Você pode pensar o que quiser da luta entre Jake Paul e Mike Tyson, realizada na última sexta-feira (15). Inclusive pensar que aquilo não foi uma luta, e que o resultado foi totalmente desconectado da realidade.
Para os mais exigentes, tudo o que aconteceu no ringue foi uma encenação. Ou uma luta de demonstração em nome do entretenimento, que é como devemos ver o duelo de forma efetiva. E está tudo bem: se você queria ver uma luta de boxe a sério, simplesmente iria assistir aos duelos anteriores dentro do card principal.
Mas ninguém pode dizer que o evento em si foi um sucesso… e, ao mesmo tempo, um fracasso para a Netflix, deixando um gosto agridoce na boca dos seus executivos.
O que deu certo no evento
A luta entre Jake Paul e Mike Tyson conquistou um recorde de audiência global, com cerca de 60 milhões de famílias sintonizando o evento. No ponto mais alto, 65 milhões de usuários assistiram simultaneamente.
Poucas vezes tantas pessoas ao mesmo tempo assistiram a um evento via streaming, o que já é um feito histórico por si.
Antes dessa luta, a Netflix já havia alcançado um marco com a disputa entre a porto-riquenha Amanda Serrano e a irlandesa Katie Taylor, que atraiu quase 50 milhões de espectadores.
Esse evento se tornou um dos mais assistidos no boxe feminino nos Estados Unidos, ajudando a promover a modalidade no planeta e solidificando a tendência de transmissões esportivas ao vivo na plataforma de streaming.
Algo que a própria Netflix disse que não vislumbrava em um futuro a médio e longo prazos. Mas… todo mundo pode mudar de ideia, não é mesmo?
O evento “PaulTyson” se destacou como o assunto mais comentado no Twitter globalmente, enquanto o nome “Serrano” manteve-se no topo dos trending topics em países como Brasil e Estados Unidos.
A repercussão do evento nas redes sociais mostrou (mais uma vez) como os eventos esportivos ao vivo ainda levantam engajamento entre os usuários, ampliando a visibilidade e aumentando a relevância como evento televisivo.
Com receitas de bilheteira que ultrapassaram os US$ 18 milhões, a luta estabeleceu um novo recorde de arrecadação fora de Las Vegas. É um negócio com enorme potencial lucrativo, e pode ditar as novas regras dos serviços de streaming.
Sempre entendi que, a partir do momento em que as plataformas de streaming apostassem nos esportes ao vivo, a TV a cabo ou por assinatura tal e como conhecemos estaria com os dias contados.
Pois bem… Netflix, Max, Disney+, Amazon Prime Video, Paramount+… todas estão, de alguma forma, flertando com os esportes ao vivo. O que significa que o relógio começou a correr para a TV por assinatura tradicional.
Mas… nem tudo foi flores para a Netflix na luta entre Paul e Tyson.
O que deu errado no evento
Apesar dos números impressionantes, a luta enfrentou críticas quanto à qualidade do combate. Algo que, convenhamos, já era esperado, e nem acho algo tão grave assim.
Aos 58 anos, Mike Tyson mostrou limitações de técnica e movimentos, com apenas 18 socos efetivos, o que gerou uma percepção de frustração entre os fãs e especialistas.
De novo: foi uma exibição em nome do entretenimento (e do dinheiro que ele e Jake Paul ganharam para protagonizarem o show).
Quem esperava uma luta de alto nível simplesmente se iludiu porque quis, pois a proposta nunca foi a entrega de um grande espetáculo esportivo.
Mas isso é algo que não está no controle da Netflix. A qualidade final da transmissão ao vivo, que foi o grande desafio da plataforma neste evento, esse sim deixou muito a desejar, sendo o grande ponto de crítica de internautas de todo o planeta.
Durante a transmissão ao vivo, muitos espectadores relataram cortes e instabilidade no sinal, o que comprometeu a experiência de quem assistia. As falhas se tornaram um ponto central nas críticas pós-evento nas redes sociais.
Para a grande maioria dos usuários, assistir aos 8 rounds da luta principal foi uma missão hercúlia, ou como descrito pelo editor do The Verge:
“Para a grande maioria da luta de 8 rounds, eu tive que me apoiar fortemente na capacidade do meu cérebro de construir uma imagem coesa a partir de muito pouca informação para ter uma ideia do que estava acontecendo.”
E não foram apenas os meros mortais que reclamaram da transmissão ao vivo da luta entregue pela Netflix na última sexta-feira.
Celebridades como Magic Johnson expressaram publicamente seu descontentamento com o evento, e hashtags como “Unwatchable” (“Impossível de assistir”) viralizaram ao longo de todo o evento.
Agora, quem está preocupado com tudo isso (e com razão) são os fãs da NFL, já que os jogos de Natal da liga de futebol americano serão transmitidos este ano pela Netflix.
Em 2024, um dos jogos de Natal da NFL terá como um dos times participantes ninguém menos que o Kansas City Chiefs, o atual campeão da liga. No ano passado, o time também jogou durante o feriado natalino, e seu jogo atraiu nada menos que 30 milhões de espectadores SÓ NOS EUA.
Tá, você pode até dizer que o futebol americano não é tão popular quanto Mike Tyson ao redor do mundo. Mas o desafio para a Netflix será o mesmo, e a plataforma vai ter que dar conta dessa demanda de torcedores tentando assistir ao jogo online.
É importante lembrar que os números estimados de audiência foi de 60 milhões de assinantes. Porém, diferente da palhaçada que o Disney+ faz no Brasil (em deixar os principais eventos esportivos exclusivos para os assinantes do plano Premium), a luta entre Jake Paul e Mike Tyson estava liberada para cada um dos seus 283 milhões de assinantes ao redor do planeta.
Ou seja, é bem provável que a plataforma tenha enfrentado enormes dificuldades para suportar a enorme demanda de usuários que queriam assistir ao evento.
De qualquer forma, está claro que a Netflix terá que trabalhar no gerenciamento de sua plataforma nas grandes transmissões ao vivo, investindo ainda mais em infraestrutura para dar conta dos futuros eventos.
Afinal de contas, a plataforma cobra preços elevados dos planos Premium justamente para isso: garantir a melhor qualidade possível na transmissão desses eventos.