A Coreia do Sul está testemunhando uma tendência crescente de pais que substituem presentes tradicionais infantis por ações e investimentos financeiros. O fenômeno surge em um contexto de preocupação com a taxa de natalidade no país, que recentemente apresentou sinais positivos após quase uma década de declínio demográfico.
Além de estratégias como oferta de carne premium para novas mães, agora as crianças estão recebendo um presente inusitado: participações em empresas.
O movimento já resultou em mais de 1,2 milhão de contas de investimento para menores no país, demonstrando como o que antes era exclusividade de adultos especialistas agora se expande para o público infantil.
Incentivos fiscais e mudanças de comportamento
Os instrumentos financeiros preferidos dessas famílias incluem ETFs de altos dividendos, fundos que replicam o índice S&P 500 e ações de empresas conhecidas como Samsung Electronics, Tesla, Nvidia e Apple.
A estratégia tem duplo propósito: educar financeiramente e aproveitar vantagens fiscais, já que os pais podem transferir até 20 milhões de won (aproximadamente 14.000 euros) isentos de impostos por criança a cada década, tornando esses mecanismos eficientes para transferência de ativos.
O impacto desta tendência já alcança os adolescentes sul-coreanos, mostrando que a estratégia começa a entregar resultados de médio e longo prazos.
Uma pesquisa da Samsung Securities revelou que 43% dos jovens entre 17 e 19 anos já possuem contas de investimento em seu nome, e 58% planejam investir em ações em um futuro próximo.
O interesse juvenil contrasta com a tradicional falta de alfabetização financeira entre jovens de outros países e evidencia uma reformulação da relação com o dinheiro desde a infância.
Bancos de olho na nova tendência
As instituições financeiras estão atentas a este movimento e desenvolvem estratégias específicas para atrair este público.
Corretoras como Mirae Asset Securities, Samsung Securities e Kiwoom Securities oferecem recompensas financeiras, cartões-presente e comissões reduzidas para menores que abram suas primeiras contas online.
A Kiwoom, que concentra mais de meio milhão dessas contas infantis, criou um canal educacional no YouTube para ensinar finanças básicas de forma didática, buscando consolidar relacionamentos de longo prazo com o mercado financeiro.
Uma transformação sociocultural
O dinheiro deixa de ser um assunto tabu entre pais e filhos na Coreia do Sul, e passa a integrar o diálogo familiar cotidiano.
Dizer a uma criança que ela é acionista da Tesla ou possui uma fração do S&P 500 não apenas a introduz à linguagem do capital, mas aparentemente oferece uma nova forma de compreender seu lugar no mundo econômico.
Em uma sociedade historicamente voltada para a poupança e o esforço educacional, a Coreia do Sul encontra novas formas de adaptar esses valores para o século 21.
O que antes era um envelope com dinheiro agora pode ser uma fração de uma empresa, e o que antes era um brinquedo efêmero se transforma em uma ferramenta de educação financeira.
A infância sul-coreana pode até estar perdendo parte de seu caráter lúdico, mas está muito mais próxima de uma noção mais ampla de planejamento futuro, seguindo a filosofia de que nunca é cedo demais para aprender a investir no próprio futuro.
Via Korea Times