Antes tarde do que mais tarde.
A Microsoft finalmente lançou o Recall, seu principal recurso de inteligência artificial para Windows 11, após um período de desenvolvimento e ajustes. E aqui, volta o pânico de todo mundo que usa o sistema operacional da empresa, por conta do receio de ter a sua privacidade exposta pelo teor da tecnologia.
O Recall existe para rivalizar com um Apple Intelligence que, até o momento, não existe. Ou pelo menos não existe do jeito que a Apple quer ou imaginou que seria.
O recurso da Microsoft fica capturando o tempo todo o conteúdo exibido na tela do usuário para buscas posteriores através de correspondências de texto e imagem, organizadas automaticamente por relevância, facilitando a recuperação de informações visualizadas anteriormente mesmo quando o usuário não se lembra exatamente onde as viu.
E é aqui que está o problema: há quem diga que, na prática, o Recall é um grande bisbilhoteiro, pronto para acabar com a privacidade de qualquer pessoa, que jamais vai saber exatamente o que ele coletou ou não.
Entenda a treta
Originalmente anunciado em maio de 2024, o Recall deveria ter sido disponibilizado simultaneamente com o lançamento dos primeiros computadores Copilot+. Entretanto, seu lançamento precisou ser adiado após receber críticas contundentes relacionadas à segurança de seu design.
Alguns especialistas identificaram vulnerabilidades preocupantes no sistema, que faz capturas de tela regulares, analisa-as usando reconhecimento óptico de caracteres (OCR) e armazena os dados em um banco local.
O problema principal apontado foi que este banco de dados poderia ser facilmente acessado por softwares maliciosos, mesmo sem privilégios administrativos, potencialmente expondo toda a atividade visual do usuário, incluindo dados sensíveis e informações confidenciais.
É quase inacreditável pensar que uma empresa do porte da Microsoft não pensou, em nenhum momento, que tal possibilidade poderia acontecer. Seria mais ou menos o mesmo que o Facebook decidisse salvar as senhas dos seus servidores em um arquivo de texto plano.
Como a Microsoft respondeu as críticas
Em resposta às críticas recebidas, a Microsoft implementou mudanças na funcionalidade do Recall antes de seu lançamento oficial. Uma das principais alterações foi tornar o recurso não habilitado por padrão, exigindo que o usuário opte expressamente por ativá-lo durante a configuração inicial do sistema.
Além disso, foram implementados filtros automáticos para evitar o salvamento de conteúdos sensíveis como senhas e números de cartões de crédito, e o processamento e gerenciamento dos dados agora ocorrem em ambientes isolados usando enclaves seguros (Enclaves VBS), com o acesso ao recurso exigindo autenticação por meio do Windows Hello para maior segurança.
Mesmo com essas melhorias implementadas, a Microsoft reconhece que o Recall ainda está em fase preliminar de desenvolvimento, estando sujeito a alterações e aprimoramentos futuros.
E é a mesma regra para qualquer plataforma de inteligência artificial neste momento: todas estão em fase de treinamento através da coleta de dados. O que deixa todo mundo preocupado é que o Recall faz isso “em modo automático”, e no caso de uma brecha de segurança mais séria, algumas informações mais sensíveis podem parar nas mãos de pessoas não autorizadas, ou com objetivos maliciosos.
E… antes que você comece a reclamar da gigante de Redmond…
A abordagem de lançar recursos de inteligência artificial em estágios iniciais de desenvolvimento não é exclusiva da Microsoft, sendo também adotada pela Apple com seu Apple Intelligence
É uma tendência da indústria em desenvolver e refinar tecnologias de IA para desktop em tempo real, com base no feedback dos usuários e na identificação de possíveis vulnerabilidades.
E tudo de graça. Porque nós somos o produto da maioria das IAs disponíveis no mercado.
Outras novidades com IA no Windows
Além do Recall, a Microsoft também lançou o recurso Click to Do, que apresenta similaridades com o Circle to Search do Google.
Ativado através da combinação da tecla Windows com um clique esquerdo do mouse, o Click to Do permite interações diretas com textos e imagens visualizados na tela, possibilitando desde o resumo de parágrafos até a remoção de objetos em imagens, expandindo significativamente as capacidades de interação dos usuários com o conteúdo em seus dispositivos Windows.
A funcionalidade de pesquisa do Windows também recebeu aprimoramentos com a integração de inteligência artificial, permitindo agora que os usuários realizem buscas utilizando descrições não detalhadas para encontrar resultados.
Dessa forma, está eliminada a necessidade de recordar nomes exatos ou palavras-chave específicas dos arquivos desejados, tornando o processo de busca mais intuitivo e eficiente para os usuários do sistema operacional da Microsoft.
É importante destacar que todos esses novos recursos de inteligência artificial, incluindo o Recall, o Click to Do e a pesquisa aprimorada, estão disponíveis exclusivamente para computadores certificados como PC Copilot+.
Mesmo que um usuário possua um computador com especificações técnicas avançadas, se o dispositivo não contar com esta certificação específica, não será possível acessar estas funcionalidades.
Tal limitação acontece por causa da necessidade de Unidades de Processamento Neural (NPUs) com capacidade mínima de 40 TOPS, essenciais para processar as operações de inteligência artificial localmente e com baixo consumo energético.
Quando as novidades chegam aos computadores?
O processo de distribuição destes novos recursos de IA para Windows 11 teve início com a atualização não relacionada à segurança de abril de 2025.
Para usuários que não participam do programa Windows Insider, estas funcionalidades estarão disponíveis através de uma atualização programada para o final do próximo mês, permitindo gradualmente que mais usuários tenham acesso às novas capacidades de inteligência artificial incorporadas ao sistema operacional da Microsoft.
Via Microsoft