A Marvel Studios está mudando. E precisava, depois dos fracassos cinematográficos em 2023. Todo mundo está percebendo que algo começou a mudar na Casa das Ideias, a começar pela redução de produções para TV e cinema.
Apenas um filme em 2024: “Deadpool & Wolverine”. E o volume obsceno de séries no Disney+ simplesmente despencou, com as produções mais independentes.
E tudo isso deixa claro algo que a Marvel Studios finalmente entendeu o que os fãs querem: a não obrigação de “fazer a lição de casa” e assistir a 87 produções para ver um único filme nos cinemas.
O fim das lições de casa
É um parêntesis, e não um ponto final.
No meio de todas as piadas, humor adulto, violência explícita e fan service com vários personagens voltando, “Deadpool & Wolverine” deixa uma lição importante: ele é contido nele mesmo.
Você não é obrigado a ver tudo o que a Marvel já fez para entender a premissa do filme. Na verdade, apenas um episódio de “Loki” na primeira temporada, no máximo.
É mais relevante ter assistido aos mais de 20 anos de filmes da Marvel pela Fox do que acompanhar o MCU até agora, que pouco mudou com “Deadpool & Wolverine”.
E, no final das contas, entregou o que todo fã queria ver. E é um sucesso esmagador nos cinemas.
Kevin Feige reconheceu que os fãs não querem fazer “a lição de casa” para ver os novos filmes, algo que aconteceu durante um tempo com as séries no Disney+.
E boa parte do público só quer ver um bom filme nos cinemas e nada mais.
Parte do esgotamento da fórmula dos super-heróis nos cinemas se deu pela saturação de conteúdo combinada com a preguiça do espectador.
A Saga do Multiverso, que tinha tudo para dar certo (principalmente com “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” entregando isso), fracassou por só entregar informação sem conexão com o público.
Dava para usar o Multiverso para trazer personagens de volta de forma inteligente, entregando o fan service que todo mundo gosta.
E “Deadpool & Wolverine” deixa isso bem claro.
“Dia do Juízo Final” e “Guerras Secretas” são oportunidades
Podem até negar, mas tudo o que a Marvel Studios apresentou na San Diego Comic-Con 2024 foi sim uma grande apelação. Um ato de desespero.
O plano original não era esse. Se Jonathan Majors não tivesse feito merda com a própria vida, Kevin Feige seguiria com Kang até o final, e não queimaria o cartucho do Doutor Destino agora.
Eu mesmo defendi a tese de que era só trocar o ator que interpreta Kang e “segue o baile”. Porém, foi justamente esse excesso de informação que reforça a tese do “tapa no tabuleiro” para reorganizar as peças.
Agora, temos a apelação que muitos chamam de reorganização.
A volta dos irmãos Russo, Robert Downey Jr como Doutor Destino, Quarteto Fantástico chegando… sim, o caminho está mais claro e organizado agora.
Porém, as chances de tudo isso dar muito errado são enormes, e por um único motivo: a desconexão com os fãs.
“Deadpool & Wolverine” estava mais do que assentado em narrativas que foram construídas pelos personagens principais ao longo dos anos.
E Thanos, grande vilão da Saga do Infinito, foi contextualizado ao longo dos filmes que foram entregues ao longo de quase 10 anos.
Essa versão de Doutor Destino, que começa a ser elaborada em “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, não terá mais do que dois anos para ser contextualizado no MCU.
Ou seja, a Marvel não está apostando no desenvolvimento de um personagem, mas sim no nome Robert Downey Jr.
E isso pode acabar com a relevância e legado de dois importantes personagens para a Marvel: o Homem de Ferro e o próprio Doutor Destino.
Sem construir uma motivação, não há motivos para que o fã se importe com um personagem. Fato.
Tudo pode acontecer
Bem sabemos qual é o final da jornada dessa Marvel Studios que tenta se reencontrar. Mas a caminhada até lá mais parece um GPS maluco.
Como “Capitão América: Admirável Mundo Novo” e “Thunderbolts”, dois filmes calcados no ambiente urbano da Marvel, vão se conectar com essa nova realidade?
Como “Aghata: Desde Sempre”, sequência da excelente “Wandavision” (que tinha conexão direta com os eventos do MCU) vai se relacionar com tudo isso?
Ou vai se valer do novo selo Marvel Television para ser mais uma série Marvel Spotlight e se distanciar de toda a narrativa apresentada nos cinemas?
E a série do Visão Branco? A nova série do Demolidor? O filme do Blade? Onde essas produções vão se encaixar na jornada até o ponto final para “Guerras Secretas”?
Muitas perguntas que só serão respondidas nos próximos meses.
Enquanto isso, James Gunn assiste a tudo, esfregando as mãos.