Eu estou preocupado com o Carlos.
Ele é um contador de meia idade que sonhava em viver num mundo sem planilhas. O que, em linguagem humana, significa “aposentadoria antes dos 50 anos”.
Na semana passada, Carlos abriu seu e-mail e encontrou a pior notícia que ele poderia receber como um contador: a Microsoft decidiu brincar de economista e resolveu reajustar os preços do Microsoft 365.
Ao perceber que a próxima fatura do seu cartão de crédito traria um aumento que faria até o Excel travar de desgosto. De R$ 36 para R$ 51 mensais no plano Microsoft 365 Personal. Nada menos que 41,7% de aumento.
Isso não era reajuste. Era assalto à mão armada, mas com planilhas e gráficos de barra como arma do crime.
E o assaltante respondendo pelo nome de Copilot.
Pagar a mais para ser obrigado a ter uma IA
Calma, Carlos!
Se você acha que o Copilot vai lavar sua louça ou pagar as contas pra justificar esse aumento, está redondamente enganado.
A promessa de produtividade da IA parecia boa demais para ser verdade. Afinal, quem não quer que o Word planeje o cardápio da semana, considerando suas preferências alimentares? Ou até mesmo escrever o roteiro de suas férias, ou continuar aquele e-mail mal criado para um cliente.
O problema é que, no caso de Carlos, o cardápio era basicamente “miojo com ovo” cinco vezes por semana. E será que o Excel daria alguma ideia genial para economizar ainda mais dinheiro para comprar aquele PC de ponta que ele tanto sonha?
Talvez sugerisse vender os rins, dado o preço do plano Microsoft 365 Family, que agora saltou de R$ 45 para R$ 60 mensais.
E o plano Family chega a ser uma ironia em forma de software, já que apenas o titular da conta acesso aos recursos de inteligência artificial.
Ou seja, Carlos teria que explicar para sua esposa e filhos que, apesar de pagarem R$ 60 por mês, eles ficariam no século passado enquanto ele aproveitava a mágica do Copilot.
“É quase como comprar uma pizza e não dividir. Eu viro o vilão da casa!”, disse Carlos para a nossa reportagem.
A Microsoft, com certeza, queria acabar com famílias unidas.
Onde o Copilot pode melhorar a sua vida?
Temos alguns exemplos “revolucionários” da integração do Copilot no Microsoft 365.
Criar slides de férias no PowerPoint?
Carlos mal tirava férias, quanto mais queria uma IA para fazer um resumo de “férias no sofá assistindo série”.
Resumo de e-mails no Outlook?
Ele já ignorava todos os e-mails da sogra, então o recurso não fazia sentido.
A única coisa que parecia útil para ele era o OneNote criar uma lista de tarefas, mas como ele nunca as cumpria, até isso era um desperdício.
A grande pergunta que Carlos (e muitos outros usuários do Microsoft 365) estão fazendo neste momento é: por que a obrigatoriedade do Copilot na plataforma?
Não seria mais fácil para a Microsoft oferecer uma alternativa sem a IA com o preço anterior? Ou quer justificar sua existência enfiando goela abaixo de todo mundo e obtendo os lucros pelo aumento de preços?
Duro foi ler a a explicação da Microsoft, de que novos assinantes já pagariam os preços mais altos imediatamente, enquanto os antigos clientes poderiam optar por versões sem Copilot.
A Microsoft ainda tem a cara de pau de chamar de “clássicos” os planos que ele já usava e que, em breve, virariam lembranças do passado.
E para os novos usuários, não há alternativa: o Copilot é item obrigatório no Microsoft 365. E não adianta chorar, pois perder o emprego pode ser pior.
Neste momento, Carlos está remoendo tanto esse aumento, que considera (finalmente) migrar para aquele software gratuito que os amigos sugeriam há anos.
E não falo do Google Docs necessariamente. Tem o Libre Office, que está funcionando muito bem.
Mas aí lembrou da dor de cabeça que seria aprender uma interface nova. E voltou resignado a abrir o Excel para seguir se lamentando diante de uma planilha de dados.
É assim que eles te prendem: com a promessa de produtividade. Mas na verdade, eles te escravizam no conforto do conhecido.
Carlos então decidiu usar o Excel para a criar um gráfico sobre o impacto do aumento no seu orçamento.
SPOILER: a linha só ia pra baixo.
No fim das contas, Carlos decidiu pagar o aumento. Afinal, ele já estava emocionalmente preso ao Office.
Mas a cada mês, quando a fatura do cartão de crédito chegava, ele escrevia uma longa reclamação no Word, em letras garrafais e negrito.
Ironia ou não, ele passou a usar o recurso de resumo do Copilot para transformar seu texto numa frase curta:
“Microsoft, você está me roubando!”