como DISPOSITIVO PRINCIPAL, criando assim uma camada de autenticidade sobre a propriedade daquele smartphone vinculado à conta.
Existe uma vantagem nessa mudança: se o seu smartphone é roubado ou perdido e está vinculado ao sistema Celular Seguro do Governo Federal (aquele mesmo que gerou tanta polêmica burra no passado), as chances de a instituição financeira tomar providências com maior agilidade (e garantindo que você não vai sair no prejuízo) aumentam.
Afinal de contas, você tem mais um item de registro que comprova que aquele aparelho de smartphone é seu, que o incidente aconteceu, e que as compras após o incidente não foram feitas por você.
Outro detalhe importante: para transferências acima de R$ 200, é obrigatório cadastrar o dispositivo (celular, tablet ou computador) na instituição financeira.
Este cadastro envolve procedimentos variados, como reconhecimento facial ou código por SMS, de acordo com as normas de cada banco.
Não vou trocar de celular: muda alguma coisa para mim?
Não.
Os dispositivos que já eram utilizados para acesso a contas bancárias antes de novembro de 2024 estão isentos dessas novas restrições, o que simplifica o uso para quem já estava integrado ao sistema antes das novas normas.
Em teoria, esses usuários do Pix no mesmo telefone há mais tempo muito provavelmente já contam com os dispositivos cadastrados nos apps bancários.
Porém, na prática, isso pode não acontecer. De modo que as medidas tomadas pelo Banco Central também são um reforço sobre a exigência de que bancos e plataformas digitais são as responsáveis por implementar mecanismos mais robustos e avançados para a detecção de fraudes.
São os bancos que precisam ser capazes de monitorar o perfil do cliente e identificar atividades fora do padrão, e não o contrário. Normalmente é o cliente que precisa provar para o banco que seu telefone foi roubado, o que pode levar tempo e, por tabela, o dinheiro guardado na conta.
Logo, as regras do BC buscam principalmente a proatividade na proteção, na tentativa de evitar a consumação de golpes.
Outras medidas que os bancos terão que tomar
A cada seis meses, os bancos devem checar se seus clientes possuem registros de fraude no sistema do Banco Central, o que é outra medida preventiva para identificar os tais comportamentos suspeitos.
Em casos de suspeita de fraude, a instituição pode bloquear as transações, aplicar processos de validação extras e, se a atividade ilegal for confirmada, até encerrar a conta suspeita.
Aqui, vale a pena explicar que “comportamento suspeito” pode incluir sistemas de fraude financeira e lavagem de dinheiro.
Algo que a maioria das pessoas comuns não comete, mas que são crimes financeiros em larga escala que eventualmente podem acontecer por meios eletrônicos.
Mesmo que a lavagem de dinheiro por Pix seja algo mais raro, uma vez que o dinheiro é rastreável. Mesmo assim: pagamentos feitos para diversos fins é uma forma de mascarar a origem dessas transações.
Todas as medidas mencionadas pelo Banco Central são tentativas de aumentar a confiança e a segurança dos usuários no sistema Pix, que é um dos mais eficientes do mundo.
Além das novas medidas, o Banco Central incentiva as instituições a oferecerem orientações de prevenção, especialmente sobre fraudes recorrentes, como o “golpe do Pix errado”, alertando os usuários a serem cautelosos ao realizar transações.
Por fim, sempre vale aquele aviso do “tenha bom senso”.
Não clique em links suspeitos que você recebe em mensagens do WhatsApp, segure a tentação em comprar naquela promoção considerada “imperdível” e desconfie de todo e qualquer cenário que entra na frase “isso aqui é bom demais para ser verdade”.
Não adianta o Banco Central ter todo esse trabalho para deixar o Pix algo mais seguro se você age como um idiota completo com o celular na mão.
Estamos conversados.