Você está em | Home | Tecnologia | Onde estão as nossas fotos de 2004?

Onde estão as nossas fotos de 2004?

Compartilhe

Posso dizer que eu era uma pessoa feliz em 2004.

Recém-casado com a mulher que amava, ainda não sabia o que era passar horas e horas escrevendo em blogs ou gravando vídeos para a internet, e com metade dos problemas de saúde que hoje devoram o meu organismo.

Eu deveria ter guardado mais lembranças dessa época, tanto em fotos como em vídeos. Porém, celulares com câmeras decentes eram raros no passado, e apenas os mais ricos contavam com câmeras digitais de qualidade.

E… não… eu não estou falando da Tekpix.

Então… onde foram parar as minhas fotos de 2004?

 

Minhas fotos de 2004 simplesmente desapareceram

Se eu procuro no meu acervo de fotos digitais, não encontro registros do ano de 2004 ou anteriores. É como se esses anos não existissem.

Na minha conta do Google Fotos, até tenho duas fotos registradas em 2002, mas que estão completamente fora de contexto. A maioria das imagens mais antigas são de 2008 para frente, o primeiro ano que comecei a escrever sobre tecnologia na internet…

…e que me obriguei a ter no mínimo uma câmera digital para o meu trabalho.

Coincidência? Estou duvidando…

Nem mesmo fotos físicas daqueles anos eu tenho guardadas comigo. Algumas poucas fotos que, pela falta de cuidado no armazenamento, acabaram estragando.

A ausência de registros de imagens de 20 anos atrás está diretamente relacionada com a minha limitação tecnológica. Seja porque eu era mais pobre do que sou hoje, seja porque os dispositivos da época eram bem limitados.

Coincidência ou não, 2004 é o ano que marca a transição de forma definitiva do modo analógico para o digital no registro fotográfico.

Este foi o primeiro ano que as câmeras de filme começaram a ser substituídas de forma definitiva pelas câmeras digitais. E isso transformou para sempre a nossa relação com os registros fotográficos.

E quase ninguém percebeu que armazenar fotos no formato digital era mais complicado em 2004 do que é hoje. Afinal de contas, era tudo novo para todo mundo, e a gente não sabia direito o que estávamos fazendo.

 

A transição do analógico para o digital

Com as câmeras digitais no padrão “point and shoot” (as mais populares para os usuários domésticos), o processo de armazenar e imprimir fotos se tornou um pouco mais complexo e menos automatizado, por incrível que pareça.

Em 2004, as tecnologias de backup de fotos eram limitadas, com discos rígidos de baixa capacidade e velocidades de transferência lentas, dificultando a preservação adequada das imagens.

Ter um cartão de memória que funciona ou era uma questão de sorte, ou o fato de você pagar caro pelo acessório. E nem pense em transferir imagens de grande tamanho em alta velocidade entre a câmera e o computador.

O armazenamento na nuvem ainda era algo embrionário, e poucas plataformas estavam emergindo e ganhando popularidade.

Por exemplo, serviços como como Photobucket e Flickr ofereciam novas formas de compartilhar e armazenar fotos online, mas com muitas limitações.

Mesmo assim, foram serviços que conquistaram um grande público, pois era uma alternativa mais prática para compartilhar fotos com outras pessoas do que depender de emprestar um cartão de memória de câmera.

Tudo era realmente muito difícil para todo mundo, mas todos nós convivíamos com isso, no mais genuíno modo “é o que temos para hoje”.

Até que vieram os celulares com câmera e, principalmente, os smartphones modernos. E tudo muda novamente.

 

O impacto das câmeras nos celulares

A chegada dos celulares com câmera deixou esse processo de armazenamento e compartilhamento de fotos um pouco mais prático, e até mesmo o hábito de registrar fotos no dia a dia se tornou algo mais presente na vida das pessoas.

A ascensão da telefonia móvel junto ao grande público foi a principal mola propulsora para promover essa mudança de comportamento.

Mesmo assim, a qualidade final das fotos era de baixa qualidade. Algo absolutamente normal para uma tecnologia de fotografia digital em telefones que estava apenas começando.

E os problemas de perdas de fotos ainda eram muito frequentes, tanto por conta das falhas de hardware e software como também pela perda dos próprios celulares.

Todo mundo passou a carregar produtos muito pequenos e práticos, mas muito fáceis de serem perdidos ou roubados. E muitos de nós perderam parte das memórias em fotos dessa mesma forma: esquecendo o celular no bar ou perdendo o telefone no transporte público.

Podemos dizer que a qualidade fotográfica nos dispositivos móveis só começou a melhorar mesmo com a chegada dos smartphones modernos, acompanhando (mais uma vez) a evolução tecnológica.

Processadores móveis mais potentes, sistemas operacionais avançados e sensores de câmera tão bons ou melhores que os presentes em câmeras básicas são alguns dos fatores que resultaram nessa melhora na qualidade das imagens capturadas pelas lentes dos smartphones.

E o efeito colateral disso é um coletivo que, hoje, registra e salva mais imagens do que nunca.

 

O problema de hoje é o oposto

Diferente do que acontecia em 2004, hoje tiramos tantas fotos que o desafio é estabelecer uma organização nessa enorme quantidade de imagens sem morrer na tentativa.

Ferramentas como Google Fotos e Apple Photos tentam resolver isso criando álbuns e colagens automáticas, além de oferecerem sistemas de classificação de imagens baseadas em indivíduos, locais, objetos e outros critérios.

E… mesmo assim…

Muitos de nós perdemos fotos de 2004 ou anos anteriores pela ausência de gerenciamento adequado nos serviços de armazenamento na nuvem.

O normal é que as plataformas excluam as imagens não recuperadas ou que foram em algum momento enviadas para a lixeira, promovendo a eliminação definitiva daquelas memórias do passado.

No final das contas, perdemos para sempre as memórias do passado, e só poderemos guardar as lembranças em nossa mente.

O único consolo é que esse é um sentimento comum. Um reflexo do avanço tecnológico.

E é mais um elemento para alimentar a nostalgia que existe em cada um de nós.


Compartilhe