A imagem do Google como local de trabalho ideal com escritórios de espaços abertos, áreas de lazer, serviços como massagens, aulas de ioga e alimentação gratuita está sendo desmantelada. O processo é semelhante ao abandono do lema “Don’t Be Evil”, que caracterizava a empresa perante o público e seus colaboradores.
A empresa está passando por uma transformação profunda em sua estrutura organizacional e cultural, deixando para trás o ambiente de trabalho utópico e adotando uma realidade corporativa mais convencional, menos idílica e distante daquela que a tornou um empregador altamente desejável no mercado de tecnologia.
O resultado disso não poderia ser outro: cada vez menos profissionais de tecnologia estão interessados em trabalhar na gigante de Mountain View, e nem podia ser diferente.
Um ambiente tenso no lugar de comida de graça
O antigo equilíbrio entre bem-estar dos funcionários e produtividade, que era um pilar da filosofia de trabalho do Google, está desaparecendo em meio a uma série de demissões contínuas e à eliminação sistemática dos privilégios que definiam a experiência única de trabalhar na empresa.
Mais de 13.000 funcionários foram demitidos no último ano, criando um clima de tensão para aqueles que permanecem. Além das demissões, quem fica tem que lidar também com o retorno forçado aos escritórios.
E quando voltam, esses funcionários descobrem que muitos benefícios foram eliminados, como alimentação gourmet gratuita e instalações de lazer.
A estratégia do CEO Sundar Pichai de implementar demissões escalonadas ao longo do ano gerou um ambiente de incerteza e medo generalizado entre os trabalhadores, afetando diretamente seu envolvimento e compromisso com projetos da empresa.
A cultura corporativa que antes incentivava a inovação através de projetos experimentais e dedicação de tempo à criatividade pessoal está em declínio. Os funcionários estão cada vez mais relutantes em se candidatar a projetos paralelos ou investir tempo extra em iniciativas não diretamente relacionadas aos objetivos comerciais imediatos.
Quem fica se sente obrigado a ficar
Um crescente distanciamento está ocorrendo entre os funcionários e a empresa, exemplificado pelo depoimento da engenheira de software Diane Hirsh.
Ela declarou em seu perfil do LinkedIn que pretende apenas fazer seu trabalho até que seja demitida, o que é um reflexo do sentimento de desmotivação que se espalha pela organização.
Muitos funcionários atuais do Google só estão lá hoje apenas por questões financeiras (o que alguns estão chamando de “algemas de ouro”), com o engajamento diminuiu drasticamente. Os prédios da empresa estão se esvaziando mais cedo, com o fim do trabalho voluntário em horas extras ou fins de semana.
A mudança no ambiente e na cultura corporativa está afetando também a capacidade de inovação da empresa, apesar de um aumento de 52% nos lucros no último trimestre de 2023, gerando críticas internas quanto à falta de força inovadora em comparação com concorrentes como a OpenAI.
Considerando o fato de boa parte dos novos profissionais em tecnologia serem membros da Geração Z, e que esse grupo etário não tolera mais ambientes laborais como esse, eu tenho sérias dúvidas sobre onde o Google vai chegar com tais medidas.
Apenas o tempo dirá se o Google conseguirá encontrar um novo equilíbrio que satisfaça tanto seus acionistas quanto seus funcionários, que são fundamentais para manter sua capacidade de inovação no mercado tecnológico.
Por enquanto, o que temos aqui é muita gente insatisfeita.
E funcionário infeliz não gera lucros.
Via Genbeta