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Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo: um Multiverso melhor que o da Marvel

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Como falar sobre um filme tão complexo sem dar spoilers?

Bom… vamos lá.

 

 

 

TUDO

Sim. Somos parte de um Tudo que, de forma quase inevitável, nos influencia a ser quem somos. Ou quem ele, o tudo, deseja que sejamos. Essa prisão emocional e comportamental desperta em alguns de nós o desejo ou desespero (dependendo do ponto de vista) em procurar incansavelmente uma versão de nós que seja melhor, mais completa e mais feliz que nós mesmos.

Isso acontece porque o Tudo nos impõe o que pensar, sentir e agir. E, em muitos casos, aquelas pessoas que mais amamos são justamente aquelas que mais nos prendem a uma perspectiva de vida que não é aquela que desejamos ou merecemos. Algumas pessoas confundem amor e cuidado com a imposição de pensamentos e atitudes que não são nossos na essência, ou que tentam nos tirar o legítimo direito de descobrir por nós mesmos esse processo de descoberta da nossa melhor versão.

O Tudo nos convence que somos o resultado de uma sequência de fracassos porque decidimos não seguir o seu caminho ou abraçar as escolhas impostas por ele. E, em função disso, nos abandona com enorme facilidade, justamente para reforçar a ideia que não existe outro meio de ser feliz que não seja aceitando aquilo que nos é imposto como conceitos, valores e padrões de vida.

O resultado dessa imposição é a falta de percepção e orientação sobre qual é o real conceito de felicidade para cada indivíduo. Aceitamos, de forma quase cega, que o modelo de felicidade do outro é o padrão, o normal e o aceito por todos. E a parte mais cruel de tudo isso é que acabamos vivendo uma existência em uma prisão construída pelas mãos alheias, mas com as paredes pintadas pelas nossas mãos.

Por outro lado, sempre existem aqueles que se rebelam contra essa visão estabelecida de modelo de felicidade previamente estabelecido pela sociedade, pelo governo, pela cultura de massa ou até mesmo pelos nossos pais. Espíritos jovens, que nasceram com uma visão de mundo diferenciada e revolucionária, tendem a se revelar com o modus operandi imposto pelas gerações mais velhas.

E, de forma quase irônica (para não dizer hipócrita), são justamente os mais jovens aqueles que são apresentados como “os inimigos”, “os monstros”, “os descontrolados”. Normalmente esse papel é atribuído por aqueles que escrevem a história a partir de sua perspectiva conservadora, mas sem perceber que, em muitos casos, aquele “inimigo” foi gerado, criado e desenvolvido por aquela mesma pessoa que herdou a prisão de seus pais e, de forma consciente ou inconsciente, transfere essa visão limitada para os seus filhos.

O conflito de gerações é sempre apresentado como uma batalha épica entre o bem e o mal, e é normal que os mais velhos acabem vilianizando os mais novos. Até porque os mais velhos jamais terão a coragem e a humildade em reconhecer a sua contribuição naquela personalidade que, em um determinado ponto da vida, começa a se desenvolver a partir de uma perspectiva que é só sua.

Mais: os mais velhos ignoram completamente que, no passado, eles sofreram as consequências do Tudo. E hoje, eles são parte do Tudo, influenciando e duelando com as novas gerações, na tentativa desesperada em impor a sua visão do mundo.

Do conflito, vem as batalhas. E das batalhas, vem as fragmentações.

 

 

 

EM TODO LUGAR

Todo indivíduo está em todo lugar.

Existem diferentes versões de nós em diferentes partes desse e de outros universos. E essas versões alternativas de nossas personalidades foram moldadas a partir de nossas fragmentações geradas por nossos fracassos, derrotas ou decepções.

Cada jornada, desafio ou batalha tem como resultado imediato as pegadas que nós deixamos e, eventualmente, as partes de nossa essência que ficam pelo caminho. Quando fracassamos, nos fragmentamos, e deixamos naquele evento uma parte de nós que, com alguma sorte, vai aprender com esse erro e se tornar uma versão melhor da nossa personalidade.

Muitos afirmam que um dos segredos do progresso é aprender com os nossos próprios erros. O primeiro passo do sucesso é justamente o fracasso. Se permitir falhar é a melhor forma de aprender e crescer. Porém, fomos criados pelo Tudo, que nos ensinou a querer Tudo, acertar em Tudo, jamais falhar e, principalmente, não reconhecer a derrota.

Para o Tudo, fracassar não é uma opção.

Durante muito tempo, vivemos a ideia que falhar era algo tão vergonhoso, que não poderia ser externado para o mundo e até mesmo para nós mesmos, mesmo que seja internamente. Fomos criados com a ideia que reconhecer nossos erros era um erro que não nos conduzia para um lugar melhor.

Com o passar do tempo, os fragmentos de nossas derrotas e decepções que não foram reparados da forma correta resultaram em gerações de pessoas frustradas, infelizes e deprimidas. E o último estágio desse processo emocionalmente degenerativo – a depressão – se materializa (metaforicamente falando) em uma ausência completa de sentimentos, onde nada mais importa. Inclusive o Tudo.

Em todo lugar, encontramos pessoas desesperadas em encontrar dentro de si algo que justifique a manutenção de sua existência. Procuram habilidades e valores que entreguem uma genuína motivação para continuar tentando, mas quando vasculham nos seus vazios emocionais, não encontram nada.

Talvez a resposta esteja mesmo fora de nós, encontrando versões alternativas de nós mesmos que podem mostrar o melhor que nós temos e que não conseguimos enxergar. E como estamos em todo lugar, deixando nossas marcas na estrada e partes de nós com aqueles que mais amamos, as chances de nos reencontramos existem.

Quem sabe o “inimigo” não é aquele que nós criamos e educamos. O verdadeiro “inimigo” é a nossa essência. Até porque, no final das contas, foi uma decisão nossa aceitar que o Tudo nos entregasse a sua visão de mundo e percepção de realidade, sem questionar, sem enfrentar o contraditório e não desafiando as tradições e ideias conservadoras.

Então, se estamos perdidos, precisamos sair por aí para encontrar o caminho e encontrar a nós mesmos. E a boa notícia é que, de uma forma ou de outra, estamos em todo lugar.

 

 

 

AO MESMO TEMPO

Na vida, tudo acontece aqui. Agora. Ao mesmo tempo.

Não existe pausa ou dobra no tempo, e ele se desloca em um movimento uniforme e constante. O tempo não vai parar para esperar que a gente encontre nossas versões alternativas para descobrir as habilidades que existem em nossa essência, mas que não conseguimos enxergar por conta da visão fragmentada pelas decepções vividas ao longo da jornada.

É um processo intenso, confuso e profundamente emocional. Não é um absurdo afirmar que vamos ouvir diferentes vozes na cabeça, e em muitas vezes, a voz não é a nossa. Pode ser uma versão alternativa de quem mais amamos que insiste em nos dizer o que devemos fazer a partir de uma visão de mundo que não é a nossa.

Eu sei. É muito difícil ouvir a nossa própria voz no meio de tanto barulho ou ruído. Muito mais difícil é se concentrar no que realmente queremos quando o Tudo, sempre ele, nos desafia o tempo todo a seguir aquilo que ele quer, gritando o tempo todo para impedir que a gente ouça o que realmente queremos.

Conforme o tempo passa, vamos entendendo que esse turbilhão de eventos que enfrentamos sempre existiu, e que sempre coube a nós a decisão de organizar o caos e encontrar a paz. O Tudo nos desafia ao embate o tempo todo, mas quando realmente queremos abraçar a ideia de viver o melhor e o pior ao mesmo tempo e aceitar tudo isso como parte de nossa história, o melhor caminho é olhar para o nosso “inimigo” com empatia e amor.

Se nós fomos considerados como “os inimigos” das gerações anteriores, vamos transformar as próximas gerações nos grandes amores de nossas vidas, para que as melhores versões desses seres em formação sejam encontradas mais facilmente, para que outras pessoas possam aprender com eles.

Nossa melhor contribuição para a construção de um novo Tudo é compreender que estar em todo lugar é também viver tudo ao mesmo tempo, explorando sempre o melhor de nós. Oferecendo o melhor de nós. Abraçando o melhor de nós. E do outro também.

Viver é uma experiência alucinante, intensa e caótica. E desastrosamente maravilhosa. Logo, vamos abraçar os nossos hipotéticos “inimigos” com as suas imperfeições, e esperar que essas pessoas aceitem as nossas fragmentações. Duas pessoas quebradas podem se consertar e se tornar versões melhores delas mesmas.

Lembre-se: aquele “inimigo” que cresceu e se voltou contra você apenas porque queria ser diferente de quem você foi nada mais é do que uma de suas versões alternativas. Transformar esse ser no seu melhor amigo é parte também de sua transformação e evolução.

 

 

 

TUDO EM TODO LUGAR AO MESMO TEMPO

O filme “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” é o melhor filme de 2022 até agora. E com ampla vantagem em relação a qualquer outro filme que eu assisti nos últimos seis meses.

Fãs de “Top Gun: Maverick”, não me entendam mal. O longa protagonizado por Tom Cruise beira à perfeição naquilo que ele se propõe a ser, e é sim um dos melhores filmes do ano. É o filme que mais me empolgou, que mais me deixou feliz ao sair da sala de cinema, e o que melhor atendeu às expectativas prometidas.

Porém, “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” é uma experiência quase sensorial.

É um filme com roteiro complexo, que aposta na riqueza de detalhes e na ousadia da narrativa para contar a sua história. Mas consegue alcançar o seu objetivo, entregando todos os seus pontos de reflexão em uma construção muito bem elaborada e envolvente.

Os personagens são empáticos e psicologicamente bem construídos, onde todos contam com relevância narrativa. E é através deles que diversos pontos de reflexão são apresentados: o conflito do velho com o novo, o duelo de gerações, o desafio das tradições, o papel do estado burocrático que tira o sono de qualquer família, o desejo de liberdade diante da infelicidade emocional e, principalmente, a jornada de autodescoberta.

“Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” é genial ao trabalhar com diferentes propostas estéticas e visuais que acabam complementando impecavelmente a narrativa. Em alguns momentos, a edição é frenética, mas sempre conectada com o momento daquela história ou com a situação que um determinado personagem está vivenciando na tela.

Você tem terror, comédia, drama, cenas de luta impecavelmente bem coreografadas e até breves momentos com animação (ou com diálogos envolvendo objetos inanimados). A forma em como o filme apresenta o conceito de Multiverso é descomplicada e facilmente compreensível por qualquer pessoa, apesar de reconhecer mais uma vez que este não é um filme de fácil compreensão. É preciso manter a atenção constante em todos os eventos apresentados na tela.

E manter a atenção neste filme não é uma tarefa difícil. São 2h20 que passam voando.

Este tem tudo para ser o filme mais bem sucedido da A24, e se tornou com facilidade um dos melhores filmes que assisti na vida. Torço desde já que “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” tenha o seu devido reconhecimento nas temporadas de premiação.

E, o mais importante de tudo: esse é um filme que mexe com sua essência. Você se transforma pelos temas apresentados, e sai da sala escura repensando a sua relação com a vida, com o próximo e com você mesmo. Da mesma forma que é sair da caverna.

Vá assistir “Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo” sem medo ou preconceito.

Porque medo e preconceito são duas armas que o Tudo usa para limitar a sua visão de mundo.


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