O Google é um monopólio. Concordamos com isso, certo?
E nenhum país capitalista gosta de monopólios, pois é justamente a competição que faz com que a roda da economia continue a rodar. O problema é que esse conceito cai em contradição com uma filosofia que prega a dominância econômica de poucos a todo custo.
Mas isso é assunto para outro momento.
O Departamento de Justiça (DOJ) dos Estados Unidos está em uma iniciativa voraz contra o Google para acabar de vez com o seu monopólio na internet. E uma das alternativas consideradas é simplesmente desmontar a gigante de Mountain View em vários pedaços.
Se isso realmente acontecer, será o maior caso antitruste da história. Podemos estar diante do fim do Google tal e como conhecemos.
O que o DOJ vai pedir?
O DOJ planeja pedir ao juiz antitruste Amit Mehta, que é quem está analisando o caso contra o Google, que force a gigante de Mountain View a vender o seu navegador Chrome.
É importante lembrar que já existe um parecer de Metha sobre a posição do Google no mercado de buscadores e publicidade na internet: em agosto, foi definido judicialmente que a empresa manteve um monopólio ilegal nesses segmentos.
Faz sentido: o Chrome é o navegador mais utilizado do mundo, e seu uso na promoção do Google Search é uma das coisas que limitam o avanço da concorrência.
Acontece que o pedido do DOJ pode incluir também a separação do Android e do Google Search do Google Play, mas não necessariamente obrigando o Google a vender o seu sistema operacional para smartphones.
Outra exigência do DOJ seria a obrigação do Google em compartilhar mais informações com os anunciantes, oferecendo para eles um controle maior sobre onde os seus anúncios vão aparecer.
Outras exigências menores estão previstas, como um maior controle dos sites sobre o uso dos conteúdos produzidos por produtos de Inteligência Artificial do Google e o fim de contratos exclusivos com a empresa.
As (possíveis) futuras consequências
Se o juiz Mehta aceitar as recomendações do DOJ, o governo dos Estados Unidos teria o poder de mudar completamente todo o negócio de pesquisas online e grande parte da indústria de Inteligência Artificial, em um “efeito cascata” sem precedentes.
É um desejo de diferentes gestões presidenciais dos EUA. O caso começou na primeira gestão do governo Donald Trump, e avançou durante a gestão de Joe Biden.
E historicamente, o governo norte-americano sempre quis exercer esse controle sobre as iniciativas tecnológicas. É só olhar para a disputa que teve com a Microsoft por motivos semelhantes há duas décadas.
O Chrome é sim uma peça-chave para os negócios do Google, pois é uma fonte substancial de receitas via publicidade, é uma poderosa ferramenta de coleta de dados dos usuários (e essas informações são utilizadas para publicidade personalizada), é uma maneira de aproximar seus usuários da Gemini, sua ferramenta de Inteligência Artificial e, em larga escala, moldou a forma em como as pessoas pesquisam e interagem com a internet.
Para o Google, o DOJ está agindo com uma agenda “radical”, indo além das questões legais do caso e acusando o governo dos EUA de prejudicar os consumidores, desenvolvedores e lideranças tecnológicas norte-americanas.
Uma coisa é certa: vender o Chrome pode significar o fim do Google como conhecemos.
De acordo com os dados da Statcounter, o Chrome possui 61% do mercado norte-americano. Perder o faturamento gerado pela publicidade exibida para mais da metade da população seria algo surreal para o Google.
E isso, porque os reguladores teriam recuado à ideia de forçar o Google a vender o Android, o que seria um estrago muito maior. Por outro lado, o DOJ ainda pode recomendar que a gigante de Mountain View desmembre de alguma forma o seu sistema operacional móvel dos demais produtos que possui, incluindo a loja de aplicativos e o buscador.
O Google ainda pode apelar da decisão de Mehta que concluiu que a empresa violou as leis antitruste nos mercados de anúncios e pesquisa online. A decisão final sobre o caso deve sair até agosto de 2025.
Entendo que é bem difícil que um cenário onde o Google seja mesmo forçado a vender o Chrome aconteça. Mas se acontecer, um possível comprador interessado deve ser a Amazon, ou a própria Microsoft, que já tem o Edge.
E… mesmo assim… seria complicado vender para um deles.
A Amazon já enfrenta as suas acusações de monopólio, o que poderia travar a possível compra do Chrome.
E no caso da gigante de Redmond, corremos o risco de ter outro monopólio se construindo, de modo que o Chrome deve ficar para um novo player nesse hipotético cenário de venda.
Quem poderia receber o Chrome no colo “de graça” seria a OpenAI, responsável pelo ChatGPT. Isso salvaria a empresa de Sam Altman com o faturamento de publicidade, além de impulsionar o SearchGPT para um enorme grupo de usuários…
…iniciando um possível novo monopólio no segmento de buscas na internet.