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O silêncio ensurdecedor das big techs diante das tarifas de Donald Trump

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Você já parou para pensar como uma decisão tomada a milhares de quilômetros do Brasil pode encarecer significativamente seu próximo smartphone ou laptop?

É exatamente isso que está acontecendo nos bastidores do mercado tecnológico global. Enquanto o governo Trump implementa tarifas agressivas sobre importações do México, Canadá e China, um silêncio perturbador paira sobre as gigantes da tecnologia.

O que torna essa situação ainda mais intrigante (e constrangedora para as marcas) é o contraste entre as poucas empresas que decidem se pronunciar e a maioria que opta pelo silêncio absoluto.

Quem decidiu falar optou por defender seus pontos. Já as big techs, alinhadas com Trump, não falam para não se comprometerem.

 

O contraste de narrativas

Varejistas e fabricantes estão em direções opostas nas declarações.

Enquanto a Walmart promete trabalhar “agressivamente” para manter preços competitivos e a Acer já anunciou abertamente que seus laptops sofrerão reajustes, gigantes como Microsoft, Google e Sony limitam-se a declarações genéricas ou simplesmente ignoram os questionamentos da imprensa e do público.

A Gigabyte, fabricante de componentes essenciais para placas gráficas, emitiu um alerta cauteloso sobre potenciais aumentos, mas sem oferecer detalhes concretos ou prazos. Até mesmo a DJI, líder mundial em drones de consumo, restringe seu posicionamento a um vago “estamos avaliando internamente os impactos”, deixando consumidores e investidores completamente no escuro sobre os efeitos práticos dessas novas políticas comerciais.

A Target e a Best Buy se pronunciaram mais cedo, afirmando que o aumento de preços em suas unidades será inevitável, e que até mesmo as promoções sazonais poderão ser canceladas se as taxas seguirem aplicadas.

Essa hesitação generalizada revela muito mais do que simples indecisão corporativa – é um reflexo direto da complexidade das cadeias produtivas globais no setor tecnológico.

Com tarifas que podem mudar a qualquer momento por decisão do volátil governo Trump, as empresas temem comprometer suas estratégias de negócio antes de compreender completamente as regras finais desse novo jogo econômico.

A dependência de componentes fabricados em múltiplos países – como chips produzidos na China e montados no México antes de chegarem ao consumidor final – cria um emaranhado logístico que torna qualquer mudança abrupta extremamente arriscada.

Enquanto isso, o consumidor, que planeja comprar um novo iPhone, console de videogame ou smartwatch, permanece na angustiante espera: quanto mais caro ficarão esses produtos nos próximos meses?

Infelizmente, ninguém parece disposto a responder essa pergunta com clareza.

 

O que há por trás do silêncio?

O que você não está vendo por trás desse ensurdecedor silêncio corporativo são intensas reuniões a portas fechadas, onde executivos e analistas financeiros calculam minuciosamente cada cenário possível.

Eles enfrentam questões complexas que vão muito além de simples reajustes de preço:

  • Como repassar custos sem alienar uma base de clientes já sensibilizada por sucessivas crises econômicas?
  • Como reorganizar fornecedores globais sem comprometer a qualidade que tornou suas marcas reconhecidas mundialmente?
  • Como acalmar o consumidor em caso de aumentos de preços?

Essa aparente lentidão em responder pode parecer descaso com o consumidor, mas frequentemente esconde uma estratégia deliberada de espera.

O problema é que essa cautela também representa um risco significativo quando falamos de tarifas que podem variar de 10% a impressionantes 100% sobre produtos chineses, com impacto direto em praticamente todo o setor eletrônico – desde smartphones até equipamentos médicos de alta precisão que dependem de componentes importados.

A instabilidade política do atual governo americano complica ainda mais esse cenário.

Com medidas que mudam do dia para a noite – como a súbita pausa nas tarifas automotivas do México – as empresas tecnológicas ficam em um angustiante compasso de espera.

Um porta-voz da Sony resumiu perfeitamente esse clima ao admitir que “nada está confirmado”, enquanto a Samsung se recusa a fazer qualquer tipo de especulação pública.

Essa cautela extrema, embora compreensível do ponto de vista corporativo, alimenta uma crescente onda de desconfiança entre consumidores e investidores.

E a pergunta que não quer calar na cabeça do consumidor, de vários analistas e jornalistas especializados em tecnologia é: por que empresas com bilhões de dólares em jogo não estão pressionando publicamente por maior clareza nas políticas comerciais?

Seria esse silêncio uma forma de evitar antagonizar um governo conhecido por retaliações contra críticos? Ou simplesmente uma tática para ganhar tempo enquanto reorganizam suas cadeias produtivas nos bastidores?

Os efeitos colaterais dessa situação podem se estender muito além dos preços nas etiquetas que você encontrará nas lojas. Se essas tarifas se tornarem permanentes, podemos testemunhar uma gigantesca reorganização geográfica da produção tecnológica global, com fabricantes migrando operações para países não afetados pelas novas taxas – um processo caro, demorado e repleto de riscos operacionais.

Para startups de hardware, que já enfrentam enormes problemas para se estabelecer em um mercado dominado por gigantes, esse cenário pode significar a extinção. E eu não estou exagerando neste ponto.

Enquanto isso, conglomerados como Amazon e Meta – cujos dispositivos como Echo, Kindle e Quest dependem de complexas cadeias globais de componentes – enfrentam escolhas igualmente difíceis: absorver os custos adicionais reduzindo suas margens de lucro, repassar integralmente esses aumentos aos consumidores ou encontrar um meio-termo que desagradará tanto investidores quanto clientes.

Em qualquer cenário, todos estão saindo perdendo por enquanto. E cabe ao governo Trump olhar de forma objetiva para a realidade dos fatos, e não para visões alternativas de um mundo que só existe na cabeça do Donald.

 

Via The Verge


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