De todas as empresas europeias que ditavam as regras da telefonia móvel global, a Nokia é aquela que tem a trajetória de transformação mais triste e, ao mesmo tempo, inacreditavelmente fracassada.
Até porque a Alcatel escolheu ser uma minúscula dentro do setor, e a Siemens já era muito menor que a Nokia no setor de telefonia móvel duas décadas atrás, o que fez com que sua transição para as tecnologias de redes não fosse tão sentida pelo grande grupo consumidor.
A trajetória da Nokia ao longo das últimas duas décadas é uma autêntica metamorfose. De ícone inquestionável dos celulares clássicos ao atual provedor de infraestruturas de redes 5G, a empresa simboliza a dolorosa transição europeia de protagonista para espectador.
De líder global a uma empresa corporativa e cinza
Seu estande na MWC 2025, decorado com cores fluorescentes para disfarçar o cinza corporativo, representa metaforicamente essa transição: uma tentativa de ressignificar sua identidade em um mercado que não mais a reconhece como líder.
O legado do icônico Nokia 3310, que um dia conectou milhões de pessoas ao redor do mundo, hoje se resume a um capítulo histórico. A empresa, que passou por uma ressurreição quase zumbi sob o comando da HMD, tornou-se invisível para os consumidores.
Sua tentativa fracassada de ressurgir a partir do sentimento de nostalgia dos usuários do passado só confirmou algo que era suspeita para muitos: todos sentem falta da Nokia clássica, aquela que ousava no design, entregava celulares incríveis com bateria de uma semana, e que oferecia produtos para todos os tipos de usuários.
A nova Nokia (via HMD) é uma marca que ninguém se importa, com produtos que são “mais do mesmo”. As gigantes atuais estão consolidadas, e dificilmente teremos espaço para um novo player neste segmento. E quem aparecer vai ter que tentar muito para prosperar.
Como a Nokia sobrevive hoje?
A sobrevivência da Nokia atual depende de serviços B2B e infraestruturas de comunicação, longe do brilho dos holofotes que um dia a consagraram.
Ninguém se importa com a Nokia. A grande maioria não sabe que ela existe em um setor que não alcança ao grande público. E com as decisões recentes da HMD, a icônica marca desapareceu. De novo.
A nostalgia não basta para vender produtos. É preciso convencer o consumidor de que você precisa voltar a este passado, mas recebendo os benefícios do presente. E a Nokia só entregou o “mais do mesmo” nos smartphones da HMD.
A Nokia é, de forma indiscutível, o mais emblemático exemplo de um erro crasso europeu: a ilusão de que liderança presente garante imunidade futura.
Nenhuma hegemonia é eterna no mercado de tecnologia. Todos os impérios caem, mais cedo ou mais tarde.