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O império do Google está cercado

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A situação nunca esteve tão complicada para o Google, e eu mal acredito que estou enxergando a situação dessa forma. Para uma gigante que parecia hegemônica na internet, ver o império com possibilidades reais de ruir diante dos olhos do mundo é algo que não estava nos meus planos.

De acordo com o parecer do juiz do caso antitruste movido pelo Departamento de Justiça dos EUA, o Google é um monopólio na publicidade online. E só não é no mecanismo de buscas porque a concorrência, mesmo sendo ridícula, ainda existe.

Nesse momento, o Google está na sua última chance de provar que não é um monopólio. Se não conseguir, vai sofrer consequências drásticas, que podem resultar na venda do navegador web Chrome e no desmembramento do Android dos demais serviço da empresa.

E tudo o que é ruim tende a piorar para a gigante de Mountain View.

 

Ameaças legais múltiplas

Além do processo nos EUA, o Google enfrenta investigações na União Europeia e ações de concorrentes como a Epic Games e o Yelp, que questionam as práticas monopolistas da empresa.

Tudo está acontecendo ao mesmo tempo e agora contra o Google, em uma cruzada sem precedentes. Essa queda, que parecia improvável há 10 anos atrás, está cada vez mais próxima, e pode impactar todo o mercado de tecnologia e internet.

E, por tabela, a vida do usuário comum, que só queria realizar buscas sobre receitas dos restos mortais da geladeira para um lanche rápido na noite chuvosa de terça-feira.

O parecer de um juiz federal que determinou que o Google opera sim como um monopólio no mercado de buscas não está baseado apenas na dominância que a empresa possui no segmento.

Os argumentos passam também pelos acordos comerciais fechados com empresas como Apple e Mozilla, que dificultam o crescimento da concorrência.

Para quem não sabe, o Google pagava uma grana violenta para a Apple para que o seu motor de buscas fosse o padrão em dispositivos como iPhone e MacBook (via navegador Safari). E só recentemente a gigante de Cupertino foi obrigada a oferecer outras alternativas nas ferramentas de busca, como Bing e DuckDuckGo.

Ou seja, não dá para negar que o Google fez o que entendia ser necessário para se tornar a plataforma líder dentro do seu segmento, estrangulando a concorrência ao máximo.

E em um país como os Estados Unidos, onde o capitalismo só sobrevive direito pelas leis de livre concorrência, as posturas do Google vão diametralmente contra os interesses do governo, que decidiu intervir.

 

Vai ter que mudar, mesmo que vença nos tribunais

O Departamento de Justiça sugere que o Google venda seu navegador Chrome e impeça a promoção de seus próprios produtos, visando reequilibrar o mercado. E se isso acontecer, será um desastre para a gigante de Mountain View nos aspectos comerciais.

O Chrome é o principal elemento para que o Google não só lucre com o buscador, mas lucre também na exibição de publicidade online. O software é utilizado por mais de 60% dos internautas norte-americanos, e ao redor do planeta, essa participação de mercado pode passar os 80%.

Sem o Chrome, o Google perde um ativo financeiro relevante nas duas pontas, já que também pode perder os acordos comerciais com os fabricantes de smartphones que recebem o sistema operacional Android nos seus dispositivos.

Os aplicativos do Google estão nesses telefones por fruto de acordos comerciais, e se o Chrome for vendido, todo esse lucro é perdido de forma (quase) automática.

Também existe a possibilidade de desmembramento dos serviços do Google no Android, o que também representa uma verdadeira tragédia nos aspectos comerciais para a Alphabet.

Reduzir a presença de aplicativos como Gmail, Google Mapas e YouTube dos smartphones Android é, de alguma forma, reduzir os lucros que a empresa tem com a publicidade vendida e veiculada por essas plataformas.

E mesmo que o Google vença os processos judiciais, terá que alterar suas práticas para evitar futuras ações legais. Alguma coisa vai ter que mudar nas operações comerciais da empresa para se adequar às visões do governo norte-americano sobre a questão.

 

E isso não vem de agora. A gestão Joe Biden já tentava acabar com o monopólio do Google. E olhando para o contexto histórico, a batalha que a Microsoft travou para provar que o Internet Explorer não era um monopólio no Windows foi semelhante.

Um pouco pior, na verdade. A empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen era tão agressiva na sua estratégia que, em algumas versões do seu sistema operacional, deixava o seu navegador tão intrínseco no código, que era simplesmente impossível promover a desinstalação do software por vias normais.

Ou seja, o Google poderia esperar que o mesmo aconteceria com o Chrome diante de sua dominância nos mercados de buscas e publicidade online.

Agora, com a volta de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos, os resultados dos processos antitruste podem ser influenciados contra o Google, uma vez que Donald criticou abertamente a empresa de Mountain View no passado.

Tudo o que está acontecendo pode até ser atenuado de alguma forma pelo fato de a Alphabet existir, colocando todas as empresas dentro do seu guarda-chuva. Isso pode simplificar uma eventual venda do Chrome e desmembramento do Android dentro dos seus serviços.

Mas não impede uma mais do que provável reestruturação na forma em como o Google oepra hoje, afetando sua lucrativa divisão de publicidade.

Para você ter uma ideia no tamanho do impacto que o processo judicial pode causar no Gogle, essa mesma divisão de publicidade arrecadou nada menos que US$ 238 bilhões, apenas em 2023.

Ou seja, não é surpresa para ninguém ver os advogados do Google trabalhando tanto nos últimos meses. Pois motivos para que a empresa brigue na justiça para se provar inocente nas acusações de monopólio sobram.

 

Via The Verge


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