Se você tem mais de 30 anos, talvez se lembre de um tempo em que teclados e mouses vinham acompanhados de pequenos adaptadores verdes, permitindo que um conector USB fosse plugado em uma porta PS/2 — e vice-versa.
Na época, era comum ver essa compatibilidade funcionar sem esforço. Mas isso mudou drasticamente com o passar dos anos.
Hoje, esses adaptadores raramente funcionam, e a explicação está no que acontecia por trás dos bastidores — ou melhor, dentro dos dispositivos.
É fácil partir para a resposta do “nem precisamos de um dongle para conectar mouse e teclado nos dias de hoje”. Vamos direto na fonte para entender o que aconteceu aqui.
A transição do PS/2 para o USB
Nos anos 1990 e início dos 2000, o conector PS/2 era padrão nos PCs. Era estável, simples e direto ao ponto.
Com a popularização do USB, mais flexível e moderno, o mercado iniciou uma transição. Para facilitar essa mudança, fabricantes passaram a incluir adaptadores passivos — aqueles que apenas redirecionam fisicamente os pinos, sem eletrônica embarcada — junto com seus periféricos.
Essa solução só funcionava porque os mouses e teclados da época, especialmente os da Microsoft, vinham preparados para identificar automaticamente o tipo de conexão utilizado. Ou seja, a inteligência não estava no adaptador, mas no próprio dispositivo.
Um bom exemplo era o IntelliMouse, capaz de alternar entre os protocolos PS/2 e USB conforme o tipo de sinal que recebia.
A ilusão dos adaptadores “inteligentes”
Raymond Chen, engenheiro da Microsoft, relembrou em seu blog como essa compatibilidade funcionava.
Segundo ele, o adaptador era apenas um canal físico, como os adaptadores de tomada que encontramos em viagens. A verdadeira conversão acontecia dentro do periférico, que reconhecia e se adaptava ao padrão usado.
Hoje, com o avanço da tecnologia e o abandono das portas PS/2 nas placas-mãe mais recentes, os periféricos modernos não precisam mais dessa capacidade de detecção dupla.
Resultado: os adaptadores verdes viraram relíquias inúteis, a não ser que você tenha um dispositivo legado com suporte nativo a PS/2.
Quando só o conversor ativo resolve
A única forma confiável de converter um dispositivo USB para uma entrada PS/2 hoje em dia é com um conversor ativo — um equipamento eletrônico que traduz os sinais entre os dois protocolos distintos.
Um dos mais famosos no passado foi o “Blue Cube”, voltado especialmente para teclados. Ele fazia a ponte real entre os dois padrões, permitindo compatibilidade sem exigir que o dispositivo reconhecesse automaticamente o tipo de conexão.
Conversores ativos ainda existem, embora sejam mais raros e específicos. E, sim, é possível encontrar na internet adaptadores vendidos como universais, mas sem garantias de que funcionem. A maioria é apenas um conector físico sem circuitos — e, portanto, inútil com a maioria dos periféricos atuais.
Por que ainda nos importamos com isso?
Para entusiastas de teclados mecânicos e profissionais que valorizam a confiabilidade de conexões antigas, a ausência de uma porta PS/2 pode ser uma frustração.
Não é só nostalgia: em muitos casos, a porta PS/2 oferece menor latência e maior confiabilidade no reconhecimento de comandos simultâneos (n-key rollover).
O ponto crucial aqui é que as portas PS/2 não são obsoletas para todos — mas exigem equipamentos compatíveis. E, com o desaparecimento desses periféricos “bilingues”, a única alternativa funcional é o uso de conversores ativos confiáveis.
Se você encontrou um antigo adaptador PS/2 na gaveta e pensou em reaproveitá-lo, vale o alerta: ele só funcionará se o seu mouse ou teclado tiver suporte interno para o protocolo PS/2.
Caso contrário, será apenas um pedaço de plástico e metal. Em um cenário dominado pelo USB, os tempos em que bastava encaixar um adaptador para tudo funcionar ficaram no passado.
E, para seguir em frente, é preciso entender o que, de fato, fazia essa mágica acontecer — e por que ela desapareceu.