Quando você não sabe direito o que fazer com a crise criativa e conceitual em seu estúdio de cinema, você vai para o caminho mais óbvio: a apelação.
Trazer de volta aqueles que ajudaram você a chegar ao top (jogando um caminhão de dinheiro na cara dessas pessoas, obviamente) é a solução mais segura para Kevin Feige, e a Marvel Studios não teve medo de apelar na San Diego Comic-Com 2024.
Gosto disso? Sim… e não.
Mas prefiro lidar com sentimentos agridoce do que assistir a filmes de gosto duvidoso como “As Marvels” e “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”.
Robert Downey Jr. de volta
A maior surpresa do painel da Marvel Studios na Comic-Com 2024 foi o anúncio da volta de Robert Downey Jr. ao MCU.
E a surpresa não está tanto pelo retorno do ator a este universo, algo que todo mundo sabia que iria acontecer. Os pontos aqui estão em como ele volta e quando.
Muitos entendem que colocar o ator como Victor Von Doom (aka Doutor Destino), um dos maiores vilões da Marvel, é um movimento genial. Já outros acreditam que um cartucho precioso foi queimado.
Aqui, é compreensível a escolha da Marvel Studios.
Todas as apostas estavam em Kang, mas Jonathan Majors estragou tudo. Ou seja, o estúdio precisava de uma solução de impacto neste caso.
Nesse sentido, Downey Jr. é a melhor saída, aparentemente. Agora, imagine o quanto de dinheiro que o (agora) oscarizado ator (por Oppenheimer) vai ganhar para aparecer em “Quarteto Fantástico”, “Vingadores: Doomsday” (ou “Vingadores: Dia do Juízo Final”, em livre tradução) e “Vingadores: Guerras Secretas”.
Alías, o simples fato que “Quarteto Fantástico” ser ambientado na década de 1960 em um universo alternativo já cria o cenário perfeito para a volta de Downey Jr. como Van Doom.
Convenhamos: é uma cara apelação para a Disney. Mas… como o Mickey está cobrando o nosso rim de mensalidade no Disney+, entendo que dinheiro não é problema para a Marvel Studios neste momento.
Não era o retorno do jeito que eu esperava. Mas é um retorno. Vou ter que lidar com isso, mas não é uma missão tão impossível.
E agora? O que acontece com Kang?
Já era. Adeus pro Kang.
O que é uma pena, na minha opinião.
Era um personagem com enorme potencial, e que estava diretamente alinhado com o conceito de multiverso.
Porém, as coisas saíram do controle na Marvel Studios. E, parando para pensar, a culpa não é exclusivamente de Majors.
A própria Marvel tomou decisões criativas controversas para o personagem. Como, por exemplo, ser derrotado por um homem que encolhe e um exército de formigas.
Esse mesmo homem, que pode conquistar linhas temporais inteiras e que foi tão foda em Loki… foi derrotado pelo Paul Rudd.
Nada contra o Paul Rudd, mas… convenhamos… acabaram com o fator “esse cara é realmente uma grande ameaça” com essa decisão.
Kang teve uma “conclusão” de sua história em Loki, e para a grande maioria que passou longe da série, nem será necessário tomar conhecimento de tudo o que aconteceu por lá.
Basta pensar que o Deus da Trapaça está mantendo as linhas temporais sob controle, derrotando Kang (ou a versão alternativa que controlava este universo).
E as demais versões de Kang serão controladas pela AVT… se o departamento de Recursos Humanos da entidade passar a funcionar daqui pra frente.
A volta dos Irmãos Russo
Outra apelação de Kevin Feige que chega a ser constrangedora, e para todos os envolvidos.
Anthony e Joe Russo afirmaram publicamente que não voltariam a dirigir filmes para a Marvel Studios, e que “Vingadores: Ultimato” era a obra definitiva da dupla neste universo.
Porém, os diretores não tiveram vida muito fácil fora da Marvel, com três fracassos consecutivos nos projetos subsequentes.
Então, nada melhor para os irmãos Russo que receber uma tonelada de dinheiro e voltar para a Marvel Studios como verdadeiros heróis.
E para Kevin Feige, é constrangedor por não encontrar dentro das propostas criativas que já estão na Marvel Studios algo que preste para contar a história de Guerras Secretas.
Nem o time criativo de Loki, nem o diretor de “Deadpool & Wolverine”… nada. Teve que voltar para a dupla que concebeu os maiores sucessos da Marvel Studios.
A guinada dos Vingadores
Há quem diga que as Guerras Secretas serão divididas em dois filmes, algo que começa a perder sentido com a chegada dos Irmãos Russo.
Não sei se a Marvel Studios vai querer “esticar a corda” de todo mundo desse jeito. Tudo vai depender da quantia de dinheiro que Vingadores 5 (agora, “Vingadores: Doomsday”) vai arrecadar nas bilheterias.
Antes de tudo isso, o Doutor Destino será apresentado em “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, título final do filme que será dirigido por Matt Shakman, o “pobre coitado” que terá que se virar a partir de agora para contar uma história coerente com os fatos apresentados ontem na Comic-Com 2024.
Vou explicar meu ponto.
Como Shakman vai lidar com o fato de que agora tem um Galactus nas mãos dividindo o protagonismo narrativo com o Doutor Destino?
Como lidar com dois vilões tão pesados?
E no meio do caminho disso tudo, temos “Capitão América: Bravo Mundo Novo” e “Thunderbolts”, que quase viraram “esquecidos no churrasco da vida”, que vão estrear em 2025 e, de alguma forma, terão que se encaixar nessa narrativa maior que acabou de ser projetada para 2026 e 2027.
Em algum momento, de alguma forma, os Vingadores terão que se formar nos filmes que estão anunciados. E serão poucos filmes para construir essa narrativa, diferente da Saga do Infinito, que teve pelo menos cinco ou seis filmes para a equipe inicial se formar.
A boa notícia para todos nós e que, a partir de agora, vamos testemunhar uma grande revolução na Marvel Studios. Mudanças necessárias, mesmo que seja para o lugar seguro.
E eu sinto que não posso reclamar muito, mesmo com o gosto agridoce na boca.
Poderia ser o Denzel Washington como Kang e seguir com os planos. Podia até mesmo trazer o Tony Stark de volta como Victor Von Doom.
Mas provavelmente Denzel disse NÃO, e este é o cenário que temos hoje.
E no final das contas, o Deadpool não é o Jesus da Marvel Studios.
Sempre foi o Homem de Ferro.