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“Meio Grávida” é filme digno de aborto

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Eu já entendi que a regra da Netflix é lançar “filmes qualquer nota” com nomes famosos no elenco para atrair aos trouxas que acreditam que pode vir uma história minimamente divertida. Porém, me surpreende em como as pessoas se iludem com essa proposta.

“Meio Grávida”, protagonizado por Amy Shumer, é mais um filme de comédia romântica totalmente desconectado da realidade prática, que entra com muita facilidade na lista de filmes (e isso vai virar conteúdo no futuro) da categoria “histórias que simplesmente não precisavam existir”.

Ele não só é ruim. Ele é horroroso. Desnecessário.

É um filme de comédia que não te faz rir. Simples assim.

 

Do que se trata?

“Meio Grávida” conta a história de Lainy (Amy Shumer), mulher comum chegando na casa dos 40 anos, que vive uma vida sozinha e independente em Nova York. Ela até está em um relacionamento que, por si, é fictício, pois na verdade é um jogo de interesses. Mas isso (por enquanto) não afeta a vida de ninguém.

A vida de Lainy começa a desandar quando a sua melhor amiga fica grávida e ela fica com ciúmes disso. Ao mesmo tempo, o cara que ela estava pegando surpreende, dizendo que quer um ménage no lugar de construir família e filhos.

Desiludida, enciumada e frustrada com o mundo (já que ela não tem coragem de olhar para si mesma e enxergar o que está errado com ela e sua vida), Lainy descobre pela observação do coletivo ao seu redor que todo mundo tem empatia por mulheres grávidas.

Para melhorar a sua existência no planeta, Lainy decide então adotar uma barriga falsa e fingir que está grávida para todo mundo, menos é claro para as pessoas que ela conhece.

Caso contrário, o filme acabaria em 15 minutos.

 

Por que “Meio Grávida” é digno de aborto?

Porque – eu insisto – é um filme que não tem motivos para existir.

Lainy segue o padrão de personagem central que se vale da premissa cretina do “errar é humano e todo mundo já fez merda na vida” para optar por atitudes eticamente questionáveis para alcançar seus objetivos, sob o pretexto de sentimentos moralmente baixos. E eu não sei, de verdade, que tipo de referência a Netflix está pegando aqui.

Ou melhor: só posso acreditar que o ser humano, na maioria dos casos, é desse jeito mesmo: erra porque é egoísta a ponto de prejudicar os outros em nome dos seus interesses.

Todas as últimas 10 comédias românticas que vi nas plataformas de streaming contam com a personagem central com o mesmo estereótipo: a pseudo mulher independente, atrapalhada e com comportamento estranho, com códigos morais e éticos questionáveis, cometendo um monte de erros sérios com outras pessoas, mas que passa por sua jornada de arrependimento e redenção para ficar com o seu interesse amoroso no final.

Não existe o “fator surpresa” em nenhum momento. Não existe o plot twist que realmente vai mudar os rumos da história.

Entre a apresentação da personagem central e o início da exibição dos créditos, “Meio Grávida” gasta 1h40 de sua vida com as mesmas coisas que você vê em outras comédias românticas da Netflix, o que deixa o filme irritantemente previsível.

No meio do caminho de tudo isso, temos uma Amy Shumer que se vale das piadas físicas, do humor escatológico e das referências sexuais, confundindo a maior liberdade que as mulheres hoje contam para falar de sexo com uma repetição de referências que, de verdade, não são engraçadas.

Aliás, Amy Shumer, como comediante, é bem fraca (na minha opinião). E é ela a coautora do roteiro desse filme. E isso explica por que eu não dei uma risada sequer em “Meio Grávida”.

Essa Nova York que Shumer escreveu é, no máximo, um bairro residencial. Todo mundo que ela conhece se encontra o tempo todo, o que é muita coincidência para uma cidade com 10 milhões de habitantes.

Sem falar que a população de Nova York desse filme é completamente estúpida e imbecil, pois não perceber que Lainy está mentindo com tudo o que aconteceu no filme é assinar um atestado de idiota.

Dói pensar que uma grana violenta foi gasta em um filme que não é inovador, se repete em uma mecânica de humor que só funcionava na década de 1980 (pois hoje só é considerado algo ridículo) e que não consegue alcançar o seu principal objetivo como obra cinematográfica: ser engraçado.

Colocando em perspectiva, “Meio Grávida” não serve nem para você assistir na Sessão da Tarde. Ele chega a ofender a dignidade feminina em alguns aspectos. Tá, eu até entendo a vontade de rir de tudo e de todos. Mas fazer piada com a yoga para gestantes certamente vai despertar a raiva das pessoas que buscam métodos alternativos para ter um parto saudável.

 

Vale a pena?

Se depois de tudo o que eu escrevi você ainda teve a coragem ou capacidade de fazer essa pergunta, eu digo: volte para a escola, pois você precisa reaprender a interpretar um texto.

Mas como eu sei que nem todo mundo nasceu sabendo nessa vida (ou não possui um QI privilegiado), eu vou te ajudar: não… “Meio Grávida” não vale a pena.

Com 20 minutos de filme, é possível afirmar o que vai acontecer no final. E tudo o que você vê no meio do caminho como a jornada para chegar no final previsível só vai despertar em você a raiva por ter escolhido esse filme.

Com uma hora de história, você só quer desistir. Você reza para acabar, pois é tão cansativo e repetitivo, que se torna uma tortura.

No meu caso, nem tão torturante assim, pois peguei no sono algumas vezes.

“Meio Grávida” exige uma suspensão de descrença tão elevada, que qualquer pessoa com o mínimo de bom senso se sentirá ofendido por algo tão ruim. Esse filme faz “As Panteras: Detonando” ser digno de indicação ao Oscar de Melhor Filme.

Seria mais crível fazer um filme sobre a grávida de Taubaté.

Passe longe de Amy Shumer. Antes que ela te engravide com essa porcaria.


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