É… não está fácil para ninguém…
Quando uma empresa como a Qualcomm, uma das fabricantes mais renomadas no setor de semicondutores, com chips presentes na maioria dos smartphones Android… precisa reciclar chips do passado para “dar a entender” que é um SoC novo… é porque a situação está complicada para todo mundo.
Vou explicar.
Recentemente, a Qualcomm lançou o Snapdragon 6s Gen 3, um “novo” processador pensado nos smartphones de linha média. E aqui, sou obrigado a colocar o termo “novo” “entre aspas” porque descobriram que, na verdade, a “novidade” é uma versão reformulada de um SoC lançado há três anos.
Similaridades com processadores do passado
Essa mesma Qualcomm tem ótimos processadores, principalmente nessas séries “intermediárias” que recebem o sobrenome ‘s’. São chips que não deixam de ser processadores top de linha no desempenho, mas custam um pouco menos que os SoCs mais potentes, pois o processo de fabricação e potência bruta são um pouco menores.
Chips como o Snapdragon 8s Gen 3 para a gama alta e o Snapdragon 7+ Gen 3 para o segmento médio premium são excelentes sacadas da Qualcomm, o que ajudou a empresa a ser mais competitiva para seguir sendo dominante no mercado de smartphones. Mas o mesmo não pode ser dito sobre o Snapdragon 6s Gen 3 com a recente polêmica.
Quando olhamos para as especificações técnicas do Snapdragon 6s Gen 3, ele apresenta detalhes que lembram o Snapdragon 6 Gen 1 de 2022 e até o Snapdragon 4 Gen 1, como o processo de litografia de 6 nanômetros, núcleos Cortex-A78 e Cortex-A55, GPU Adreno 619, e compatibilidade com memórias LPDDR4X e UFS 2.2.
Isso levantou a desconfiança de especialistas em tecnologia, e os usuários mais habilidosos foram atrás do histórico de lançamentos da Qualcomm para comparar o novo processador com os chips lançados no passado. E essa galera descobriu que muitas das especificações do Snapdragon 6s Gen 3 são idênticas às do Snapdragon 695.
Um dos mais fortes indícios da “inspiração” (pois poderia ser ousado demais afirmar que a Qualcomm fez uma cópia) no Snapdragon 695 é a presença do mesmo modem Snapdragon X51 5G nos dois chips.
Onde o Snapdragon 6s Gen 3 é diferente dos demais?
A principal melhoria do Snapdragon 6s Gen 3 está nas frequências de operação, com os núcleos Cortex-A78 atingindo 2,3 GHz e os núcleos eficientes subindo para 2 GHz.
Comparado ao Snapdragon 695, que operava a 2,2 GHz e 1,8 GHz respectivamente, a melhoria é modesta e não justifica totalmente o rótulo de “novo” chip.
Na prática, não existem grandes diferenças de desempenho entre os dois processadores, de modo que o marketing da Qualcomm pode vender um discurso de hardware “novo” que entrega o mesmo desempenho do chip “velho”.
Afinal de contas… é ou não é um novo processador?
Na verdade, faz tempo que venho afirmando que os fabricantes de smartphones já se acostumaram a colocar processadores de dois ou três anos em telefones novos, entregando um hardware “velho” em novos dispositivos. Logo, não chega a ser uma grande surpresa ver a Qualcomm fazendo exatamente a mesma coisa.
Considerando o fato de que a Qualcomm deve ter um enorme estoque de componentes para processadores já lançados e que precisa usar esse inventário desenvolvido ao longo dos anos de alguma forma, fica fácil explicar essa similaridade entre os modelos de SoCs da marca.
Além disso, é crível pensar que a Qualcomm está investindo o que pode nos chips de smartphones top de linha ou premium, ainda mais agora na era da IA, onde NPUs precisam trabalhar bem com novas tecnologias de processadores.
Ou seja, muitos podem considerar que as mudanças implementadas no processador Snapdragon 6s Gen 3 não justificam o rótulo de “novo” que a Qualcomm dá para o produto, e essas pessoas não estão erradas.
Talvez elas só estejam ignorando a possibilidade de evolução desses chips em detalhes onde nossos olhos não conseguem enxergar, inclusive na forma em como os núcleos do processador vão trabalhar com o Android.
Novos SoCs tendem a ser ainda mais eficientes no processamento de dados e gestão de bateria, o que já determina um diferencial bem interessante para a usabilidade prática do usuário. E nem todo novo processador precisa ser o mais potente do planeta para agradar os usuários.
Ou seja, é uma estratégia da Qualcomm que levanta sim questionamentos sobre a sua condução no desenvolvimento de processadores da linha média. Mas não é um grande crime cometido pela fabricante líder de mercado em chips mobile.
Por outro lado, a própria Qualcomm precisa ficar atenta. Mesmo com a liderança no setor, a MediaTek aposta pesado em inovações mais chamativas para o usuário, como é o caso dos chips para dispositivos dobráveis de baixo custo.
Sem falar que os processadores da MediaTek melhoraram de forma considerável nos últimos anos.