Valentina era uma jovem um pouco avoada e distraída, mas minimamente interessada em fazer com que sua vida andasse para frente.
Porém, tal e como acontece com boa parte dos membros da Geração Z, ela suava frio com um elemento do mundo da tecnologia, mesmo sendo uma nativa digital que não desgruda do smartphone em nenhum momento: os imprevistos tecnológicos no momento errado.
Naquele dia fatídico, o universo parecia conspirar. Contra, é claro. Senão, eu não ia perder meu tempo escrevendo essa história para você.
Era segunda-feira, o relógio marcava 22h47, e o trabalho de história precisava estar pronto antes da meia-noite. O tema? “A influência dos navegadores portugueses no comércio marítimo”.
Uma bobagem qualquer que a menina deixou para a última hora, acreditando que o ChatGPT salvaria o dia. Não salvou, pois até ele travou naquela noite (sim… tudo conspirava contra a nossa guerreira…).
E… sabe quem estava travando o progresso de Valentina naquele momento?
A barra de espaço.
“Oquediaboestáacontecendo?”
Com dedos ágeis e mente exausta, Valentina sentiu a ausência estranha de pausas entre as palavras. Seu parágrafo começava a parecer uma sopa de letras. “Oquediaboestáacontecendo?”, pensou a menina, encarando a tela como quem encara um adversário no meio de uma batalha épica de argumentos sobre a qualidade das músicas da Lorde ou da Lana Del Rey.
Desesperada, ela tentou de tudo: pressionou a tecla de espaço com delicadeza, depois com força, depois com o desespero de quem pisa no freio de um carro desgovernado.
Ela chegou a esmurrar a pobre tecla com a raiva de um torcedor do Corinthians após mais uma eliminação precoce da Libertadores.
E a tecla lá. Parada. Travada.
Morta.
Nada acontece feijoada.
Era como se a barra de espaço estivesse em greve, exigindo direitos trabalhistas que Valentina desconhecia.
E ela tinha que fazer alguma coisa para resolver o problema naquele momento.
Primeiro, ela seguiu o instinto primitivo: soprou o teclado com a força de um mastodonte, na esperança de que alguma migalha ancestral saísse voando.
Nada.
Então, em um ato de coragem, pegou um clipe de papel, desdobrou-o e começou a cutucar as laterais da barra.
“Quem sabe seja só uma migalha de pão de queijo de 2020”, murmurou para si mesma.
Quando isso também falhou, Valentina apelou para o pai dos burros na internet.
Valentina foi de besta a bestial nessa
Abriu o Google com o mouse, pois já não confiava mais no teclado, e procurou “como digitar sem barra de espaço”.
Lá, ela descobriu o teclado virtual, um elemento que poucos conhecem, mas que salvam vidas nos momentos de desespero como esse.
“Aleluia!”, exclamou a aliviada Valentina, sentindo-se uma gênio da informática enquanto arrastava o cursor para digitar palavra por palavra, espaço por espaço.
Talvez no fundo Valentina soubesse que estava digitando da forma mais estúpida do mundo, mas… quem liga, não é mesmo? O que importa é que ela estava finalmente terminando o trabalho escolar antes do prazo determinado.
Mas o teclado virtual era lento demais, e Valentina ainda precisava de mais duas páginas para finalizar o trabalho. Ela não ia terminar nunca, e já estava até imaginando como seria o seu futuro como atendente do McDonald’s.
Foi então que teve a ideia mais inusitada de todas: abriu o WhatsApp Web, copiou um espaço vazio de uma conversa com sua mãe e começou a colar esse espaço no texto sempre que necessário.
“Não acredito que estou fazendo isso”, pensou, rindo sozinha, enquanto alternava entre “Ctrl+V” e a digitação do texto.
E aqui, Valentina foi de besta para bestial em poucos segundos.
Na ausência da barra de espaço para produzir um texto, copiar um espaço e usar o “Ctrl+V” o tempo todo não só é mais rápido do que selecionar o elemento no teclado virtual, como é também algo totalmente funcional e eficiente.
E a Valentina, que já tinha decorado o “acompanha refri e bebidas, senhor?” que ela ia usar no futuro, já mudou de ideia e começou a sonhar alto novamente.
Queria ser embaixadora do Brasil nos Estados Unidos. Afinal de contas, alguns imbecis acreditam que basta fazer um hambúrguer para conseguir esse posto…
Cedo demais para fazer essa piada?
Às 23h55, com os olhos ardendo e a sensação de ter vencido uma batalha épica, Valentina terminou o trabalho.
Salvou o arquivo, enviou para o professor e jogou o notebook de lado, exausta. “Barra de espaço, você me deve uma”, sussurrou antes de apagar a luz.
E a barra de espaço respondeu, silenciosamente: “nem ferrando, garota mimada!”.
No dia seguinte, com mais calma e luz do dia, Valentina descobriu que tudo que a barra de espaço precisava era de um pouco de ar comprimido e carinho.
E que ela pare de comer a sagrada batata Ruffles perto do computador enquanto assiste doramas na Netflix.
Moral da história: cuide bem da sua tecla de espaço, pois é quando ela para de funcionar que você sabe o que é uma saudade…