É absolutamente correto dizer que o plano da maldita da Netflix funcionou também no Brasil. Tudo o que ela fez que nós acreditamos que resultaria em uma profunda crise ou fuga de usuários resultou exatamente no contrário, provando que nós não entendemos nada desse negócio de TV por streaming.
De acordo com um pacote comercial compartilhado recentemente com agências de publicidade, a Netflix ultrapassou a marca de 25 milhões de assinantes no Brasil. Olhando apenas para esses números, poderíamos dizer que as medidas impopulares que a plataforma tomou por aqui (aumento de preços em escala, fim da divisão de contas, fim do plano Básico sem Anúncios etc.) funcionaram.
Mas a parte mais surpreendente vem agora: desses 25 milhões, 12 milhões estão no plano Básico com Anúncios, que custa R$ 20,90 mensais em troca de publicidades veiculadas durante os filmes e episódios de séries.
Um acerto de R$ 250 milhões mensais
Para você ter uma ideia de como esses 12 milhões que pagam mensalmente o Plano Básico com Anúncios fazem uma enorme diferença para a Netflix, os ganhos gerados por esse grupo para a plataforma é de nada menos que R$ 250 milhões. Todos os meses.
Qual plataforma de streaming não gostaria de receber isso de forma regular.
Sem falar que é um dinheiro que, na sua grande maioria, vem de usuários que dividiam contas com outras pessoas. Ou seja, é um dinheiro que a Netflix NÃO GANHAVA DE JEITO NENHUM!
Os assinantes do plano com publicidade são muito valiosos para a Netflix. É por causa deles que a plataforma pode cobrar dos anunciantes entre R$ 3 milhões e R$ 15 milhões pelo espaço publicitário veiculado nas séries, filmes e eventos esportivos do serviço.
É muito dinheiro, minha gente. E diante desses números, eu humildemente me curvo diante da sabedoria de Reed Hastings e Ted Sarandos.
O Brasil é o segundo maior mercado da Netflix em termos de assinantes, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. E isso, porque muitos saíram da plataforma de streaming após a sua mudança estratégica.
Por fim, a receita global da Netflix cresceu 16% em 2024, ultrapassando a casa dos US$ 10 bilhões pela primeira vez.
O que dizer diante de tudo isso?
Todas as discussões sobre a validade dos movimentos da Netflix nos últimos anos foram encerradas. Não, melhor. Mais do que isso: obliteradas.
Você pode até achar que os números são frios, que tem muitas pessoas descontentes com a Netflix, que o conteúdo da plataforma perdeu a qualidade e que pagar quase R$ 60 por mês no plano Premium é um absurdo.
E eu vou concordar com você em todos os argumentos levantados.
Mas… uma afirmação não exclui a outra neste caso.
A Netflix passou a primeira metade de sua existência atuando como um fornecedor de substâncias ilícitas: construiu uma geração inteira de usuários que ficaram viciados na sua experiência de entretenimento.
Agora, ela pode cobrar o que quiser para que os assinantes mantenham o seu vício. E apenas os mais sóbrios vão reclamar dos preços e das decisões.
E o que é mais grave diante de tudo isso é que as demais plataformas de streaming vão seguir os mesmos passos da Netflix, reforçando ainda mais o fim do compartilhamento de senhas, os planos com publicidade e aumento de preços em escala.
E os nossos pobres cartões de crédito que lutem diante de tudo isso.
Via F5 – Folha