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O que teria aconetcido com Ayrton Senna se o halo existisse na Fórmula 1 em 1994?

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Tenho plena consciência que esse tipo de artigo pode ser polêmico para aqueles fãs de Ayrton Senna que são mais entusiasmados e sensíveis. Afinal de contas, o “e se…” é algo que simplesmente não existe, e a dura realidade dos fatos é que o piloto brasileiro tricampeão mundial de Fórmula 1 não está entre nós há 28 anos, e que sua imagem precisa ser respeitada ou preservada.

Porém, o principal objetivo deste artigo é estabelecer um paralelo entre o passado e o presente, mostrando em como foi importante a evolução da segurança na Fórmula 1, onde o halo hoje conta com um papel protagonista. Os eventos ocorridos no último final de semana em Silverstone (Inglaterra) deixaram claro que esse ponto de reflexão precisa ser feito.

As vidas salvas na pista por conta do halo são provas mais que suficientes para afirmar que essa solução é a mais revolucionária e importante da história do automobilismo, e o artigo que você vai ler a partir de agora apresenta provas cabais para tal afirmação.

Porém, é importante colocar como o halo era visto antes de sua introdução nos carros de Fórmula 1.

 

 

 

Até eu achava isso uma merda, e mudei de ideia…

Sendo bem sincero: eu achava o halo uma porcaria.

De forma completamente ignorante, entendia que essa solução acabaria com as estéticas dos carros. E tal motivação para essa opinião estava baseada no irracional sentimento de continuísmo e conservadorismo que deve ser jogado fora em nome da inovação e evolução. Aliás, o fato de pensar dessa forma era algo completamente contraditório para alguém que amava e trabalhava com tecnologia há muito tempo.

Porém, eu sou apenas um fã da Fórmula 1 desde 1983, e minha opinião não significa nada diante da visão daqueles que estão diretamente envolvidos com a categoria e os esportes a motor. Então, vale a pena pinçar a opinião de alguns desses protagonistas da Fórmula 1 tão logo o halo foi definido como dispositivo obrigatório de segurança para os carros da categoria, lá em 2017:

 “É uma peça espantosa, e gostaria de removê-la.”Toto Wolff, diretor-executivo da Mercedes.

“Se parece uma merda, e é uma merda. Sou contra.”Kevin Magnussen, piloto.

“Acredito que foi um dia triste para a Fórmula 1 quando foi anunciado (o  halo)”Romain Grosjean, piloto.

E você, amigo leitor que é leigo na Fórmula 1, guarde com atenção o nome de Romain Grosjean. Certamente vamos voltar a falar nele neste artigo e sua íntima relação futura com o halo.

Todas as opiniões expressas por esses três membros da Fórmula 1 aconteceram antes do halo se provar na prática que era uma das melhores invenções da história da categoria. E, assim como aconteceu comigo, todos eles tiveram que voltar atrás em seus posicionamentos, reconhecendo que estavam absolutamente errados em suas visões preconceituosas sobre o dispositivo de segurança.

Na verdade, a grande maioria das pessoas dentro e fora da Fórmula 1 foram incialmente contra o halo nos carros, pelos mesmos motivos que eu, Wolff, Magnussen e Grosjean. Quase ninguém gostou dessa solução, pois além da parte estética, os próprios pilotos alegavam que ficariam incomodados em ter um elemento físico bem no meio do carro, atrapalhando a visão durante as corridas.

Como se os meros mortais não tivessem que lidar com um para-brisa se movendo o tempo todo em um vidro nos dias de chuva…

O tempo, sempre ele, é um grande senhor da razão: o halo é uma solução simples, relativamente barata e genial. E, o mais importante: nos últimos quatro anos, salvou várias vidas nas principais categorias do automobilismo em carros protótipos (aqui, temos que considerar todas as categorias de fórmula: Fórmula 1, Fórmula 2, Fórmula Indy, Fórmula-E etc.).

Só no último final de semana em Silverstone, o halo salvou duas vidas.

Agora que já fizemos o “mea culpa” sobre o dispositivo, chegou a hora de falar um pouco mais sobre ele, e começar a traçar esse paralelo entre a sua participação na evolução da segurança da Fórmula 1 e os seus possíveis impactos de sua existência no acidente que vitimou Ayrton Senna em 1994.

 

 

 

O que é o halo?

Marina Bay Circuit, Marina Bay, Singapore.
Friday 16 September 2016.
Fernando Alonso, McLaren MP4-31 Honda tries out a Halo on his car.
World Copyright: Steven Tee/LAT Photographic
ref: Digital Image _R3I8671

O halo é a peça que foi integrada à célula de sobrevivência dos carros de Fórmula 1 para proteger as cabeças dos pilotos nas áreas frontal e lateral. Antes de 2018, essas áreas estavam completamente desprotegidas, e alguns acidentes fatais estavam acontecendo principalmente por conta de pneus que se soltavam de outros carros e atingiam a cabeça dos condutores, em fatalidades que, até então, eram consideradas inevitáveis.

Esse dispositivo é composto por um semicírculo soldado ao corpo do carro em seus extremos, sustentado por um pilar em sua área central. O halo hoje é uma exigência da FIA em todas as suas categorias de monopostos, indo da F4 até a Fórmula 1, e nas categorias que recebem hoje a sua chancela, como são os casos da Fórmula-E e da Fórmula Indy (esta última adotou uma solução própria, onde o halo é complementado por um escudo com material transparente, o que permite inclusive o uso de um para-brisa removível nas situações de corridas com chuva).

Nos carros de Fórmula 1, o halo é composto por três barras de titânio soldadas em torno da célula de sobrevivência do carro. A sua instalação resulta em um aumento de peso do veículo em 20 kg, e sua resistência faz com que o dispositivo suporte um impacto com carga de até 12 toneladas. Isso é mais que suficiente para proteger o piloto se um pneu sai de outro caro e, de forma descontrolada e em alta velocidade, se desloque em direção à sua cabeça.

Em teoria, o halo foi desenvolvido principalmente para prevenir a essa situação. Mas na prática, ele está se demonstrando eficiente o suficiente para evitar tragédias em cenários ainda mais complexos, como em acidentes graficamente impressionantes como os que ocorreram em Silverstone no último final de semana.

 

 

 

Não existem milagres

Como bem diz um comercial antigo de televendas: “Não é feitiçaria. É tecnologia!” (P.S.: saudades de você, Joana Prado – doravante conhecida como Feiticeira…).

Falando sério.

A eficiência do sistema deixou claro no último final de semana em Silverstone que não existem milagres neste caso. Foi o halo que literalmente salvou as vidas dos pilotos Guanyu Zhou (Alfa Romeo) na Fórmula 1 e Roy Nissany (Williams) na F2. Se os dois acidentes ocorressem em 2017, antes da existência dos tão criticados halos, essas duas vidas estariam perdidas, e todos nós voltaríamos ao debate sobre as medidas que seriam necessárias para deixar os carros de corrida mais seguros.

O acidente de Zhou foi provocado por uma reação em cadeia, poucos metros depois da largada. Seu carro simplesmente saiu voando, ficou de ponta-cabeça e, pelo impacto na brita, saltou a barreira de proteção de pneus, chocando contra o alambrado que protegia os espectadores. Um dos acidentes mais chocantes da história da categoria, que poderia ter resultado em outras vítimas fatais, e não falo apenas dos torcedores (algumas pessoas que estavam entre o alambrado e a barreira de pneus tiveram que sair correndo diante do carro descontrolado em sua direção).

Já na Fórmula 2, Nissany se viu envolvido em uma dura disputa com Dennis Hauger, que perdeu o controle do carro, que saiu voando por um dos obstáculos físicos que impedem que os pilotos cortem o vértice das curvas, e acabou se chocando violentamente contra o halo de Nissany.

Nem preciso dizer que Nissany só se salvou por causa do halo. Certamente o carro de Hauger iria atingir a sua cabeça em cheio sem o dispositivo de segurança.

Conclusão: em apenas um final de semana, as vidas de dois pilotos foram salvas por causa do halo. E se isso pode parecer pouco para os mais céticos, vamos então fazer um breve resumo das outras vidas que o dispositivo salvou desde 2018.

Então… lembra do nome Romain Grosjean? Chegou a hora de voltar a falar nele neste artigo.

 

 

 

As vidas salvas pelo halo

Dá para dizer que a ideia em colocar um dispositivo para proteger melhor a cabeça do piloto nasceu quando uma porca acertou a cabeça do Felipe Massa no Grande Prêmio da Hungria de 2009. Até aquele momento, o “Santo Antônio”, dispositivo similar colocado acima de uma das entradas de ar localizada acima da cabeça do piloto era “o suficiente” para salvar vidas em caso de capotagens, mas não tinha eficiência em casos de colisões de objetos na parte frontal.

Tal evento motivou o estudo incessante dessa solução, que só apareceu em 2018 com a chegada do halo na Fórmula 1.

Talvez a maior prova até agora da eficiência do halo em salvar vidas na Fórmula 1 ainda seja no caso do acidente ocorrido em 2022 com o piloto – olha só, que interessante… como a vida é irônica, não é mesmo? – Romain Grosjean, durante o Grande Prêmio de Bahrein. Isso mesmo, amigo leitor que ficou mais atento com as informações compartilhadas neste artigo: o mesmo Romain Grosjean que criticou a inclusão deste dispositivo lá em 2017.

O próprio Grosjean reconheceu isso, depois de sair vivo do carro em chamas após o impacto com o “guardrail”. Na ocasião, o piloto francês perdeu o controle do seu carro em altíssima velocidade, se chocando violentamente contra a barreira construída com material majoritariamente metálico.

Se a FIA atendesse ao descontentamento de Grosjean e não incluísse o halo como dispositivo de segurança para os carros de Fórmula 1 em 2020, o piloto teria a sua cabeça literalmente degolada pelo “guardrail”, que se transformaria em uma lâmina por conta da velocidade que o carro estava. Outra hipótese bem plausível seria a morte instantânea do piloto com o impacto da cabeça de forma direta, caso a mesma barreira fosse construída com concreto.

Nos dois casos, o halo salvaria a vida de Grosjean, que só ficou com algumas queimaduras nas mãos por conta do incêndio que começou logo depois do impacto. Ele estava tão lúcido e consciente após o acidente, que ainda saiu do carro por conta própria, antes mesmo da chegada dos bombeiros que apagariam as chamas no local.

Outro exemplo muito relevante da eficiência do halo na Fórmula 1 pode ser ilustrado com o acidente ocorrido há menos de um ano entre os pilotos Lewis Hamilton (Mercedes) e Max Verstappen (Red Bull). Durante uma disputa acirrada no Grande Prêmio da Itália, os dois carros se chocaram em uma das chicanes do circuito.

O impacto resultou na decolagem do carro de Verstappen, e um dos pneus da Red Bull do holandês se chocou violentamente no halo do carro de Hamilton. Considerando o peso de um pneu ainda encaixado em um veículo com vários quilos e o deslocamento desgovernado no ar desse carro, o impacto na cabeça do piloto britânico seria brutal e, com certeza, fatal.

Mas o halo voltou a ser protagonista, salvando a vida de Lewis, para desespero e recalque de Nelson Piquet.

O último exemplo que justifica a existência do halo na Fórmula 1 é justamente a última fatalidade em decorrência de uma corrida na categoria. Se Ayrton Senna foi a última morte em pista, podemos creditar a Jules Bianchi o último falecimento em função de um evento da categoria.

Jules Bianchi faleceu em um hospital, no dia 17 de julho de 2015. Porém, nove meses antes, ele sofreu o gravíssimo acidente que gerou as consequências de sua morte. Durante o procedimento de retirada de um carro em uma área de escape no Grande Prêmio do Japão de 2014, o carro do piloto francês perdeu o controle em uma pista molhada pela chuva intensa, e se chocou violentamente contra a grua que estava no local para retirar o primeiro veículo acidentado.

Naquela situação, não existiam os mesmos protocolos de segurança atuais, que determinam a bandeira vermelha para a retirada do carro e eventual limpeza da pista. E, o mais importante: o halo não existia, e o impacto de Bianchi na grua foi justamente na cabeça, já que o seu carro praticamente entrou debaixo do veículo de serviço.

Se o halo estivesse implementado na categoria, muito provavelmente a vida de Bianchi seria salva.

 

 

 

A morte de Ayrton Senna mudou tudo

De novo: eu sei que esse tipo de exercício é algo delicado, pois estamos trabalhando em um campo hipotético e envolvendo um esportista que é muito importante para muitas pessoas no Brasil e no mundo. Porém, a importância de Aryton Senna para a Fórmula 1 justifica esse tipo de análise.

Antes de tentar responder a pergunta que dá titulo ao artigo, é importante relembrar para os fãs da Fórmula 1 e pontuar para quem não é tão entendido do esporte que aquele final de semana do Grande Prêmio de San Marino de 1994 é até hoje considerado o mais sombrio e trágico da história da categoria, e em um cenário onde o bom senso prevaleceria sobre os interesses econômicos, a morte de Senna poderia ser evitada em outros aspectos, independente de eventuais falhas mecânicas ou da ausência do halo.

Em 1994, a Fórmula 1 passou por uma profunda mudança de regulamento que, diferente da recente atualização dos carros implementada em 2022, foi feita de forma repentina e abrupta. Na tentativa desesperada em frear toda a evolução tecnológica liderada pelos incríveis carros da Williams projetados por Adrian Newey (e posteriormente acompanhada pelas demais equipes, que adotaram suas respectivas soluções eletrônicas), a FIA decidiu simplesmente banir de um ano para outro todos os auxílios eletrônicos nos carros, incluindo o câmbio automático, a suspensão ativa e o controle de tração.

O resultado disso se refletiu em carros muito mais nervosos e difíceis de dirigir. E esse cenário só se tornou mais perigoso com a evolução dos motores, que ficaram mais potentes de um ano para outro.

Agora, some isso a alguns circuitos que não estavam devidamente ajustados e adaptados para esses novos carros (como era o caso do circuito de Ímola), e a Fórmula 1 se tornou muito mais perigosa do que era. Até mesmo para pilotos extremamente habilidosos e com 10 anos de experiência na categoria, como era o caso de Ayrton Senna.

Naquele mesmo final de semana, durante os treinos livres de sexta-feira, Rubens Barrichello sofreu um violento acidente com a sua Jordan, que voou contra a mureta de proteção a mais de 200 km/h. O acidente é algo tão feio, que poderia ser fatal para o piloto brasileiro, que apenas quebrou o nariz e sofreu algumas lesões em partes específicas do corpo.

Senna (que, na época, liderava a Associação dos Pilotos) e vários outros pilotos do grid se preocuparam imediatamente com as questões de segurança dos carros, discutindo com a FIA e os organizadores da prova esses pontos em função do comportamento dos carros em uma pista que sempre registrou altas velocidades.

Nada foi feito.

Nos treinos classificatórios do sábado (para definir o grid de largada do domingo), Roland Ratzemberger, piloto da Simtek, perdeu a vida no mesmo circuito, depois de se chocar a 314 km/h em um dos muros de segurança. Neste caso, o impacto foi direto em um muro de concreto, e não em um “guardrail” metálico, tal e como aconteceu com Grosjean em 2020. O piloto morreu na hora, na pista.

Senna, Michael Schumacher e outros pilotos se recusaram a voltar para a pista depois do acidente, e novamente reivindicaram por medidas urgentes para reduzir a velocidade dos carros nos trechos mais críticos de Ímola.

Novamente, a FIA deu de ombros, e nada foi feito.

No domingo, 1 de maio de 1994, todo mundo sabe muito bem o que aconteceu. Quem era vivo na época e quem nasceu depois dessa data já viu por diversas vezes a cena do carro de Ayrton Senna se chocando contra o muro da curva Tamburello e, horas depois, o anúncio de sua morte. E aquela foi a última vez que um piloto faleceu em um evento da Fórmula 1.

 

 

 

O habitáculo indestrutível

Desde a morte de Senna, a FIA ficou simplesmente obcecada em transformar a célula de sobrevivência de um carro de Fórmula 1 era um habitáculo indestrutível. Em paralelo a isso, modificou drasticamente alguns aspectos de segurança dos circuitos, que estão mais preparados para os carros cada vez mais velozes.

De alguma forma, o objetivo foi alcançado. Foram as mudanças implementadas nos anos após a morte de Senna que salvaram a vida de Robert Kubica durante o seu terrível acidente no Grande Prêmio do Canadá.

Rodas amarradas no chassi dos carros impediam que esses elementos saíssem voando nos impactos, algo que infelizmente não impediu a morte de um bombeiro em um acidente ocorrido no Grande Prêmio da Itália em 2000. O uso do Hans Device, que é uma espécie de colarinho preso ao capacete do piloto para evitar que a sua cabeça se choque contra as paredes do cockpit, também ajudou a prevenir em casos de lesões fatais, e outros procedimentos foram adotados para aumentar a segurança da prática do automobilismo em alta performance.

Sem falar que alguns materiais nos carros foram substituídos para evitar danos maiores em casos de acidentes. A fibra de carbono foi substituída pelo kevlar, reduzindo assim o número de estilhaços nos impactos. O Zylon, que é considerada a fibra mais forte criada pelo homem, está presente na célula de sobrevivência dos pilotos, em botas, viseiras, luvas em macacão. O material pode resistir por até 12 segundos ao efeito das chamas de um fogo a 700 graus de temperatura, o que ajuda a preservar a integridade física nos casos de acidentes com incêndios nos carros.

Ou seja, a perda da vida de Senna motivou a FIA a criar todo um aparato de segurança que culminou no halo, que hoje é o principal responsável por salvar vidas dentro da Fórmula 1.

Mas… esse mesmo halo… teria salvado a vida de Ayrton Senna?

 

 

 

O que teria acontecido com Senna se o halo existisse em 1994?

Infelizmente, Senna muito provavelmente teria perdido a vida da mesma forma.

O que aconteceu com Senna foi uma triste fatalidade que muitos de nós não conseguem aceitar ou superar até hoje. E não culpo essas pessoas por isso. Sua morte poderia sim ser evitada se os organizadores da prova deixassem de lado os aspectos econômicos e suspendessem as atividades do final de semana de corrida com a morte de Ratzenberger. Em nome da segurança dos demais pilotos e, principalmente, em respeito ao piloto que perdeu a vida em Ímola e seus familiares.

Mesmo assim, a corrida aconteceu, e a barra de direção se rompeu no início da sétima volta daquele Grande Prêmio de Ímola de 1994. E, diferente do que aconteceu com Romain Grosjean, Lewis Hamilton, Guanyu Zhou e Roy Nissany, o que causou a morte de Aryton Senna não foi exatamente o acidente em si, mas sim a peça da suspensão da Williams que se quebrou no impacto e golpeou contra o capacete do piloto, da parte inferior direita do veículo até a parte inferior da borda superior do capacete.

O ângulo de projeção da barra de suspensão quebrada em direção ao capacete de Senna fez com que o objeto acertasse a cabeça do piloto em um local um pouco abaixo do material mais rígido do capacete, fazendo com que esse objeto se transformasse em uma lança que perfurou a sua cabeça.

Infelizmente, Ayrton Senna perdeu a vida por uma questão de centímetros. Um acidente como aquele na curva Tamburello era sim grave, mas não exatamente fatal. Nelson Piquet e Gerard Berger sofreram impactos tão graves quanto na mesma curva, e sobreviveram. Logo, o impacto em si não causou a sua morte, mas sim esses mínimos detalhes da barra de suspensão se chocando com a cabeça do piloto.

Então, você me pergunta: “mas… se o halo existisse, a barra de suspensão não pegaria nele, salvando a vida de Senna?”.

Mais uma vez, e sempre lembrando aos mais exaltados que estamos trabalhando em um campo exclusivamente hipotético (quem sabe algum especialista no assunto pode acrescentar mais informações), a resposta é: muito provavelmente NÃO. Todos os acidentes que o halo salvou as vidas dos pilotos tiveram a ação exercida na parte superior do item de proteção, e a barra de suspensão que tirou a vida de Senna atuou a partir da parte inferior do carro.

Para concluir, o halo não foi projetado de forma que poderia evitar o impacto de um objeto a vindo da parte inferior do carro. Apenas das partes frontal e superior.

No final das contas, a morte de Senna poderia sim ser evitada, mas não por causa do halo. O motivo principal de sua morte (a barra de suspensão se chocando violentamente contra a sua cabeça, como se fosse uma lança arremessada) entra no campo da fatalidade, e jamais saberemos se o halo poderia salvar a sua vida em 1 de maio de 1994, infelizmente. Seria necessário um estudo aprofundado da trajetória da peça durante o impacto, algo que pode ser considerado como variável, pois a peça poderia ter tomado outra direção qualquer com o acidente.

Seja como for, a morte de Ayrton Senna resultou em uma Fórmula 1 absurdamente segura, e a resistência dos carros de 2022 teria sim salvado a sua vida… em 2022, mas não em 1994. É triste pensar que a perda de um dos melhores pilotos da história do automobilismo resultou na grande maioria das inovações tecnológicas que salvaram muitas vidas após essa tragédia.

Mais triste ainda é pensar que essa obsessão da FIA em evitar as mortes nas pistas só nasceu depois que o seu principal piloto na época perdeu a vida no circuito de Ímola.


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