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O plot twist de Trump e Musk no caso TikTok

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Nos longínquos Estados Unidos de 2020, Donald Trump, com seu estilo característico de “não faço rodeios”, decidiu que o TikTok era uma ameaça nacional digna de ser eliminada com a precisão de um martelo de juízo final.

A justificativa? O risco de que dados americanos caíssem nas garras de Pequim.

Cinco anos depois, e a história deu uma guinada tão absurda quanto um clipe viral da própria plataforma. Trump, em seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, voltou como o salvador do TikTok, mostrando (no mínimo) que ele é um homem que pode sim mudar de ideia… radicalmente, em alguns casos.

E, como se isso não fosse surreal o suficiente, Elon Musk, o excêntrico bilionário visionário e, agora, oficialmente nazista (ou “visionário excêntrico”, dependendo do ponto de vista), entrou na jogada para transformar o episódio em um verdadeiro circo político-tecnológico.

É um circo porque, ao que tudo indica, ele vai propor uma troca com a China, onde o principal beneficiado da barganha é ele mesmo. Elon Musk.

Isso não seria desvio de finalidade no cargo? Improbidade administrativa?

 

Os esforços de Trump e Musk para salvar o TikTok nos EUA

Tudo começou quando Trump, agora de volta à Casa Branca, decidiu que a Primeira Emenda – aquela velha senhora defensora da liberdade de expressão irrestrita e ilimitada, algo utópico em nossa vida prática – precisava ser aplicada com rigor.

Sua nova retórica era clara: “Proibir o TikTok vai contra nossos valores fundamentais de liberdade!”

Ironicamente, era o mesmo homem que cinco anos antes bradava que a plataforma era um cavalo de Troia digital da China, roubando os dados dos norte-americanos e se materializando como efetiva ameaça à segurança nacional.

Aliás, foram as falas de Donald Trump que motivaram a criação da tal Lei de Proteção às Ameaças, que foi aprovada durante o governo Joe Biden, entrando em vigor nos EUA no último domingo (19).

E só estou contextualizando tudo isso porque eu sei que a grande maioria dos leitores do blog não é obrigada a ficar por dentro de tudo o que acontece na legislação norte-americana.

Mas gostaria de deixar claro qual é o contexto da narrativa, apenas para que você entenda onde está o ponto fora da curva aqui.

Dito isso… alguém pegou os baldes de pipoca?

Porque essa história continua.

Por sua vez, Elon Musk, que desde que comprou o X (antigo Twitter) se autodenominou o defensor supremo da liberdade de expressão, decidiu entrar na conversa, no mais puro suco do “vou dizer o que penso e vocês lidem com isso”.

Durante uma coletiva no início de 2025, Musk declarou: “Banir o TikTok é burrice. Dito isso, é injusto o X não operar na China enquanto o TikTok reina nos EUA. Precisamos de reciprocidade, ou pelo menos de um pouco de bom senso.”

É claro que bom senso e política raramente ocupam a mesma sala.

No meio desse enredo rocambolesco, a ByteDance, empresa-mãe do TikTok, ficou assistindo a tudo como quem vê um acidente em câmera lenta, enquanto tentava equilibrar seus interesses comerciais e as leis dos dois maiores titãs geopolíticos do mundo.

O CEO da ByteDance decidiu virar cãozinho do Trump, e nem dá para julgar o cara. Afinal de contas, o novo presidente dos EUA conseguiu o mais difícil, que é suspender o banimento do aplicativo no país.

Por outro lado, o executivo não tem a real intenção de vender o aplicativo para uma empresa norte-americana, pois sabe muito bem o tamanho do lucro que 170 milhões de norte-americanos dão ao ver a publicidade exibida entre as dancinhas e memes.

Para completar, o governo chinês soltou algumas declarações enigmáticas, como um vilão de filme que deixa pistas do próximo ato: “Nós acolhemos empresas que respeitam nossas leis. As decisões são independentes… ou não.”

Donald Trump chegou ao ponto de discutir a questão com o presidente chinês Xi Jinping, algo que foge completamente dos padrões de sua condução política, mas que é minimamente aceitável para evitar um mal maior.

Não digo que ele se viu obrigado a fazer isso, mas foi um mal necessário diante de suas declarações antes de reassumir a presidência dos EUA.

 

Os planos de Trump e Musk

O plano de Donald Trump é, basicamente, emitir uma ordem executiva que parece saída diretamente de um roteiro de comédia política.

Dá até para imaginar o que veio da cabeça daquele homem quando arquitetou esse “grande plano” para salvar a rede social das dancinhas:

“Eu prometo: o TikTok não será banido! Vamos proteger a liberdade de expressão e, de quebra, meus seguidores adolescentes que dançam no aplicativo.”

Ah, ele também mencionou algo sobre “negociar” com a ByteDance para que seus dados fossem armazenados em território americano.

Detalhes.

O que muitos questionam nos EUA neste momento é se Donald Trump possui base legal para determinar a ordem executiva que prorrogou o prazo de banimento do TikTok no país.

Em teoria, com a lei de proteção às ameaças em vigor, nem mesmo Trump poderia passar por cima dela. Não só no ambiente jurídico norte-americano o tema é discutido, mas até mesmo entre os republicanos o ato é questionado.

Voltando para o lado Musk da questão.

Elon não é conhecido por se contentar com papéis secundários. Ele fez uma viagem à China – oficialmente para tratar de “assuntos comerciais” relacionados à Tesla, mas que convenientemente coincidiu com uma rodada de negociações sobre o TikTok.

Segundo fontes não confirmadas (mas especulativas), Musk propôs o tal acordo inusitado: “Se o TikTok pode operar nos EUA, o X também pode operar na China.”

Pequim, claro, sorriu educadamente e respondeu com um enigmático: “Vamos considerar.”

No final das contas, a “hibernação” do TikTok nos EUA durou menos que uma tendência viral. Na prática, pouco mais de 12 horas. Nem deu para promover um protesto na Times Square.

Após alguns tweets, ordens executivas e muita confusão, o aplicativo voltou ao ar, enquanto Trump e Musk disputam de certa forma o crédito pelo retorno, como dois galos em um galinheiro de ouro.

Mas a grande questão que paira no ar é: será que estamos diante de um ato de heroísmo genuíno ou apenas mais um capítulo na novela da geopolítica moderna?

Talvez ambos.

O que é certo é que, no mundo surreal em que vivemos, nada mais é previsível.

Nem mesmo o destino de um aplicativo de dancinhas que, até cinco anos atrás, era aparentemente estúpido e, ao mesmo tempo, uma ameaça para a segurança da maior nação do planeta.

Veja como as narrativas mudam, senhoras e senhores.


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