O cenário empresarial internacional foi sacudido por um conflito sem precedentes entre dois dos maiores nomes do mundo corporativo global:
- o sul-africano Elon Musk, atualmente com 53 anos, comandante de um império tecnológico que inclui a Starlink, Tesla, SpaceX e diversas outras empresas de inovação;
- e o mexicano Carlos Slim, aos 85 anos, considerado durante muito tempo o homem mais rico da América Latina e controlador da América Móvil, conglomerado que administra a operadora Claro em diversos países latino-americanos.
O confronto transcende o âmbito das disputas comerciais convencionais, e começou em um local onde qualquer um de nós poderia ter começado ou continuado a briga com qualquer um deles: nas redes sociais.
O bate-boca virtual rapidamente se transformou em uma crise empresarial com repercussões financeiras concretas estimadas em bilhões de dólares, demonstrando o poder que as declarações nas redes sociais podem exercer sobre negócios consolidados e parcerias estratégicas no setor de telecomunicações.
O que aconteceu?
A origem desta disputa bilionária remonta a 23 de janeiro de 2025, quando Musk utilizou sua plataforma de comunicação, o X (anteriormente conhecido como Twitter), para fazer insinuações graves conectando o empresário mexicano a cartéis de drogas em seu país natal, sem apresentar qualquer evidência ou fundamentação para tais alegações.
A postagem, característica do estilo provocador e muitas vezes impulsivo do empresário sul-africano, gerou ondas de reação no mercado financeiro e na imprensa internacional, especialmente por envolver um empresário com a reputação e a influência de Slim.
A resposta do magnata mexicano, conhecido por sua discrição e pragmatismo nos negócios, veio na forma de uma decisão empresarial contundente: o rompimento completo de todos os contratos que suas empresas mantinham com a Starlink, o serviço de internet via satélite de Musk, causando um abalo significativo nas operações da empresa americana em toda a região latino-americana.
O contexto da acusação feita por Musk parece estar relacionado a movimentos recentes de Slim no mercado de mídia, especificamente sua aquisição de uma participação de 16,8% no tradicional jornal norte-americano The New York Times, transação concluída poucos dias antes da polêmica publicação.
A compra, por si só um movimento estratégico relevante no mercado de comunicação, foi interpretada por analistas como um possível gatilho para a reação de Musk, conhecido por suas críticas frequentes à imprensa tradicional.
O magnata mexicano, que construiu sua fortuna principalmente no setor de telecomunicações e expandiu para áreas como mineração, construção e serviços financeiros, viu na acusação infundada uma tentativa de macular sua reputação construída ao longo de décadas, e respondeu com uma medida que afeta diretamente os interesses comerciais do adversário.
As consequências da decisão de Slim
As consequências práticas desta ruptura começaram a se materializar ainda em fevereiro, quando a América Móvil iniciou o processo de encerramento de diversos acordos comerciais e tecnológicos que mantinha com a Starlink.
Tais contratos abrangiam colaborações estratégicas para a expansão de internet via satélite e serviços de backhaul (conexões de alta capacidade que interligam as redes) em vários países da América Latina, incluindo mercados importantes como México e Colômbia.
Informações de bastidores indicam que a empresa de Slim já estaria em negociações com concorrentes diretos da Starlink, como Hughes e Intelsat, para substituir as parcerias técnicas e manter suas operações sem interrupções.
A rápida movimentação demonstra tanto a capacidade de adaptação da América Móvil quanto a existência de alternativas viáveis no mercado de conexões por satélite, um sinal preocupante para a estratégia de expansão global da Starlink.
O impacto financeiro desta decisão para a empresa de Musk é estimado em aproximadamente US$ 7 bilhões, uma cifra expressiva mesmo para um empreendimento do porte da Starlink, que vinha apostando fortemente em sua expansão na América Latina como parte de sua estratégia global.
Para Slim, a ruptura se alinha com sua filosofia empresarial histórica de priorizar investimentos próprios e manter independência operacional. Não por acaso, a América Móvil anunciou recentemente um ambicioso plano de expansão avaliado em US$ 22 bilhões, a ser implementado até 2027, com foco no desenvolvimento de infraestrutura própria e na adoção de tecnologias de ponta, incluindo soluções alternativas para a conectividade em áreas remotas, justamente o nicho onde a Starlink tem sua maior vantagem competitiva.
Outros que serão afetados pela decisão
A decisão de Slim, embora claramente motivada pelo ataque pessoal, terá ramificações que vão muito além das duas empresas diretamente envolvidas.
O rompimento afetará pequenas e médias empresas em áreas rurais, setores como agricultura e mineração, além de instituições governamentais que dependiam da tecnologia de satélite da Starlink para manter suas operações em regiões com infraestrutura terrestre limitada.
Na prática, o bate-boca entre Musk e Slim pode ter consequências concretas para consumidores finais e pequenos comerciantes, o que pode prejudicar o desenvolvimento econômico regional, especialmente em um setor tão fundamental como o de telecomunicações, considerado essencial para o crescimento econômico e a inclusão digital.
A repercussão do caso chegou até o âmbito político, com a Presidente do México, Claudia Sheinbaum, manifestando-se publicamente em defesa de Carlos Slim, um dos empresários mais influentes do país.
Ainda que o conteúdo específico de sua declaração não tenha sido detalhado no artigo original, a menção ao posicionamento da mandatária evidencia a dimensão que a controvérsia assumiu, ultrapassando as fronteiras do mundo corporativo e adentrando a esfera política e diplomática, com potenciais implicações para as relações entre México e Estados Unidos, especialmente no que tange a investimentos tecnológicos estrangeiros no país latino-americano.
Para Elon Musk, conhecido por suas estratégias disruptivas e presença constante nas redes sociais, o episódio representa um revés em uma região considerada estratégica para seus planos de expansão global.
A perda do apoio logístico e comercial da América Móvil impõe à Starlink problemas operacionais em um momento em que a empresa já enfrentava crescente competição no mercado de internet via satélite.
Analistas sugerem que, para manter sua competitividade na região, a empresa de Musk precisará não apenas buscar novas parcerias locais, mas possivelmente revisar sua abordagem de comunicação e relacionamento com stakeholders regionais, adaptando-se às particularidades culturais e empresariais da América Latina.
O episódio serve como mais um eloquente sinal de alerta sobre os riscos inerentes à intersecção entre comunicação digital e negócios globais na era contemporânea. A facilidade com que declarações podem ser feitas em plataformas como o X contrasta com a complexidade das repercussões que podem gerar no mundo real, especialmente quando envolvem figuras com o poder econômico e a influência de Musk e Slim.
A disputa entre dois dos homens mais ricos do planeta deixa evidente como as novas dinâmicas de comunicação digital podem afetar negociações, parcerias e estratégias corporativas consolidadas, criando vulnerabilidades inesperadas mesmo para empresas tecnologicamente avançadas como a Starlink.
Não sabemos se a queda de braço entre os dois magnatas vai continuar. Mas é certo dizer que o braço de Musk está meio dolorido, ainda mais quando bilhões de dólares deixam de entrar no seu bolso.
Quem sabe se Musk segurasse um pouco mais a onda sobre suas opiniões… mais do que isso: se entendesse que certas coisas simplesmente não podem ser ditas em uma rede social que faz qualquer mensagem relevante viralizar rapidamente.
A comunicação digital imprudente pode desencadear consequências comerciais concretas e duradouras, mesmo entre os players mais poderosos do mercado global.
Via Época Negócios