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Sobre a maior crise da Intel em décadas

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A Intel está desmoronando.

São mais de 15 mil trabalhadores demitidos, ou 15% de sua força laboral. E essas demissões podem alcançar 19 mil pessoas. E tudo isso, para economizar US$ 10 bilhões até 2025.

A empresa vai reduzir seus gastos com Indústria + Desenvolvimento e marketing em bilhões até 2026, além de reduzir as despesas de capital em mais de 20% e suspender “todo o trabalho não essencial” e “revisar todos os projetos e equipes ativos”.

Eis o resultado da Intel não surfar na onda da Inteligência Artificial (algo que a NVIDIA fez muito bem) e informar perdas bilionárias no segundo trimestre de 2024.

 

A Intel gastou mal o seu dinheiro

Alguns setores da Intel até estão apresentando certa rentabilidade, mas apenas através da Intel Foundry Services (IFS), que fornece tecnologia e capacidade de produção para clientes externos.

As vendas para negócios de PCs e servidores estão relativamente estáveis, mas a Intel perde terreno para Nvidia e AMD em determinados setores, como no caso dos servidores.

Sem falar em todos os gastos que a empresa vai ter com os seus processadores problemáticos de 13ª e 14ª gerações. Mesmo que não faça recall de tudo, vai ter que gastar para corrigir os chips que ainda vão chegar ao mercado.

Agora, some isso ao fato de a Microsoft seguir os passos da Apple e abandonar os processadores da Intel para impulsionar o Copilot+ no Windows 11, e temos uma tempestade para a então líder no mercado de processadores.

 

A reveladora carta de Pat Gelsinger

A carta que Pat Gelsinger enviou para todos os funcionários da Intel se tornou pública, e deixou claro para o mundo o tamanho da crise da empresa.

Além de confirmar as demissões, Pat revela que estão realizando “algumas das mudanças mais importantes na história da nossa empresa”.

O executivo confirmou que as receitas não cresceram como esperado, e que a Intel não se beneficiou totalmente de tendências do setor, como é o caso da Inteligência Artificial.

O dirigente ainda afirmou que se gasta muito tempo na tomada de decisões, e precisa eliminar a burocracia para agilizar as decisões mais importantes.

E é essa a forma que ele usa para afirmar que precisa eliminar os postos de trabalho que atrapalham essa agilidade nas decisões.

“Meu compromisso é que priorizaremos uma cultura de honestidade, transparência e respeito nas próximas semanas e meses. Na próxima semana, anunciaremos uma oferta aprimorada de aposentadoria em toda a empresa para funcionários qualificados e ofereceremos um programa de inscrição para saídas voluntárias.”

Pat não confirmou quem será demitido da Intel, mas muitos dos dispensados serão chefes. A ideia é “reduzir camadas, eliminar áreas de responsabilidade sobrepostas, interromper o trabalho não essencial e promover uma cultura de maior prosperidade e prestação de contas”.

 

Por que a Intel despencou desse jeito?

Dá para condensar os motivos que explicam essa queda da Intel em cinco pontos:

  • Perda de liderança tecnológica. A Intel ficou para trás no desenvolvimento de chips para telefones celulares, e a Qualcomm e a Mediatek comeram sua torrada. A AMD também aumentou à medida que a Intel estagnou ou recuou.
  • Aposta fracassada na fabricação interna. A maioria de seus concorrentes terceirizou sua produção, mas a Intel manteve suas próprias fábricas. Isso acabou sendo ineficiente.
  • Adaptação lenta à ascensão da IA. A NVIDIA disparou graças aos seus chips de IA, mas a Intel chegou atrasada à grande revolução tecnológica da década.
  • Queda do mercado de PCs. Os PCs têm sido tradicionalmente a base dos negócios da Intel, mas é um mercado que estagnou nos últimos anos. Como se isso não bastasse, a Apple em 2020 e a Microsoft (parcialmente) em 2024 recorreram à ARM.
  • Burocracia excessiva. O CEO Pat Gelsinger, que há algum tempo tenta corrigir o rumo, já alertou: a empresa é “muito complexa” e “ineficiente”.

Quando comparamos com o que NVIDIA e AMD alcançaram no mesmo período, a queda da Intel fica algo ainda mais acachapante e preocupante.

A NVIDIA tem mais de 200% de valorização de mercado apenas em 2024, com suas receitas e lucros explodindo. A situação é tão cômoda para a empresa, que Jensen Huang, seu CEO, se deu ao luxo de menosprezar publicamente os processadores da Intel.

a AMD mais do que dobrou suas receitas, através de sua divisão de data centers e investimentos com processadores voltados para a Inteligência Artificial.

Aliás, é importante lembrar que a TSMC, como fabricante de chips, superou tecnologicamente a Intel, se tornando a principal marca quando falamos de IA na indústria.

 

Precisa sair do atoleiro

Todo esse esforço da Intel para conter gastos acontece para não deixar a situação ainda mais crítica. Porém, isso não é o suficiente para recuperar terreno.

A empresa aposta na tática em ser a principal fabricante de terceiros para uma recuperação mais imediata, aproveitando toda a sua estrutura fabril.

Só em um segundo momento vai apostar na IA, em um desenvolvimento a médio e longo prazos.

É uma estratégia arriscada, pois a corrida da IA já começou, e vai levar muito tempo para que a Intel alcance suas adversárias.

Se essa ascensão na IA não prosperar, será muito difícil para a Intel entrar de vez nesse jogo e voltar a ser a gigante que um dia já foi e, aparentemente, não é mais.

No final, a Intel pode ficar relegada a segundo plano na indústria. Se tornar coadjuvante pode ser um final triste para aquela que ajudou a construir o setor de informática tal e como conhecemos hoje.


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