Em maio de 2023, escrevi um artigo com o título “Futuro da TV a cabo está nas mãos da ESPN”. Na época, argumentei que uma das últimas coisas que ainda motivavam os usuários da tradicional TV por assinatura a seguir pagando pelo serviço era os eventos esportivos ao vivo.
Também disse que, no dia em que a ESPN decidisse lançar uma plataforma de streaming a parte para transmitir os seus eventos, que o formato tradicional da TV paga estava condenado ao desaparecimento efetivo.
Pois bem, um ano e meio depois, essa realidade está se consolidando. Não apenas pela existência do Disney+, onde o esporte ao vivo é a grande moeda de troca. Mas principalmente pelo conceito do “a ESPN em qualquer lugar”.
Flagship: A nova proposta D2C da ESPN
A ESPN está adotando uma abordagem que prioriza a presença em múltiplas plataformas, reconhecendo que a experiência do usuário é fundamental para sua relevância futura.
A estratégia tem como principal objetivo capturar a atenção de novas gerações, como a Geração Z e Alpha, que consomem conteúdo em diferentes dispositivos, mas não na TV de forma prioritária.
Nesse sentido, a Disney apresenta o Flagship, evolução do ESPN+, que será lançado nos EUA por US$ 11,99 mensais. O serviço está disponível no formato “direto ao consumidor” (D2C), e é considerado o futuro da ESPN para uma oferta de conteúdo mais personalizada e acessível para o grande público.
A ideia da ESPN é a personalização em larga escala, principalmente nas redes sociais, para engajar os fãs e as novas gerações.
Para isso, a rede esportiva vai expandir suas propostas de funcionalidades de fantasy e apostas esportivas dentro dos seus aplicativos dedicados.
De novo: a TV a cabo tradicional “morreu”
A emissora reconhece que o modelo tradicional de TV a cabo não é mais sustentável, e que novas funcionalidades típicas dos serviços de streaming (como a possibilidade de assistir aos conteúdos em múltiplos dispositivos) são a nova realidade.
A ESPN também está de olho na sua adaptação à fragmentação do conteúdo esportivo, que é outra realidade prática para os usuários.
A concorrência que a ESPN tem dentro do segmento de canais esportivos é enorme no mundo inteiro, e se alinhar com o novo público e sua forma diferente em consumir conteúdo é uma maneira de se manter relevante.
Durante anos, a experiência do usuário foi negligenciada pela indústria de TV a cabo, que impôs as regras com um formato de empacotamento de canais que se tornou arcaico com a própria evolução tecnológica.
O streaming permite que você assista ao conteúdo na hora que você quiser, no seu tempo, sem comerciais e no dispositivo de sua preferência. É um controle total, o que é diametralmente oposto ao que a TV paga tradicional sempre ofereceu.
A ESPN está tentando colocar o espectador no epicentro de suas operações e iniciativas, entendendo que são os assinantes que assumiram o controle da experiência de uso e do método de consumo desse conteúdo.
Mini-ESPNs para as novas gerações
Com 68% do conteúdo esportivo consumido por fãs com menos de 35 anos vindo de mídias sociais e streaming, a ESPN está se adaptando a essa nova realidade.
As contas digitais da ESPN serão ainda mais engajadas do que já são, conversando sempre com o público jovem adulto, pensando sempre no próprio futuro do canal como um todo.
A ascensão dos criadores de conteúdo como “mini-ESPNs” está transformando o panorama esportivo ao redor do mundo. O principal exemplo aqui no Brasil dessa mudança de paradigma é justamente a Cazé TV, que hoje possui os direitos de vários eventos relevantes.
Aliás, foi outra antecipação de cenário que fiz aqui no blog. Em dezembro de 2023, levantei a pergunta: “A Cazé TV é a nova ESPN?”. E hoje, a rede líder mundial em esportes deu a resposta, se alinhando com o meu pensamento do passado.
Os chamados “creators” estão levando conteúdos esportivos diretamente para os fãs por meio de suas redes sociais. Aqui no Brasil, é algo que os narradores e comentaristas da ESPN já fazem em larga escala.
Essa é a forma mais eficiente para expandir o alcance da marca ESPN junto ao público-alvo composto pelos Gen Z e Alfa, diversificando as fontes e formatos que o conteúdo é entregue, e ajudando na consolidação dos objetivos traçados por Bob Iger.
Não sabemos quando ou se o Flagship vai chegar ao Brasil. Mas se acontecer, não será uma surpresa para você, que chegou até o final deste artigo.