Existem alguns padrões de comportamento e etiqueta nas redes sociais que precisam ser seguidos com certa frequência para um bom convívio com o coletivo.
Por exemplo, as letras maiúsculas.
Elas carregam uma intensidade que, em contextos escritos, equivale a GRITAR DURANTE UMA PALAVRA OU FRASE.
Essa percepção é quase instintiva, dentro e fora das redes sociais, pois a leitura de um texto com letras maiúsculas leva automaticamente à interpretação como algo dito em tom elevado ou enfático.
É uma convenção que se popularizou no mundo digital, e é normalmente utilizada para transmitir fortes emoções. Mas a grande novidade disso tudo é que esse entendimento existe desde muito antes das redes sociais serem inventadas.
Isso vem da década de 1980
O uso das maiúsculas como representação de grito começou a ser documentado na década de 1980, nos primórdios da internet.
Fóruns como o Usenet foram fundamentais nesse processo. Em 1984, um usuário do grupo de discussões net.jokes.d explicou que o uso de maiúsculas significava “estou tentando GRITAR”.
A ausência de recursos como negrito, itálico ou sublinhado nos sistemas digitais da época fez com que as maiúsculas se tornassem a forma mais prática e visível para dar ênfase a mensagens.
Outros métodos como o uso de asteriscos ou espaçamento entre letras foram testados, mas não se mostraram tão acessíveis quanto as maiúsculas.
Sua simplicidade e impacto visual garantiram sua predominância nas interações digitais e na linguagem informal, e isso perdurou até os dias de hoje.
Agora… se procurarmos mais um pouco sobre as origens das letras maiúsculas como “ESTOU TENTANDO CHAMAR A SUA ATENÇÃO”, podemos encontrar origens ainda mais distantes das redes sociais atuais.
Precedentes históricos do século 19
Apesar de associarmos o uso das maiúsculas ao universo digital, registros históricos indicam que a prática de associar letras maiúsculas a gritos remonta ao século 19.
Tecnologias da época como o telégrafo e as máquinas de escrever tinham limitações semelhantes às dos sistemas digitais iniciais, impossibilitando a criação de formatos mais sofisticados para a representação de intenções ou emoções nos textos.
Jornais nos EUA e Reino Unido já utilizavam as maiúsculas para representar gritos em seus textos. Um exemplo disso é um relato de 1856 que menciona explicitamente: “Desta vez ele gritou com letras maiúsculas”.
Um marco relevante neste aspecto vem de 1852, com a publicação “Cantando para Escolas e Congregações”, que sugeria o uso de letras maiúsculas em textos impressos para destacar palavras que deveriam ser cantadas mais alto.
Tal orientação foi um precursor explícito da associação entre letras maiúsculas e intensidade, mostrando que desde sempre o ser humano tinha esse entendimento interpretativo na leitura de textos.
A percepção psicológica das MAIÚSCULAS
De acordo com estudos tipográficos como os do especialista Paul Luna, o uso de maiúsculas é percebido como agressivo porque elas dominam o espaço visual nos textos.
Elas removem sutilezas e tornam a mensagem mais direta e impositiva, similar a uma pessoa gritando conosco.
Em ambientes digitais, onde não há entonação ou volume, as maiúsculas surgem como uma compensação para a ausência de nuances na comunicação textual.
E não tem muito por onde fugir desse entendimento. Qualquer pessoa que usa as redes sociais ou comunicadores instantâneos hoje sabe muito bem que o uso e o entendimento das letras maiúsculas nas comunicações seguem esse mesmo sentido ou finalidade.
Apesar das críticas ao uso excessivo das maiúsculas, elas continuam sendo uma ferramenta prática para transmitir intensidade ou intenção em algo que é frio por si, como é o caso das palavras.
Emojis, GIFs e formatações como negrito e itálico são alternativas mais suaves e expressivas, mas até esses métodos levam a entendimentos subjetivos sobre o que foi dito.
Ao que tudo indica, o uso das maiúsculas vai continuar por conta da simplicidade e objetividade. Podem até existir algumas campanhas para abolir a tecla “Caps Lock” dos teclados dos dispositivos, mas entendo que a eficiência na comunicação deve prevalecer.
Por mais controverso que seja GRITAR COM ALGUÉM QUE VOCÊ NEM CONHECE.