Tudo como era antes.
Os principais canais de TV aberta estão hoje no streaming, mostrando que o consumidor está optando por ver os seus conteúdos preferidos de forma gratuita, mas na hora que quiser. É uma espécie de mudança de comportamento e paradigma, já que a internet está se tornando a plataforma principal, e a TV tradicional atua como “porta de entrada” para os produtos on demand.
E estamos indo além nessa tendência, pois não só a TV linear está no streaming, como também os canais pagos estão oferecendo conteúdos gratuitos através dos canais FAST, em uma tendência liderada pelo Pluto TV e, agora, acompanhada por Globo, SBT, Record e outras.
A TV linear que é aquela que sempre consumimos ao longo da vida, é uma das tendências do streaming em 2025, por incrível que pareça.
Eu antecipei isso aqui…
A grande maioria das plataformas de streaming pertencem a grupos de mídia que estão na TV por assinatura. Isso abre uma oportunidade estratégica de oferecer canais ao vivo como um diferencial para atrair e reter assinantes por mais tempo em seus serviços.
As pessoas cansaram de perder tempo procurando o que assistir no catálogo on demand e, em muitos casos, escolhem assistir algo já visto antes. Logo, por que não facilitar a vida dessas pessoas e, de quebra, aumentar o tempo em que elas ficam assistindo a esse conteúdo?
A oferta de canais lineares resolve esse problema, entregando uma experiência mais confortável para o consumidor. No caso das plataformas de streaming, essa solução responde pelo nome de FAST (Free Ad-Supported Streaming Television), que oferecem programação gratuita e linear mediante publicidade.
Eu antecipei essa tendência quando os números mostraram o quanto o Pluto TV estava crescendo e capitalizando com essa estratégia de oferecer conteúdos de graça no formato de TV tradicional, com comerciais entre as propagandas.
A grande sacada do Pluto TV é entregar o que consumidor quer ver, sem rodeios e de forma direta. O usuário já se acostumou a ver intervalos comerciais na TV. Tanto, que aceitou de boa o plano da Netflix com anúncios.
O grande diferencial da Pluto TV é não cobrar nada do usuário para ver propagandas, se aproximando de vez do que a TV aberta oferece. E reforço o que disse antes: é a tendência do futuro para várias plataformas de streaming já consolidadas.
A mudança já está acontecendo
A Warner Bros. Discovery já testa essa abordagem na Max, permitindo que um grupo seleto de assinantes dos Estados Unidos assista a canais lineares da empresa diretamente na plataforma.
O catálogo inclui canais temáticos da HBO, como HBO Comedy, HBO Signature, HBO Zone e os tradicionais HBO e HBO 2, que exibem os lançamentos mais recentes. Embora, por enquanto, a transmissão espelhe a programação da TV, o teste pode abrir caminho para novos formatos, como canais personalizados ou transmissões ao vivo adaptadas ao perfil de cada assinante.
Também precisamos registrar a iniciativa da Directv nos Estados Unidos, que lançou recentemente um canal FAST para oferecer gratuitamente parte dos seus conteúdos de graça, com a exibição de intervalos comerciais, da mesma forma que sempre aconteceu na TV aberta.
Os clientes podem assistir a diferentes programas dentro dos canais pagos da Directv sem custo, incluindo os eventos esportivos e conteúdo jornalístico.
No Brasil, a Max ainda não oferece essa experiência de forma integral, mas já transmite eventos simultaneamente com a TV, como jogos de futebol e premiações.
A cerimônia do Oscar, por exemplo, será exibida ao vivo tanto na TNT quanto no streaming da Max, reforçando essa convergência entre os dois formatos.
A Disney segue um modelo semelhante, permitindo que os assinantes do Disney+ assistam a conteúdos da ESPN pelo streaming. A diferença aqui é que a transmissão não é contínua: ao término de uma partida, o usuário precisa acessar manualmente a próxima programação.
É sempre importante lembrar que, a partir do dia 28 de fevereiro de 2025, a The Walt Disney Company encerrará a operação de vários de seus canais lineares no Brasil – incluindo Star Channel, FX, National Geographic e Disney Channel – mantendo apenas a ESPN na TV paga.
Com os direitos exclusivos de campeonatos como a Libertadores e a Sul-Americana, a ESPN segue como um ativo valioso, e oferecer seu conteúdo de forma linear pelo Disney+ poderia atrair os antigos assinantes da TV paga que migraram para o streaming.
No caso específico do grupo Disney, será a ESPN que vai basicamente determinar o futuro da TV por assinatura – se é que ela tem um futuro diante dos fatos apresentados.
Se a Disney se convencer de que não vale mais a pena manter os canais ESPN na TV paga (e não podemos negar que isso é discutido internamente, já que vários movimentos para deixar os canais esportivos como exclusivos no streaming já foram realizados lá fora), podem ter certeza que nem mesmo o “canal líder mundial em esportes” estará disponível nas operadoras de TV por assinatura.
A regra vale, por exemplo, para os canais Premiere e Sportv no grupo Globo. A simples existência do GE FAST no Globoplay é uma espécie de “balão de ensaio” para um possível movimento futuro em deixar esses canais esportivos como exclusivos do streaming.
Mesmo porque – e é sempre importante lembrar disso – os estúdios e programadores de canais já entenderam que, neste momento, podem lucrar mais com o streaming do que com a TV paga, pois não precisam dividir os lucros da assinatura paga pelo cliente, muito menos da publicidade negociada de forma direta com os anunciantes.
É um modelo de negócio que pode inspirar inclusive à Netflix, o que seria surpreendente por um lado.
A empresa líder de um segmento que praticamente criou do (quase) nada (não podemos nos esquecer que a Netfilx jamais existiria se o YouTube não desse certo) pode se ver obrigada a lançar canais lineares no streaming para atrair assinantes e anunciantes, com o objetivo de maximizar seus lucros e relevância dentro do setor.
Quando a Paramount tenta oferecer conteúdos gratuitos e, como próximo passo, pensa seriamente em integrar canais populares da TV paga como MTV, Comedy Central e Nickelodeon na sua plataforma de streaming (Paramount+) mantendo a essência desses canais lineares, ela pensa em um diferencial competitivo, que pode conquistar os usuários que ainda valorizam essa experiência de ligar a TV, sintonizar um canal e deixar rolar a programação.
É importante destacar que Netflix e Prime Video não possuem uma origem ligada à TV por assinatura, e terão que entregar canais FAST a partir de conteúdos originais. Já os demais estúdios podem fazer isso com séries de TV e filmes que estão consolidados junto ao grande público.
E podem entregar esse conteúdo em canais clássicos, exatamente da mesma forma que já faziam na TV por assinatura.
Ou vai me dizer que você sintonizava no FX ou na Warner Channel para ver estreias vindas do cinema?
Diante desse cenário, a convergência entre streaming e TV tradicional pode redefinir o futuro do entretenimento digital em 2025, criando novas oportunidades tanto para empresas quanto para consumidores.
E, com alguma sorte, mudando um pouco as regras do jogo de momento, alterando a dinâmica nas principais plataformas.
No final, quem deve sair ganhando é o consumidor, que vai receber um conteúdo diversificado a custo zero.
O que é sempre melhor do que ser obrigado a pagar para ver comerciais.