Parece que o império da Netflix no Brasil está oficialmente ameaçado.
Depois de anos de dominância no mercado brasileiro (só perdendo para o YouTube e, mesmo assim, considerando que a maioria dos usuários do serviço do Google assistem aos conteúdos de graça), a Netflix vê no Prime Video da Amazon a sua principal concorrente no mercado brasileiro.
Além de perder 2% de mercado nos últimos 12 meses, a Netflix testemunhou o Prime Video ganhar nada menos que 5% de market-share no mesmo período, ficando apenas 2% atrás no ranking nacional do streaming.
O que a Netflix precisa fazer para evitar o pior?
O preço passou a ser um problema
Que a Netflix enfrenta atualmente um dos períodos mais desafiadores desde sua chegada ao Brasil, isso fica mais do que evidente. A queda na participação de mercado é um fato, mas o que realmente importa em um primeiro momento é a queda da percepção do público consumidor sobre a validade de sua relação custo-benefício.
O aumento de preços implementado em maio de 2024 elevou o valor do plano mais básico (com anúncios) para R$20,90. Isso fez com que a Netflix custasse mais cara do que o Prime Video, com uma proposta similar.
É claro que é possível assinar esse mesmo plano de entrada da Netflix de outras maneiras. Por exemplo, o Claro TV+ pode resultar em um desconto na plataforma quando combinado com outros serviços de streaming.
Acontece que nem todo mundo quer atrelar a assinatura de um streaming à outro, e prioriza o rodízio de plataformas para equilibrar as contas no final do mês.
Sem falar que a Netflix também está mais cara do que outra forte concorrente: a Max cobra R$ 18,90 mensais no plano básico com anúncios, e ainda conta com as transmissões dos jogos da UEFA Champions League como moeda de troca.
A decisão de aumento de preços (aparentemente) está impactando diretamente a capacidade de retenção de assinantes da Netflix, em um momento de significativa pressão econômica para muitas famílias brasileiras.
Um catálogo empobrecido
Além da questão do preço, a Netflix enfrenta o desafio de reinventar seu catálogo para um público cada vez mais exigente e com múltiplas opções de entretenimento.
O modelo que priorizava exclusivamente filmes e séries originais agora compete com plataformas que oferecem conteúdo esportivo ao vivo, shows musicais e diversos formatos alternativos que ampliam a proposta de valor para o assinante.
Sem falar que faz muito tempo (mesmo) que a Netflix não lança um filme que seja realmente bom, e não tem neste momento uma série que cause um engajamento a ponto de não só gerar o buzz nas redes sociais, mas convencer as pessoas a assinarem o serviço.
Não me entenda mal: Black Mirror é uma série incrível, mas é de nicho. E a segunda temporada de Round 6 não chegou perto de fazer o barulho da primeira entrega.
E a última temporada de Stranger Things? Onde está?
Enquanto isso, as plataformas concorrentes estão rapidamente diversificando seus catálogos, deixando o cenário mais complexo para a Netflix que, em termos práticos, precisa de mudanças…
…que já estão acontecendo.
O que a Netflix precisa fazer?
Analistas do setor sugerem que a Netflix precisará repensar fundamentalmente sua estratégia para o mercado brasileiro se deseja manter a posição de liderança. Se aproximar do nosso público é essencial para esse processo de transformação.
Possíveis caminhos incluem parcerias locais mais robustas para produção de conteúdo nacional, revisão da política de preços ou mesmo a inclusão de novos formatos de entretenimento que tradicionalmente não faziam parte de seu modelo de negócios.
De alguma forma, a Netflix está tentando essa diversificação. Realitys de competição nacionais se tornaram mais frequentes, e quem sabe alguns direitos esportivos (principalmente de campeonatos de futebol) podem resultar em ganho de audiência.
E o mais importante: aumentar a qualidade das séries e filmes. Não adianta produzir conteúdo nacional se tudo será algo esquecível ou detestável para o grande público.
A verdade é uma só: a empresa que revolucionou a forma como consumimos conteúdo audiovisual agora precisa, ironicamente, promover uma revolução interna para não perder relevância em um dos seus mais importantes mercados internacionais.
E isso pode acontecer basicamente copiando as soluções da concorrência, que chegou depois.
É o mundo girando e voltando sempre para o mesmo lugar.
Sempre de forma bastante irônica.