Não faz muito tempo que escrevi um artigo abordando o throttling, mostrando as suas principais características e as evidências de sua existência nos smartphones. Sim… tem gente que não acredita que ele existe.
Agora, chegou a hora de mostrar os principais motivos para os fabricantes de smartphones adotarem o throttling, mesmo que muitos usuários considerem a prática como condenável.
A experiência dos usuários de dispositivos eletrônicos pode ser comprometida por essa prática que limita o desempenho de aplicativos e dispositivos. E entender os motivos para o nefasto efeito acontecer pode ajudar a driblar o throttling, permitindo que você extraia a máxima performance do dispositivo.
Controlar a temperatura do smartphone
Aplicativos mais exigentes consomem mais energia, o que resulta em um maior trabalho da CPU e GPU. Como consequência, o telefone gera mais calor, um efeito indesejado em qualquer transferência de energia.
Se o calor não for controlado, pode causar danos fatais ao dispositivo e seus componentes. Portanto, alguns fabricantes optam por limitar os recursos disponíveis para esses aplicativos demandantes, a fim de evitar o desgaste do dispositivo.
Essa prática de throttling também pode ser aplicada ao hardware, como quando as condições externas estão excessivamente quentes. Exemplos disso incluem o caso da Samsung, há mais de uma década, e o limite da taxa de atualização dos Google Pixel 7a.
Preservar a vida útil da bateria
Quando os aplicativos consomem menos energia, naturalmente consomem menos bateria. A autonomia da bateria é uma questão-chave para os usuários, e os fabricantes procuram minimizar a degradação da bateria e seu desempenho.
Um exemplo notável disso foi quando a Apple, com o lançamento do iOS 10.2.1, decidiu reduzir o desempenho do sistema operacional para minimizar a degradação da bateria em determinados modelos de iPhone.
Além disso, em um cenário de recursos limitados, os fabricantes priorizam outras funções consideradas mais importantes. Aplicativos que consomem mais recursos geralmente estão relacionados à categoria de entretenimento, como aplicativos de streaming ou jogos.
Diante das limitações, o smartphone prioriza alocar recursos para aplicativos com funções essenciais, como aqueles pré-instalados, software do sistema operacional ou aplicativos de segurança.
Burlar os testes de desempenho
Embora esses testes sintéticos de benchmarks não representem completamente o desempenho de um dispositivo na vida real, eles podem ser usados para comparações com outros dispositivos e até mesmo para fins de marketing.
Se o desempenho é um dos pontos fortes de um smartphone e os fabricantes buscam promover um dispositivo em relação à geração anterior, é possível divulgar os resultados dos benchmarks de aplicativos sem throttling, com o respectivo aviso de que nem todos os apps funcionarão da mesma forma.
Em 2022, houve uma polêmica envolvendo a Samsung, que evidenciou como a pontuação nos benchmarks era muito diferente quando se alterava o nome do software de testes para o de um aplicativo ou jogo qualquer.
A maioria dos usuários não percebe o throttling
Embora a prática de throttling seja questionável quando não é informada aos usuários, há um ponto a ser considerado: grande parte das pessoas não percebe o efeito negativo dessa prática, e acaba se beneficiando de suas consequências positivas.
O ideal seria informar aos usuários sobre o que está acontecendo em seus dispositivos, os riscos envolvidos e as medidas implementadas para solucioná-los. Dessa forma, você libera cada usuário para fazer aquilo que é melhor para si no smartphone.
A partir desse ponto, a questão se torna complexa: é melhor avisar sobre o throttling sem dar opção para o usuário ou permitir que ele mesmo ative esses modos de proteção, assumindo sua própria responsabilidade? Afinal, há quem invista muito dinheiro em um smartphone, e espera um desempenho exemplar em todos os momentos.
No final das contas, o tema do throttling é complexo para a indústria e para os usuários. Eu prefiro ter o controle de todos os recursos e configurações do telefone e eventualmente assumir as consequências de eventuais alterações que vou fazer no dispositivo a ficar condicionado ao que o fabricante quer. Mas entendo que a maioria não saberia lidar com tais configurações.
Quem sabe esse tema acaba evoluindo para algo que atenda a todos os perfis de uso no smartphone. Só não gostaria de ser obrigado a pagar uma fortuna em um smartphone e ter o desempenho limitado por algo que não tenho o menor controle.