É a maior intranet do planeta, e tem o controle de Vladimir Putin. A RuNet é uma alternativa do país à internet normal e corrente. O país conseguiu ficar vários dias desconectado da rede global, e os usuários não perceberam nada.
Logo, acho que vale a pena saber um pouco sobre a tal ‘internet soberana russa’, a RuNet.
RuNet tem o apoio das grandes empresas russas
RuNet é o termo denominado para o conjunto de sites que não estão disponíveis no idioma russo. Essa é uma iniciativa que faz parte do ‘Digital Economy National Program’, que tem como objetivo proteger a Rússia da influências e interferências do estrangeiro. O programa tem respaldo de Putin e conta com o apoio de grandes empresas russas como Yandex, MegaFon, Beeline, MTS ou RosTelecom.
O processo já tem anos de desenvolvimento, e seu conceito nasceu em 2014, quando as autoridades russas trabalharam em uma cópia local de todas as DNSs disponíveis no país (esse backup foi renovado em 2018). Para 2020, a Rússia quer que 95% de todo o tráfego de internet do país fique resguardado pela cópia de segurança dessas DNSs para realizar a migração para a RuNet.
Na intranet russa, todo o tráfego é direcionado para pontos aprovados e/ou controlados pela Roskomnazor, a agência de telecomunicações russa. E sem a estreita colaboração dos provedores locais, isso seria impossível.
Se Putin quiser, os internautas russos podem ficar isolados do resto do mundo, já que essa intranet impede a conexão com servidores de fora da RuNet. E isso pode acontecer a qualquer momento, pois os testes desse firewall foi finalizado em dezembro. Um relatório com os resultados dos testes será apresentado ao presidente russo ainda em 2020, e em 2021 a RuNet estaria 100% operacional, caso ela seja necessária.
Os testes foram realizados em vários períodos e duraram algumas horas, onde todo o tráfego de internet gerado no país foi redirecionado internamente. Detalhes técnicos específicos sobre os testes da RuNet não foram revelados, mas foram simulados 18 cenários de ataque provar a sua eficiência em proteger os internautas russos e, ao mesmo tempo, permitir acesso aos serviços locais utilizando o cache das DNSs.
A nova Lei da Internet Soberana da Rússia obriga a venda de dispositivos móveis com apps pré-instalados aprovados pelo governo russo. E a RuNet pode muito bem se beneficiar disso.
Como a Rússia pretende implementar a RuNet
A lei russa tem um texto muito superficial, e vários estatutos não desenvolvidos por completo precisam ser adotados. Os detalhes específicos sobre a implementação da RuNet ainda serão anunciados.
Existem pelo menos 30 pontos de intercâmbio de internet (IXP) na Rússia. O problema é que os operadores de IXPs só podem manter o acesso registrando-se dessa forma. Na prática, para se conectarem aos pontos ocidentais, é preciso registrá-los nas autoridades e cumprir os requisitos da Roskomnadzor. A RuNet pode obrigar os provedores a se desconectarem dos pontos ocidentais e comprar mais canais da Rostelekom.
Ou seja, existe um motivo econômico por trás da mudança, além de ter mais canais controlados pelo provedor estatal russo.
Mais um passo para a desintegração da internet na Rússia
Foi registrado em 2019 um aumento das regiões desconectadas da internet na Rússia por motivos políticos. Durante protestos e manifestações, foram observados bloqueios nas regiões de Archangelsk, Buryatia, Ingushetia, Pskov e Moscou.
Alexei Soldatov, um dos nomes importantes da RuNet, foi preso sob acusação de fraude. Fiscais russos o acusam de enviar centenas de milhares de endereços IP previamente administrados por instituições russas ao estrangeiro. Essa prisão seria motivada pela recusa de Soldatov em transferir o controle das terminações .su (União Soviética) e .rf (Federação Russa), que pertencem à Internet Development Foundation, para o estado.
De forma efetiva, a RuNet vai conseguir que os provedores de internet e empresas de telecomunicações configurem a internet dentro de suas fronteiras como uma gigantesca intranet. Infelizmente, a Rússia caminha para a desintegração de sua internet, reforçando sua imagem de país autoritário que deseja controlar os seus cidadãos a todo custo, tal e como acontece hoje com o Irã e a China. Seus cidadãos não terão acesso ao diálogo sobre o que acontece em seu próprio país, vivendo em uma perigosa bolha de alienação.
Via BBC, Global Voices, Internet Development Foundation