Aí eu pergunto para vocês: o que adianta uma empresa vender mais de cinco milhões de unidades de um produto em um único final de semana, se uma boa parte dessas unidades vendidas chegam simplesmente mal montadas, ou com qualidade abaixo do esperado?
O que acontece: um editor do site 9to5Mac, proprietário de um iPhone 5, enviou um e-mail para o vice-presidente sênior de marketing da Apple, Phil Schiller, falando sobre as marcas encontrados no smartphone novo, enviado pela própria Apple. O editor pergunta se a Apple pretende fazer alguma coisa a respeito.
E a resposta de Schiller foi praticamente ditada do além por Steve Jobs: “marcas e arranhões é algo ‘normal’ para qualquer produto com alumínio’. Não acredita? Veja, na íntegra, a resposta recebida pelo pessoal do 9to5Mac:
Para mim, essa resposta do Phil quer dizer muitas coisas.
A primeira delas é que a Apple não vai fazer o recall do iPhone 5, pelo menos, por enquanto. A empresa de Cupertino está trocando unidades de produtos que apresentam o defeito de vazamento de luminosidade da tela (que já foi discutido aqui no blog). Porém, para defeitos que denotam claramente ou uma má qualidade na montagem do produto (caso dos amassados na região da antena) ou que o projeto final do produto foi, de novo, mal concebido (arranhados na carcaça traseira), não serão substituídos.
O motivo? A Apple vai claramente “se dar” o benefício da dúvida, insinuando que tais problemas (que começam a aparecer em série, nos fóruns de discussão da empresa) podem muito bem ter sido produzidos pelo usuário, o que exclui a empresa de qualquer responsabilidade ou compromisso de troca.
Não me surpreende a resposta de Schiller. É o padrão da Apple dizer “nós estamos certos, você é que está errado”, em diversas oportunidades. O caso clássico foi o do iPhone 4, que tinha um claro erro de projeto no posicionamento de suas antenas. E o que Steve Jobs disse ao ouvir as primeiras reclamações? “Vocês estão segurando o iPhone 4 da maneira errada!”.
O que mais impressiona é que, a cada dia, mais e mais indícios que o iPhone 5, apesar de ser um sucesso inicial de vendas, pode se tornar o primeiro grande fracasso da “era pós-Jobs”. Não no quesito vendas, pois muita gente vai comprar o produto, mesmo que ele sequer funcione. Mas pelo fato da Apple baixar o nível de qualidade do mesmo. Por qual motivo? Não faço a menor ideia. Mas os problemas revelados no novo iPhone são motivos suficientes para que o sinal amarelo fique ligado.
Uma das respostas desses problemas físicos no iPhone 5 pode estar nos corredores das fábricas chinesas da Foxconn. Com 150 mil funcionários envolvidos na fabricação do novo smartphone da Apple, eles não conseguem cobrir a demanda de encomendas feitas para os lançamentos em diferentes mercados em todo o planeta. E os últimos incidentes registrados em uma de suas fábricas, que foi fechada depois de protestos por casos de maus tratos de funcionários, a situação acaba se tornando ainda mais crítica.
Dentro desse cenário, é normal imaginar que, com a Foxconn sobre pressão para entregar o estoque exigido, que os produtos sejam entregues com uma qualidade de montagem abaixo do esperado. Mesmo assim, não é motivo para Schiller dar a desculpa do “faz me rir”. Afinal de contas, pra que essa pressa toda, Apple? Apenas para mostrar números “mágicos e revolucionários”? Para dar uma resposta para a Samsung, e mostrar que elas não possuem o impacto mercadológico que os seus produtos possuem? Para registrar recordes?
Não há motivo para isso. A Apple já é gigante, sem precisar usar dessa pressa toda.
A ambição demonstrada pela empresa da maçã fez com que ela tropeçasse em um quesito onde ela sempre se orgulhou de ser uma de suas pilastras básicas: a qualidade. Qualidade essa que reforça a boa imagem da marca entre os consumidores e, por consequência, no resto do mercado. É muito erro em um produto só: o iOS Mapas, que é uma porcaria, o Siri com conflitos de localização, aparelhos amassados e arranhados vindos de fábrica, vazamentos de luminosidade da tela em uma carcaça mal montada… ah, e a última: problemas de estática no teclado virtual. Veja no vídeo abaixo.
Logo, o descaso de um executivo da Apple sobre essa sequência de problemas não chama a atenção. O alarmante é que esses problemas vieram todos de uma vez. Não me lembro da última vez que a Apple lançou um produto com erros tão bizarros e grosseiros, mostrando uma falta de cuidado e desleixo poucas vezes vista em Cupertino.
É… quando Steve Jobs estava por aqui, essas coisas não aconteciam…
Via BGR.com, 9to5Mac, BGR.com, CNET