Muitos artigos na mídia tradicional de um modo geral (e em alguns sites especializados em particular) estão usando o ChatGPT para gerar manchetes sensacionalistas e notícias falsas, e isso está se tornando um problema recorrente na mídia.
O uso dessas manchetes visa unicamente atrair cliques, muitas vezes compartilhando fatos sem base em pesquisas sólidas ou na veracidade dos fatos.
Alguns artigos afirmam que o ChatGPT pode determinar a inteligência de uma pessoa com base em suas preferências de cores, como sugerir que o marrom está ligado a pessoas menos inteligentes e o azul ou branco a pessoas mais inteligentes.
Além de serem afirmações um tanto quanto preconceituosas nos aspectos cromáticos, são baseadas em interpretações errôneas e não têm fundamento científico comprovado.
Analisando a psicologia das cores
A psicologia das cores estuda como as cores afetam as emoções e o comportamento humano, mas não há uma relação direta entre preferências de cores e inteligência.
As associações entre cores e emoções são muito mais complexas do que estabelecidas com a associação direta com a veracidade dos fatos, e podem variar de forma muito ampla entre diferentes culturas e indivíduos.
Simplificar demais a relação entre cores e inteligência é um erro grosseiro, justamente por ignorar essa complexidade de contextos e influências culturais.
A escolha de cores pode refletir uma variedade de fatores, incluindo experiências pessoais, tendências culturais e influências sociais, e não apenas a inteligência.
Cores como marrom ou cinza podem ser percebidas como “chatas” em alguns contextos, mas em outros, como no ambiente profissional, elas podem simbolizar seriedade, estabilidade e confiabilidade.
Ou seja, a percepção sobre a relevância de uma cor pode variar e muito, dependendo do contexto aplicado.
Como encarar corretamente o funcionamento do ChatGPT
O ChatGPT produz respostas com base em padrões nos dados com os quais foi treinado, e não em pensamento ou investigação própria.
Ele não tem a capacidade de raciocinar ou verificar a veracidade das informações de forma independente, o que faz inclusive com que a IA entregue “alucinações” em algumas respostas.
Como uma IA, o ChatGPT não diferencia informações corretas de opiniões subjetivas, o que pode levar a respostas que parecem convincentes, mas carecem de base factual, especialmente em áreas onde o contexto e a nuance são importantes.
Publicações que usam as respostas do ChatGPT de forma sensacionalista amplificam ideias pseudocientíficas e perpetuam preconceitos, promovendo desinformação e estereótipos que são prejudiciais para grupos específicos.
Atribuir características pessoais como a inteligência às cores alimenta estereótipos e influencia negativamente a forma como as pessoas se veem e veem os outros.
Além disso, a falta de crítica na disseminação dessas informações pode levar a mal-entendidos significativos sobre a natureza e as capacidades da IA.
É mais do que recomendado para qualquer usuário encarar as informações geradas por IA com uma atitude crítica e cética, verificando sempre as informações antes de as publicar.
Devemos exigir mais rigor e responsabilidade das nossas fontes de informação, especialmente na era da desinformação digital, promovendo uma cultura de verificação de fatos e pensamento crítico.
Fontes sugeridas:
- The Guardian sobre o uso do ChatGPT na geração de notícias: https://www.theguardian.com/technology/2023/jan/16/chatgpt-news-stories-buzzfeed-cnet
- Search Engine Journal sobre o impacto do conteúdo gerado por IA no SEO: https://www.searchenginejournal.com/impact-of-ai-generated-content-on-seo/446155/
- Verywell Mind sobre a psicologia das cores: https://www.verywellmind.com/color-psychology-2795824
- ScienceDirect sobre a influência das cores nas emoções: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S016953472200182X
- Página oficial do OpenAI sobre o ChatGPT: https://openai.com/chatgpt
- MIT Technology Review sobre as limitações dos modelos de linguagem como o ChatGPT: https://www.technologyreview.com/2023/03/24/1069585/generative-ai-revolution-history/
- Reuters sobre a disseminação de desinformação por IA: https://www.reuters.com/technology/generative-ai-could-make-it-harder-spot-election-disinformation-experts-say-2023-08-17/
- Poynter sobre os desafios do jornalismo na era da IA: https://www.poynter.org/tech-tools/2023/artificial-intelligence-tools-journalists-chatgpt/
- Nieman Lab sobre a importância da verificação de fatos na era digital: https://www.niemanlab.org/2023/01/why-2023-may-be-the-year-news-outlets-finally-embrace-a-fact-checking-beat/
- The Verge sobre o uso responsável da IA: https://www.theverge.com/2023/1/15/23555890/ai-chatgpt-dall-e-2-healthcare-dangers-machine-learning