Era uma vez, em um universo onde o tempo parecia dilatar e contrair de acordo com a vontade de uma barra verde instável, vivia a lendária Barra de Progresso do Windows.
Com os sistemas informáticos atuais, copiar e transferir arquivos no Windows se tornou um processo relativamente prático e rápido. Mesmo os grandes volumes de dados, como os filmes que você consegue de formas alternativas podem ser transferidos do SSD para um SSD externo em um tempo muito menor.
Mas no passado, não era assim. E a Barra de Progresso do Windows foi um elemento que causou muitos traumas em diferentes usuários de computadores das últimas três décadas.
Seu habitat natural era a pequena janela de cópia de arquivos, que oscilava entre previsões otimistas e delírios de ficção científica.
“Faltam 2 minutos” se transformava, do nada, em “39 anos restantes”.
Por que diabos isso acontecia?
Uma vida inteira de espera
A história de hoje começa com o João, um veterano da tecnologia e sobrevivente das muitas iterações do Windows, desde o Windows 95 até o moderníssimo Windows 11.
Ele costumava dizer que sua paciência foi moldada pelas horas intermináveis encarando aquela barra de progresso. Mas em um determinado dia em particular, ele e sua paciência seriam testadas ao extremo.
João precisava transferir uma modesta quantidade de dados – uns 180 MB, nada que fosse digno de uma espera muito longa.
Ele clicou em “Copiar” e, como era de costume, a janela apareceu com a mensagem: “Calculando tempo restante”. Os primeiros 30 segundos foram bem tranquilos, quase bucólicos.
Até que a tal barra engasgou como um carro velho subindo uma ladeira. De repente, o Windows decretou que a operação levaria nada menos que 39 anos para ser concluída.
Isso mesmo. Muito mais do que vários casamentos infelizes que nós testemunhamos ao longo de nossas vidas.
A mente do João o transportou para um futuro em que ele, já idoso e com sérios problemas de visão, ainda estaria ali, sentado na mesma cadeira, esperando a conclusão da transferência.
A famigerada Barra de Progresso do Windows parecia zombar dele, que ficava ali parado, olhando para a tela do computador como um pateta, tentando prever o que viria no próximo minuto.
João não ficou 39 anos esperando a conclusão daquela transferência de arquivos, mas sempre quis saber por que o Windows dava essas alucinadas nas estimativas desse tipo de tarefa.
Agora, temos algumas respostas sobre o assunto. E de alguém de dentro da Microsoft.
Por que 39 anos?
David Plummer, o homem por trás da criação dessa peculiar entidade chamada Barra de Progresso do Windows, certa vez comparou o elemento a um passageiro desorientado no transporte público.
“No início, ela não sabe se você vai de bicicleta, trem ou foguete, então faz o melhor palpite com as informações que tem”, explicava ele em um vídeo repleto de autodepreciação sobre a sua própria criação.
Bom, ao menos o David tem a capacidade de fazer autocrítica, e está bem consciente de que atrapalhou a vida de muita gente ao criar um elemento de software que não era tão otimizado assim.
Agora, vamos falar do problema com uma visão um pouco mais técnica.
O shell do Windows não sabe exatamente qual é o tipo de arquivo que ele está copiando ou movendo, porque… simplesmente não tem como ele saber.
Embora o shell saiba o número total de bits que ele tem que copiar, isso é apenas um fator no resultado ao prever quanto tempo o processo vai levar para ser concluído.
Na maioria das vezes, não é tão simples quanto 2 + 2 = 4, e o shell não pode saber exatamente quanta largura de banda será gratuita no próximo minuto.
Ele não sabe o quão ocupado o disco estará, ou o barramento, ou quão saturado o SSD é ou se o cache precisa ser reescrito, etc.
João não sabia dessa explicação técnica e, naquele momento, pouco se importava. Ele estava ocupado demais imaginando o drama interno da barra de progresso.
Aliás… lembra do teste de paciência que o João iria passar por causa desse problema? Parece que ele superou com sucesso, pois ele até chegou a pensar:
“Talvez ela esteja confusa porque um arquivo é uma foto da minha viagem ao Rio e o outro é uma planilha cheia de fórmulas de orçamento. Quem sou eu para julgar?”
Enquanto a barra fazia sua dança errática, indo de 39 anos para 12 minutos e depois de volta para 2 horas, João começou a filosofar, já que tudo indicava que ele teria tempo de sobra para isso.
Talvez a barra de progresso fosse uma metáfora para a vida: sempre cheia de promessas e incertezas, avançando lentamente, mas de forma errática, até que, de repente, tudo acaba antes que você perceba.
Para passar o tempo, ele decidiu narrar o processo em suas redes sociais. Publicou uma foto da tela com a seguinte legenda:
“Dei entrada no processo de cópia. Espero que o Windows não me peça certidão de nascimento para comprovar que estou vivo quando terminar.”
A postagem viralizou, com milhares de comentários de usuários compartilhando suas próprias experiências traumáticas com barras de progresso temperamentais.
Em algum canto da internet, Dave Plummer viu a postagem do João e riu. Ele sabia que, apesar de seus esforços para tornar a barra mais precisa, ela continuava sendo um ícone da cultura tecnológica – e também uma amarga lembrança que os usuários de tecnologia mais veteranos ainda guardam na mente.
Mesmo porque leva muito tempo para esquecer momentos desagradáveis. Alguns de nós precisam apelar para terapeutas para contornar os traumas.
No fim das contas, João completou a transferência dos arquivos. Demorou 10 minutos, mas para ele pareceram 39 anos.
Ele desligou o computador com um sorriso irônico, agradecendo silenciosamente à barra de progresso por mais uma lição de paciência e resiliência.
Afinal, se até ela conseguia concluir sua missão de transferir os seus arquivos sem surtar, por que ele não conseguiria enfrentar as dificuldades da vida?
Mesmo porque… nenhum problema da vida real dura 39 longos anos.
Exceto é claro o seu casamento infeliz.