O presidente norte-americano Donald Trump direcionou uma ameaça específica à Apple, estabelecendo uma tarifa mínima de 25% exclusivamente para iPhones caso a empresa não transfira sua produção para território americano.
A declaração foi feita através da plataforma Truth Social, onde Trump comunicou diretamente ao CEO Tim Cook suas expectativas sobre a fabricação dos dispositivos destinados ao mercado americano.
A posição presidencial elimina qualquer alternativa de produção fora dos Estados Unidos, incluindo a Índia, país que vinha sendo considerado como destino estratégico para diversificação manufatureira da gigante tecnológica.
Em termos práticos: Donald Trump deu um ultimato para a Apple. E Tim Cook fez papel de trouxa se sentando ao lado do presidente durante a posse para o segundo mandato.
O contexto do ultimato de Trump
A Apple adotou uma estratégia de diversificação geográfica de sua produção ao longo dos últimos anos, processo que foi acelerado tanto pela pandemia de Covid-19 quanto pelas tensões comerciais entre Estados Unidos e China.
A empresa vinha direcionando grandes investimentos para a Índia, incluindo planos de exportação de todos os iPhones destinados ao mercado americano através da produção indiana, o que demandaria expansão considerável da capacidade manufatureira local.
Relatórios recentes indicam que a Foxconn, principal fabricante terceirizada da Apple, está desenvolvendo uma instalação de US$ 1,5 bilhão em Chennai, sul da Índia, especificamente para produção de telas de iPhone.
E somando tudo isso com toda a situação tarifária que Donald Trump estabeleceu (comprometendo a capacidade de produção de basicamente todas as empresas norte-americanas), a Apple reforçou suas iniciativas, na tentativa de evitar um impacto financeiro sem precedentes ao seu principal produto.
O cenário tarifário vigente estabelece uma taxa básica de 10% para produtos indianos, enquanto produtos chineses enfrentam alíquota de 30%, com possibilidade de aumento substancial após a suspensão de redução temporária de 90 dias prevista para agosto.
Atualmente, telefones e outros produtos Apple mantêm isenção da maioria dessas taxas, mas a incerteza regulatória fornece motivação adicional para a empresa continuar expandindo operações fora da China.
A Apple já se comprometeu com investimentos de US$ 500 bilhões nos Estados Unidos durante os próximos quatro anos, enquanto Tim Cook contribuiu pessoalmente com US$ 1 milhão para o fundo de posse presidencial.
Mas tudo isso aparentemente não acalma Donald Trump, que quer um iPhone “Made in USA” a todo custo.
O problema em produzir um iPhone nos EUA
Já abordamos este assunto no blog em um extenso artigo, de modo que vou resumir os argumentos de forma breve para agregar contexto ao texto que você está lendo.
Especialistas do setor consideram amplamente irrealista a perspectiva de um iPhone completamente fabricado em território americano, ecoando declarações históricas atribuídas a Steve Jobs em conversa com Barack Obama em 2011, quando teria afirmado que “esses empregos não vão voltar”.
A complexidade da cadeia de suprimentos global de eletrônicos, combinada com questões de custo e disponibilidade de mão de obra especializada são enormes obstáculos para relocação completa da produção no território norte-americano.
A estratégia presidencial de imposição tarifária tem como principal objetivo impulsionar o mercado interno americano, indo além do setor tecnológico para incluir outras indústrias, incluindo a cinematográfica.
Mas nada disso vai dar certo.
Trump ignora completamente a dinâmica de economia globalizada que vivemos no mundo atual, com as fronteiras entre os países drasticamente reduzidas, inclusive pela atual tecnologia de comunicações.
Hoje, qualquer pessoa pode comprar pela internet com ridícula facilidade. Incluindo os norte-americanos, que encontraram na Shopee, no AliExpress e na Shein opções mais econômicas e de qualidade para várias categorias de produtos.
Sem falar que empresas e até governos estão aceitando negociar com os chineses, que são parceiros sólidos nos acordos comerciais.
Para a China, as tarifas não mudam muita coisa. Pelo contrário: o país ganha tanto no aumento de consumo de tecnologia local, como também nas negociações com outros países que também tentam driblar o tarifaço de Trump.
Só os Estados Unidos está perdendo com tudo isso. Mas Donald Trump não consegue enxergar a realidade na sua frente.
O impacto financeiro projetado para a Apple
Estimativas indicam que a Apple enfrentaria perdas aproximadas de US$ 1 bilhão caso tarifas sejam finalmente aplicadas à produção chinesa, motivando a movimentação acelerada da empresa para mitigar exposição a essas penalidades.
A ameaça tarifária representa um precedente inédito na política comercial americana, direcionando penalização específica a empresa individual para produto determinado, diferindo de abordagens tradicionais de tarifas por país ou categoria de produto.
É uma quebra de isonomia sem precedentes, segregada e que, de forma até absurda, atinge a empresa mais poderosa do planeta.
A medida elimina efetivamente alternativas de “fuga” geográfica para a Apple, forçando a decisão binária entre produção americana ou pagamento de sobretaxa.
Para a Apple, pode ser menos pior pagar os impostos e manter os planos de migrar sua produção para a China. Nem mesmo a gigante de Cupertino tem condições de estabelecer toda a estrutura necessária para a produção do iPhone “da noite para o dia” como Trump quer.
O problema é que a conta deve vir pesada do mesmo jeito: os impostos serão aplicados de qualquer forma, e podem ser ainda piores depois do recesso de 90 dias nas altas cargas tributárias (que termina em agosto de 2025, um mês antes do lançamento da nova família do iPhone).
Que voltem as tensões
As declarações presidenciais não se limitaram à Apple, pois as ameaças tarifárias adicionais se estendem para os países da União Europeia, que é acusada por Trump de causar perdas comerciais superiores a US$ 250 milhões anuais aos Estados Unidos.
A proposta europeia envolve tarifa de 50% a ser implementada a partir de 1º de junho, indicando escalada das tensões comerciais além do eixo China-Estados Unidos.
A abordagem representa a intensificação da política de “America First”, priorizando produção doméstica através de instrumentos punitivos direcionados a empresas específicas, estabelecendo novo paradigma de pressão comercial.
Acho importante adicionar uma última informação antes de terminar.
A popularidade de Donald Trump despencou junto ao norte-americano médio desde que ele assumiu a presidência em seu segundo mandato.
E lançar narrativas para manter a sua base de eleitores engajados é algo que ele precisa no momento para tentar abafar os primeiros rumores sobre aquela palavra que todo mundo na posição dele detesta ouvir.
Impeachment.
Via The Verge